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CLOSE UP Entrevista
A 'noviça rebelde' do pop
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Quem for à pista de atletismo do
Ibirapuera hoje à noite deve presenciar a seguinte cena: vestindo
uma camiseta sumária, com o umbigo e a barriga malhada à mostra,
muito "pancake", delineador e
madeixas oxigenadas, Gwen Stefani, do No Doubt, sobe no palco e
grita "fuck you, I'm a girl" (foda-se, sou uma garota).
Mas nem tudo é o que parece. Essa californiana de 28 anos é considerada a "anti-Courtney Love" do
mundo pop, no pior sentido do
termo. Por trás da frase em princípio desafiadora, está uma garota
assumidamente boazinha, que
considera a personagem Maria
(Julie Andrews), de "A Noviça Rebelde", um modelo de mulher.
Como a da noviça no filme, a fala
de Gwen é um retrato de candura,
bem próximo à idealização da infância em que a rebeldia consiste
de pequenas travessuras bem-intencionadas. E foi puramente por
boas intenções que ela incluiu o
palavrão no repertório que apresenta no palco.
"Fiquei preocupada que as pessoas pensassem que eu realmente
quisesse dizer que sou apenas uma
garota, disponível. Durante alguns
shows, rapazes não entenderam
que se trata de uma canção sarcástica e começaram a falar coisas do
tipo 'mostre suas tetas'", afirmou
à Folha, em entrevista por telefone, da Califórnia.
Gwen virou estrela nos Estados
Unidos cantando "Just a Girl",
mas, no resto do mundo, chegou
primeiro com a balada "Don't
Speak", em que fala das agruras
sofridas após sua separação de
Tony Kanal, baixista da banda e
seu namorado durante anos.
Seu relacionamento amoroso dá
o tom à maioria das composições
de "Tragic Kingdom", álbum que
demorou quase um ano para chegar ao primeiro lugar das paradas
norte-americanas.
De namorado novo -o cantor
Gavin Rossdale, do Bush-, Gwen
conta que já compôs pelos menos
sete novas canções, desta vez, falando de experiências sentimentais mais felizes. A seguir, trechos
da entrevista.
Folha - Como você define os temas de suas músicas?
Gwen - As composições de
"Tragic Kingdom" foram tiradas
da minha vida e o grande tema nelas é o fim do meu relacionamento.
Começou a ficar até meio chato,
mas era o que estava na minha cabeça e no meu coração.
Folha - Após dois anos, sobre o
que você quer escrever?
Gwen - Agora que viajamos ao
redor do mundo e tivemos muito
sucesso, minha vida mudou e isso
provavelmente vai influenciar
bastante o próximo disco. Na verdade, compus sete novas músicas e
elas são também, em boa parte, sobre relacionamentos.
Folha - Você já foi chamada de
"anti-Courtney Love". Gwen Stefani é uma garota boazinha?
Gwen - No todo, definitivamente sou uma garota boazinha.
Cresci numa família católica e tive
uma boa criação, estou satisfeita
com ela. Tento ser uma garota
boazinha, esse é meu objetivo, não
quero ser má.
Folha - Você se sente em oposição à atitude da maioria das novas
cantoras dos EUA?
Gwen - Comecei numa banda
aos 17 anos em Orange County,
que é fora de Los Angeles. Vi uma
grande mudança nesse tempo,
mesmo nos últimos quatro anos,
com as mulheres tomando a frente
e sendo levadas mais a sério. Tocávamos em festivais com bandas
punk, só de homens, e era difícil
competir. Mas descobri há muito
tempo que deveria ser eu mesma e
não me preocupar em ser a "mina
durona". Sou durona em alguns
aspectos, mas sou também uma
garota, cresci brincando com Barbies e gosto de batom e maquiagem. Tenho um lado feminino e
não tenho vergonha disso.
Para mim, o feminismo nos anos
90 não é estar contra os homens. É
ser levada a sério, como igual, e
não apenas um tipo de brinquedo
sexual ou uma boneca para admirar. Acho que queremos tudo, e
não há nada de errado com isso.
Folha - Você considera ter duas
personas, uma no palco, que diz
palavrões, e outra fora dele?
Gwen - As pessoas dizem que
há dois lados de mim. Não acho.
"Just a Girl" foi escrita como um
reflexo de algumas experiências.
Quando eu queria ir ao banheiro,
sentia como se precisasse de alguém para me acompanhar, porque poderia haver algum perigo.
Há coisas que só garotas têm de se
preocupar, isso inspirou a música.
O palavrão apareceu porque fiquei
preocupada que as pessoas pensassem que eu realmente quisesse
dizer que sou apenas uma garota,
disponível. Durante alguns shows,
rapazes não entenderam que se
trata de uma canção sarcástica e
começaram a falar coisas do tipo
"mostre suas tetas".
Folha - Isso aconteceu muito?
Gwen - Por um tempo, principalmente nos festivais. Tocando
ao vivo, você descobre algumas
coisas que funcionam. E incluir a
frase foi uma maneira de resolver.
Não é algo para ter vergonha.
Folha - Você mora com seus pais?
Gwen - Na verdade, eles acabaram de me despejar (risos). Quando cheguei, todas as minhas coisas
estavam na garagem, prontas para
a mudança. Estou procurando
uma casa para mim.
Folha - Quem é a mulher pública
que você mais admira?
Gwen - Uma das minhas maiores influências é Julie Andrews em
"A Noviça Rebelde". Ela é linda,
tem uma voz maravilhosa. Assisti
ao filme quando criança e isso me
influenciou. Quero conhecê-la, ela
é, definitivamente, minha heroína.
Folha - Ela tem essa aura de...
Gwen - Bondade? Sim! Ela é tão
pura, esse é o papel que ela sempre
interpreta.
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