Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
25ª MOSTRA BR DE CINEMA DE SÃO PAULO
"DIAS DE CÃO"
Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Veneza este ano, longa marca estréia do diretor austríaco na ficção
O calor chega à Viena de Ulrich Seidl
JOSÉ ROCHA M. FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM VIENA
Os chamados dias de cão em
Viena são de fato insuportáveis: o
ar fica seco e a temperatura pode
chegar até 38 graus. É num fim de
semana desse período que seis
histórias se entrecruzam. Foi com
esse mote que o austríaco Ulrich
Seidl, 49, tomou de assalto o Festival de Veneza deste ano, recebendo o Grande Prêmio do Júri por
seu primeiro filme de ficção,
"Dias de Cão" ("Hundstage").
Com formação de documentarista, Seidl vem despertando as
mais acaloradas opiniões desde
"Good News" (1990).
O diretor falou à Folha sobre
seu método e a atual política do
governo austríaco para o cinema.
Folha - Em "Amor Animal" (1995),
a mistura de atores profissionais e
leigos, ficção e documentário é surpreendente. Como o sr. desenvolve
esse estilo em "Dias de Cão"?
Ulrich Seidl - "Dias de Cão" é
meu primeiro filme de ficção, feito parcialmente com método documental. A diferença é que nele
os atores e os não-atores não interpretam a si mesmos.
Folha - Qual seria a parcela de influência dos documentários?
Seidl - Não estabeleço uma diferença entre documentário e ficção. Comecei a fazer documentários porque eram mais fáceis de
serem financiados. Mas o limite
entre a atuação e entre o documental é meu maior interesse.
Folha - O material coletado para o
roteiro veio de seu acervo pessoal.
Como foi vertido para o cinema?
Seidl - Essa espécie de arquivo já
me acompanha há anos. Coloco
numa pasta reportagens que me
despertem interesse, anotações
pessoais, fotos e lembranças.
Folha - Em "Dias de Cão" o corpo
recebe um olhar brutal. Como descreveria essa política do corpo?
Seidl - Meus filmes não mostram beleza, mas corpos como
eles são: pessoas idosas desnudas,
assim como os jovens.
Folha - A dor é um tema frequente. Estaríamos diante de um "cinema da dor"?
Seidl - Para mim, o cinema vai
além do prazer frugal e passageiro. Não se trata do limite ao que se
pode submeter o espectador, mas
do quanto de realidade é precisa
ser para contar uma história. Mas
meus filmes podem ser engraçados, sob determinado aspecto.
Folha - Como o sr. analisaria a
atual política do governo austríaco
em relação ao cinema?
Seidl - É paradoxal... O governo
austríaco cortou o orçamento do
cinema quase a zero, embora fale-se da Áustria como um país que
incentiva a cultura. Mesmo assim,
o cinema austríaco está sendo
bem-sucedido como nunca foi
nos últimos 30 anos.
José Rocha M. Filho é jornalista e doutorando em estética fílmica na Universidade de Viena
Texto Anterior: "Carrego Comigo": Gêmeos discutem identidade Próximo Texto: Crítica: Austríaco força o corpo em ludismo cruel Índice
|