São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2001

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Antonio Candido

Perto do Coração Selvagem
(16/07/44)

"Quanto mais não valesse, o livro da sra. Clarice Lispector valeria essa tentativa, e é como tal que devemos julgá-lo, porque nele a realização é nitidamente inferior ao propósito. Original não sei até que ponto o será. A crítica de influências me mete certo medo, pelo que tem de difícil e, sobretudo, de relativa e pouco concludente. Em relação a Perto do Coração Selvagem, se deixarmos de lado as possíveis fontes estrangeiras de inspiração, permanece o fato de que, dentro de nossa literatura, é uma performance da melhor qualidade.
A autora -ao que parece uma jovem estreante- colocou seriamente o problema do estilo e da expressão. Sobretudo desta. Sentiu que existe uma certa densidade afetiva e intelectual que não é possível exprimir se não procurarmos quebrar os quadros da rotina e criar imagens novas, novos torneios, associações diferentes das comuns e mais fundamente sentidas. A descoberta do cotidiano é uma aventura sempre possível, e o seu milagre uma transfiguração que abre caminhos para mundos novos."


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