São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2001

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LIVRO/LANÇAMENTO

"TEMPO DOS FLAMENGOS"

Obra de José Antônio Gonsalves de Mello é editada em versão corrigida no Brasil e na Holanda

Estudo revisa ocupação holandesa no país

Reprodução
Vista da cidade de Olinda (PE), paisagens do pintor holandês Frans Post (1612-1680), um dos artistas que participaram da ocupação holandesa no Brasil


XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto algumas animadas rodas lamentam, ainda hoje, no Pernambuco do século 21, o triunfo português sobre os batavos, Brasil e Holanda celebram, finalmente, um "muito prazer" que vai além do frufru da efeméride dos 500 anos.
Na última quarta-feira, na sede da embaixada brasileira em Haia, foi lançado em holandês o livro "Tempo dos Flamengos", do pernambucano José Antônio Gonsalves de Mello, 85, considerado o mais importante historiador do país no assunto.
Com o título "De Nederlanders in Brazilië", o volume que havia sido lançado no Rio, pela José Olympio, em 1947, e reeditado pela Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, chega aos holandeses com o selo da editora Walburg Pers, com apoio do governo do Brasil, via Ministério da Cultura.
É a primeira vez que os holandeses tomarão conhecimento, por narrativa brasileira, do que os seus antepassados aprontaram por estas plagas. Ao mesmo tempo, os brasileiros terão uma nova edição, ainda este mês, de "Tempo dos Flamengos", com correções feitas pelos holandeses.
Segundo os editores dos dois países, os erros foram provocados por falhas nas transcrições dos arquivos da Holanda. A revista "Continente Multicultural", do Recife, antecipou, no primeiro semestre deste ano, os deslizes cometidos.
O responsável pelo reencontro de brasileiros e holandeses é o pesquisador Marcos Galindo, professor de ciência da informação da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), coordenador do Projeto Ultramar, que trata da história da presença européia em terras brasileiras.
Desde 1998, com apoio do Instituto Arqueológio, Histórico e Geográfico de Pernambuco, Galindo fuça arquivos europeus, sobretudo holandeses, em busca de novos dados sobre a presença holandesa no Nordeste do Brasil (1630-1654).
Seu negócio é tornar público, inicialmente via internet, o máximo possível de documentos encontrados nas suas andanças. Uma balaio de informação já está disponível no site do projeto: www.cac.ufpe.br/ultramar.
Na opinião do pesquisador pernambucano, o autor de "Tempo dos Flamengos" não pode ser culpado pelos deslizes. "Os erros se originaram do descompasso entre aquilo que escutavam os holandeses e a forma como eles grafavam (no holandês) os sons produzidos por portugueses e índios", disse à Folha.
A versão inicial do livro clássico sobre os holandeses no Brasil mostrava, por exemplo, que os batavos haviam sido orientados, em expedição pelo Rio Grande do Norte, por um guia judeu. Na realidade, segundo Galindo, o orientador dos estrangeiros foi um índio paraupava.
"Já estávamos com o livro na gráfica quando fomos avisados dessas correções históricas importantes", disse José Mário Pereira, editor da Topbooks, que relança este mês "Tempo dos Flamengos", depois de longo período de sobrevida do livro apenas nos sebos do Brasil.
A primeira versão para o holandês foi feita por Germand Visser, em 1956, mas nenhuma editora daquele país apostou no livro. Agora, o trabalho de Visser passou por uma segunda mão, do tradutor Benjamin Teensma.
Muitos países colonizados mostraram, tempos depois, que o Nordeste poderia não se tornar um paraíso com o triunfo holandês. A síndrome de Maurício de Nassau, no entanto, que chegou a Pernambuco com uma caravana de artistas, como Frans Post, e conceitos modernos, como a liberdade de culto, permanece até hoje em animadas rodas de discussões.


TEMPO DOS FLAMENGOS - de: José Antônio Gonsalves de Mello. Editora: Topbooks (tel. 0/xx/21/2233-8718, www.editoratopbooks.hpg.ig.com.br). Preço e número de páginas a definir.


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