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MÚSICA/LANÇAMENTO
"AU RÊVE"
Segundo disco dos franceses é lançado e reforça poder da música do país
Dupla Cassius tira prova dos nove com novo álbum
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
O segundo disco da dupla francesa de house Cassius, "Au Rêve",
que chega agora ao Brasil, tem dura missão pela frente. Primeiro
para a própria dupla, que tenta
corresponder às expectativas depois da badaladíssima estréia com
"1999". O segundo desafio é mais
amplo e ganha ares de defesa da
autonomia cultural da França.
Os anos 90 foram uma década
de ouro para o país, que viveu
uma espécie de renascimento cultural no período. Não há como
não citar a conquista da Copa do
Mundo de 1998. A vitória de Zidane e companhia vinha de embalo
com uma onda ainda mais poderosa, o resgate da música eletrônica local. Se para o restante do
mundo as últimas lembranças da
música pop do país vinham de
Serge Gainsbourg (1928-1991) ou
Jean-Michel Jarre, localmente
uma cena que extrapolaria fronteiras começava a tomar forma.
O ano de 1997 marcaria o início
da chamada invasão francesa. O
"ataque" vinha de uma tríade formada pelas duplas Daft Punk, Air
e Cassius. Até então invisível para
o mundo e considerada uma simples cópia brega do que era feito
na Europa, a França ganhava respeito com "Homework", estréia
do Daft Punk. No ano seguinte
(1998), outra dupla eletrônica, o
Air, com música não voltada para
pistas de dança, tornava-se a ponta de lança do pop-retrô futurista.
Não demorou muito para que a
dupla Cassius tentasse ganhar o
título de banda francesa de 1999.
Não por mero acaso seu CD de estréia chama-se "1999".
Três anos se passaram. A seleção francesa protagoniza um dos
maiores vexames da história do
futebol na Copa de 2002 e Daft
Punk e Air têm segundos álbuns
que dividiram a crítica.
Agora é a vez da prova dos nove
para o Cassius. Com "Au Rêve"
(Em Sonhos), o Cassius deixa claro que três anos é tempo muito
longo na música pop. Glórias passadas? Uma audição atenta do
disco mostra que a dupla preferiu
deixá-las para trás e partir para
novos caminhos.
Chamado de oportunista em
1999, o duo tem quase 15 anos dedicados à música. Os produtores e
DJs Philippe Zdar e Hubert Blanc-Francard (ou Boombass), que formam o Cassius, colocaram o dedo
em alguns dos mais importantes
projetos musicais para consumo
local. Boombass produziu discos
para o rapper francês MC Solaar;
Zdar lançou um disco de house/
funk com o nome de Motorbass.
A dupla chegou também a se lançar como La Funk Mob e L'Homme qui Valait Trois Millards, antes de adotar definitivamente o
nome Cassius em 1998, em homenagem ao pugilista Cassius Clay.
No novo trabalho, a dupla quase
aposenta o sample (há praticamente apenas um de Al Green em
"Under Influence") preferindo
músicos "de verdade", escreve a
maioria das letras e opta por sonoridades voltadas não apenas
para pistas, que davam um certo
clima de house "farofeira" a
"1999". Como resultado, o disco
ganha ares de trabalho de banda.
A participação de grandes vocalistas como Jocelyn Brown ("I'm a
Woman"), Steve Edwards ("The
Sound of Violence") e Ghostface
Killah, rapper do Wu-Tang Clan
("Thrilla"), serve para confirmar
a nova faceta do Cassius.
Enquanto no primeiro disco o
hip hop e o funk dominavam, em
"Au Rêve" o soul é o elemento
que mais se destaca. Há até breves
passeios pelo electro ("Telephone
Love...") e rock. Na faixa de trabalho "I'm a Woman", uma inusitada introdução de guitarra lembra
as bandas de heavy metal de butique dos anos 80.
Na França de 2002 dos sonhos
do Cassius, a busca pela sobrevivência e garantia da posteridade
artística é incessante. E, oportunista ou não, segue uma onda da
música eletrônica que aposta na
"humanização". Moby e Miss Kittin já entenderam o recado; Cassius chega atrasado, mas não perde o bonde.
AU RÊVE - artista: Cassius. Lançamento:
Virgin. Quanto: R$ 25, em média.
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