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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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ARTES

Megamostra sobre movimento abre em 2005 no Bronx, vai a Chicago e à Europa e chegará a SP dois anos depois

Tropicália começa aniversário pelos EUA

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de ser apenas em 2007 que o tropicalismo comemora 40 anos, a celebração da data terá início já em maio de 2005 e, quem diria, em Nova York. Três instituições ligadas à cultura, o Museu de Artes do Bronx, o Museu de Arte Contemporânea de Chicago e a BrasilConnects preparam uma grande mostra para revisitar o tropicalismo, com um olhar contemporâneo.
Na última semana, os diretores das três instituições reuniram-se em São Paulo para lançar o projeto e encontraram-se também com o ministro da Cultura, Gilberto Gil, em Brasília, para convidá-lo a abrir a exposição.
"Creio que só no Brasil há um ministro da Cultura que possa cantar na abertura de uma mostra", brinca Robert Fitzpatrick, diretor do museu de Chicago, o mentor do projeto. Em 1998, Fitzpatrick veio ao Brasil pela primeira vez para ver a Bienal de São Paulo. Conheceu a Antropofagia, tema da mostra, encantou-se ("foi uma descoberta fantástica") e, desde então, acalenta a idéia de fazer algo sobre o país.
"Meu trabalho é tornar Chicago menos provinciana e, por isso, busco criar um novo eixo, São Paulo-Roma-Chicago, que faça um contraponto ao eixo Paris-Nova York-Londres. Não quero que a mostra do tropicalismo seja apenas uma leitura histórica, mas ressalte aspectos da cultura brasileira que tiveram início com o movimento e se desenvolvem até hoje", afirma o diretor à Folha.
O responsável pela mostra é o curador argentino (argentino??!!) Carlos Basualdo. "Tenho uma visão exterior daqui, um distanciamento que pode revelar a força cultural do Brasil", diz Basualdo. Há anos, ele desenvolve projetos sobre o país e em seu trabalho mais recente, como curador-adjunto da Bienal de Veneza, encerrada recentemente, levou cinco brasileiros para a exposição.
Segundo o presidente da BrasilConnects, Edemar Cid Ferreira, a organização da mostra por três instituições "irá abrir um novo caminho para o Brasil na indústria da criatividade". "Há anos venho tentando parcerias desse tipo e pela primeira vez conseguimos chegar a uma equação que, por dividir os custos da produção, irá permitir uma mostra de grande porte que circule pelo mundo", conta Ferreira.
Depois de Nova York, a exposição segue para Chicago, vai para a Europa, onde, entre outros locais, está sendo negociada para ser exibida no Barbican Centre, de Londres, volta para os Estados Unidos e termina no Brasil, em 2007, na Oca, no parque Ibirapuera.
O tropicalismo tem início, em 1967, com a apresentação de "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, e "Domingo no Parque", de Gilberto Gil, no 3º Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record. Entretanto, a mostra não pretende tratar apenas do aspecto musical do tropicalismo. "O movimento foi um dos mais importantes do pós-guerra e não pode ser pensado em blocos. O que aconteceu foi uma das grandes formulações culturais da contemporaneidade", diz Basualdo.
De fato, é difícil encontrar, na história brasileira, um ano mais significativo, do ponto de vista artístico, do que 1967: Glauber Rocha lançava "Terra em Transe", José Celso montava "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, en- quanto Helio Oiticica apresentava "Tropicália", obra que deu inspiração para o título do movimento. Mas, o mais importante, o intercâmbio entre todas essas áreas era constante. "É esse caráter de contaminação, que tem em Oiticica uma figura central, por seu papel de conectador, que pretendo desenvolver", conta Basualdo.
Para Oliva Georgia, diretora do Museu do Bronx, a inauguração em seu espaço revela ainda um caráter peculiar: "Temos um grande foco na arte latino-americana, e já realizamos diversas mostras com artistas brasileiros, mas sermos a entidade que abre a exposição é uma grande sorte".


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