DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir trechos da entrevista de Joe Sacco à Folha por ocasião do lançamento de sua reportagem em quadrinhos "Palestina: Na Faixa de Gaza". (DA)
 

Folha - HQs são algo essencialmente subjetivo. Você acredita que a ficção ou uma visão pessoal sobre um assunto possam ser mais honestas com a realidade do que as agências internacionais ou os livros de história?
Joe Sacco - Eu não ficcionalizo em cima do que vejo ou escuto. Naturalmente eu interpreto as histórias das pessoas, mas não quer dizer que invento as suas palavras. Eu prefiro a abordagem pessoal. Quero que o leitor saiba que está olhando para os palestinos através dos meus olhos. Chego à região com meus próprios preconceitos e acho honesto que o leitor saiba disso. Não pretendo ser imparcial ou sabe-tudo. Estou lá para aprender.

Folha - A série "Palestina" foi publicada nos anos 90. Você voltou a Israel depois disso? O que mudou?
Sacco - Sim, voltei inúmeras vezes. As coisas estão muito piores agora do que em 1991-1992. A escala de força usada pelos israelenses e os terríveis atentados sucididas empurraram o confronto a uma esfera ainda mais mortal. O número de assentados dobrou e agora os israelenses estão construindo um muro no lado ocidental que está sendo divulgado como medida de segurança, mas que é essencialmente um roubo de terras descarado.

Folha - Você acredita que o seu livro tenha efetivamente algum papel para mudar algo na questão israelo-palestina?
Sacco -Não tenho a intenção de que ele mude nada por si só. Há outros escritores, artistas e cineastas igualmente apaixonados por essa questão, e alguém pode esperar que o nosso trabalho junto, como um conjunto de afirmações, irá mudar a cabeça de algumas pessoas. Mas é a política que tem que mudar, não apenas as cabeças das pessoas.

Folha - O Iraque também está sob ocupação. Você vê a possibilidade de um novo livro aí?
Sacco - Como disse, estou trabalhando em outro livro sobre os palestinos. Não planejo fazer nada sobre o Iraque por enquanto. Não apóio os ataques americanos ao Iraque, mas estou satisfeito que Saddam Hussein tenha perdido o seu poder. Ele me enoja.