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MÚSICA
O artista gaúcho muda de nome e lança CD
Jupiter cria bossa futurista em inglês
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
A viagem no espaço-tempo
prossegue. O gaúcho Júpiter Maçã, 31, se transforma num duplo
denominado Jupiter Apple para
lançar seu segundo álbum solo,
"Plastic Soda", todo em inglês e
fundado em referências como
bossa nova brasileira dos 50/60,
psicodelia anglo-americana dos
60/70, rock/tropicalismo de 68,
melodia francesa de qualquer
ano, pop espacial do final dos 90.
Ex-integrante das bandas gaúchas de rock dos 80 TNT e Cascavelettes e convertido nos 90 a roqueiro psicodélico, ele explica como o psicopop entre Mutantes,
Syd Barrett (do primeiro Pink
Floyd) e o Roberto Carlos jovem
guarda do CD anterior, "A Sétima
Efervescência" (96), evoluiu para
as formas de "Plastic Soda": "Fiquei sacando Sergio Mendes, João
Gilberto, Nina Simone. O disco
anterior tinha uma psicodelia um
pouco deslumbrada, foi um período da minha vida. A bossa e o
jazz aparecem como abordagens
mais maduras sobre minha própria obra. Não abandonei Ray
Davies e Mutantes, mas estou
mais jazz, mais bossa".
Como o anterior, "Plastic Soda"
foi feito com recursos próprios
-a gravadora Trama o adquiriu
em esquema de licenciamento,
que deve lhe dar a oportunidade,
pela primeira vez, de contar com
uma distribuição nacional considerável (a Universal chegou a adquirir "A Sétima Efervescência",
mas pouco fez por ele).
""Plastic Soda" foi feito com
pouca grana e, modéstia à parte,
muita criatividade. Não é uma superprodução, mas é um supersom", define o artista.
Foi buscar esmero em detalhes
como a voz. "Houve um aprimoramento vocal, confesso. Estou
cantando melhor. Posso pensar
em Chet Baker, ou em Caetano
Veloso cantando em inglês. É um
disco intimista, embora eu dobre
muitas vozes, às vezes parecendo
dois caras, ou uma garota". Ou (e
aqui se refere não só aos vocais):
"Continuo adorando a fase soul
de Roberto Carlos, mas nesse disco ele foi substituído por Brigitte
Bardot e Françoise Hardy".
Jupiter, que executa todos os
vocais e quase todos os instrumentos do disco, explica a adoção
do inglês em "Plastic Soda": "É
como dizer tu ou você, yes ou
yeah. Morando em São Paulo, estou usando o você, não estou
usando o tu. É uma "desregionalização". O esperanto não colou,
acabou sendo o inglês. Italianos,
alemães e japoneses cantam em
inglês, é um projeto de comunhão. Mas adoro escrever em
português, e não vou parar".
Uma possível razão a mais pelo
idioma se esconde num desvio:
"Há o interesse de alguns selos lá
de fora, estamos conversando".
Seus interesses são internacionalistas/passadistas, parece. Se
entrega, a certa altura: "Em 1999,
eu queria fazer o "Revolver" (álbum de 1966 dos Beatles) do ano
2000. Aí chegam o tecno, a bossa,
o britpop contemporâneo e o dos
anos 60. Sou meio Brian Wilson,
meio Paul McCartney, gosto do
desafio. Eu precisava, era o que eu
queria fazer. E consegui". "Consegui para mim, não sei se os outros
vão achar", explica.
É retrógrado, então, o projeto?
"Não. Pizzicato Five e Air fazem
isso. Se você quer falar sobre "o
novo", sou obrigado a quase parecer pedante, mas "Plastic Soda" é o
novo." Mais? "Não quero ser o
dono da cocada, mas o disco é
sensacional".
É pouco? No quadro ao lado, Júpiter/Jupiter, com sua linguagem
delirante de frases às vezes soltas,
tenta explicar -ou complicar-
as 13 faixas de "Plastic Soda".
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