São Paulo, Quarta-feira, 01 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA
O artista gaúcho muda de nome e lança CD
Jupiter cria bossa futurista em inglês

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

A viagem no espaço-tempo prossegue. O gaúcho Júpiter Maçã, 31, se transforma num duplo denominado Jupiter Apple para lançar seu segundo álbum solo, "Plastic Soda", todo em inglês e fundado em referências como bossa nova brasileira dos 50/60, psicodelia anglo-americana dos 60/70, rock/tropicalismo de 68, melodia francesa de qualquer ano, pop espacial do final dos 90.
Ex-integrante das bandas gaúchas de rock dos 80 TNT e Cascavelettes e convertido nos 90 a roqueiro psicodélico, ele explica como o psicopop entre Mutantes, Syd Barrett (do primeiro Pink Floyd) e o Roberto Carlos jovem guarda do CD anterior, "A Sétima Efervescência" (96), evoluiu para as formas de "Plastic Soda": "Fiquei sacando Sergio Mendes, João Gilberto, Nina Simone. O disco anterior tinha uma psicodelia um pouco deslumbrada, foi um período da minha vida. A bossa e o jazz aparecem como abordagens mais maduras sobre minha própria obra. Não abandonei Ray Davies e Mutantes, mas estou mais jazz, mais bossa".
Como o anterior, "Plastic Soda" foi feito com recursos próprios -a gravadora Trama o adquiriu em esquema de licenciamento, que deve lhe dar a oportunidade, pela primeira vez, de contar com uma distribuição nacional considerável (a Universal chegou a adquirir "A Sétima Efervescência", mas pouco fez por ele).
""Plastic Soda" foi feito com pouca grana e, modéstia à parte, muita criatividade. Não é uma superprodução, mas é um supersom", define o artista.
Foi buscar esmero em detalhes como a voz. "Houve um aprimoramento vocal, confesso. Estou cantando melhor. Posso pensar em Chet Baker, ou em Caetano Veloso cantando em inglês. É um disco intimista, embora eu dobre muitas vozes, às vezes parecendo dois caras, ou uma garota". Ou (e aqui se refere não só aos vocais): "Continuo adorando a fase soul de Roberto Carlos, mas nesse disco ele foi substituído por Brigitte Bardot e Françoise Hardy".
Jupiter, que executa todos os vocais e quase todos os instrumentos do disco, explica a adoção do inglês em "Plastic Soda": "É como dizer tu ou você, yes ou yeah. Morando em São Paulo, estou usando o você, não estou usando o tu. É uma "desregionalização". O esperanto não colou, acabou sendo o inglês. Italianos, alemães e japoneses cantam em inglês, é um projeto de comunhão. Mas adoro escrever em português, e não vou parar".
Uma possível razão a mais pelo idioma se esconde num desvio: "Há o interesse de alguns selos lá de fora, estamos conversando".
Seus interesses são internacionalistas/passadistas, parece. Se entrega, a certa altura: "Em 1999, eu queria fazer o "Revolver" (álbum de 1966 dos Beatles) do ano 2000. Aí chegam o tecno, a bossa, o britpop contemporâneo e o dos anos 60. Sou meio Brian Wilson, meio Paul McCartney, gosto do desafio. Eu precisava, era o que eu queria fazer. E consegui". "Consegui para mim, não sei se os outros vão achar", explica.
É retrógrado, então, o projeto? "Não. Pizzicato Five e Air fazem isso. Se você quer falar sobre "o novo", sou obrigado a quase parecer pedante, mas "Plastic Soda" é o novo." Mais? "Não quero ser o dono da cocada, mas o disco é sensacional".
É pouco? No quadro ao lado, Júpiter/Jupiter, com sua linguagem delirante de frases às vezes soltas, tenta explicar -ou complicar- as 13 faixas de "Plastic Soda".


Texto Anterior: Da Rua - Fernando Bonassi: O historiador (para Augusto dos Anjos)
Próximo Texto: O CD segundo o autor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.