SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O que é mais difícil do que fazer cinema no Brasil? Fazer cinema no Brasil com auxílio da Internet. E já há pelo menos três grupos de loucos tentando a sorte.
Um deles é o Brothers in Pictures (www.bipix.com.br), dos irmãos Diogo e Vinicius Mainardi, que preparam o longa "Mater Dei", com a atriz Carolina Ferraz, para lançar pela rede.
Outro é o pessoal de "Cama de Gato" (www.camadegato.com.br), dirigido por Alexandre Stockler, que lançou o oportuno manifesto "Trauma".
E ainda o veterano Clóvis Vieira, autor de "Cassiopeia", o primeiro filme brasileiro produzido inteiramente por computador, que elabora seu longa, "O Segredo de Galileo", utilizando a rede (www.cassiopeia.com.br).
Nenhum dos filmes está pronto ainda. Leia a seguir a entrevista que fiz com um dos pioneiros, o escritor Diogo Mainardi.

Por que fazer cinema no Brasil? Vocês são loucos, perderam aposta ou gostam de sofrer?
A pergunta vale mais ou menos para tudo: por que fazer literatura no Brasil? Por que votar no Brasil? Por que ir à praia no Brasil? Por que comer amendoim torrado no Brasil? Por que morar no Brasil? Só soube responder à última, fazendo a mala e puxando o carro.

De onde a idéia de usar a Internet nos processos do filme?
A idéia inicial era ir mais longe: até uma parte do casting seria feita on line. Em teoria, isso evitaria os intermediários, barateando custos e agilizando o processo de filmagem. Mas o site atrasou. Neste momento, meu irmão está terminando a montagem da versão cinematográfica. Depois vai montar a versão para a Internet.
São dois filmes: o primeiro tem linguagem rígida, predefinida, com grandes planos abertos; o segundo desfruta os recursos da Internet, com inúmeros ângulos em cada cena, sobreposições temporais e interferências externas.

Como vão fazer para ganhar dinheiro com as duas atividades menos lucrativas no Brasil hoje?
Num mundo voltado para o sucesso, menospreza-se a capacidade de perder dinheiro. Mas garanto que criar tantos rombos financeiros quanto nós exige um certo talento. Sempre que ganhamos x, jogamos 2x pela janela.
Nossa única esperança seria dar um golpe num irresponsável, mas o único irresponsável que investe em cinema é o governo, e do governo não aceitamos nada. A Internet também está cheia de irresponsáveis, mas os irresponsáveis, no caso, somos nós.

Em "Mater Dei", vai ter gente falando "Te amo, porra!", marca registrada do cinema nacional?
Não, não tem. E também não tem mulherada pelada. Nossa atriz protagonista é a fantástica Carolina Ferraz. Somos tão burros que não inventamos uma maldita cena em que ela tirasse a roupa. Pior: ela passa o filme inteiro grávida.

Depois de "Mater Dei", o quê?
Pensamos em usar o site para produzir os filmetes da molecada internauta. Estamos começando a perceber, porém, que a interatividade é um dos maiores mitos da Internet. A qualidade do material que chega até nós, com algumas exceções, é bastante ruim.
Então, vamos nos dedicar aos nossos projetos. Há a possibilidade de fazermos uma sitcom para a Internet. Depois, vamos rodar um longa baseado no meu último livro, "Contra o Brasil". Isso se não falirmos no mês que vem.