São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2004

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MÚSICA ERUDITA

Músicos se mobilizam contra possíveis atrasos salariais e fazem carta de apoio ao maestro Ira Levin

Sinfônica Municipal vive indefinição com a troca de governo

DA REPORTAGEM LOCAL

A troca de comando na Prefeitura de São Paulo mobiliza os ânimos no Teatro Municipal de São Paulo, cujos músicos temem atrasos de salários e mudanças de rumo entre o final da gestão petista e o início do novo governo.
Em assembléia extraordinária realizada na semana passada, os músicos da Orquestra Sinfônica Municipal (que encerra a temporada de 2004 com récitas hoje e amanhã) decidiram pela produção de uma carta de apoio a ser entregue ao atual maestro, o norte-americano Ira Levin. O pedido de permanência deverá ser encaminhado ao novo secretário da Cultura, assim que seja nomeado.
Segundo o músico Hugo Ksenhuk, 27, que preside a Associação dos Músicos da OSM, a assembléia resultou no apoio de 44% dos votantes à permanência de Levin.
O maestro Luiz Fernando Malheiro foi o nome mais citado pelos músicos, como alternativa caso Levin saia da OSM, com 15%; Isaac Karabtchevsky foi votado por 13%. Os demais votos foram brancos ou nulos.
"Todo mundo entendeu o desligamento do [regente associado] Roberto Minczuk da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, dirigida pelo maestro John Neschling e ligada à gestão estadual tucana) como uma estratégia. Isso incomoda muito nosso maestro", diz, citando outro nome das listas de especulações.
Levin dirige a orquestra desde 2001, mas não recebe pela prefeitura -é patrocinado pelo Banco Santos, que atualmente está sob intervenção do Banco Central.
O Teatro Municipal viveu princípio de crise na semana retrasada, quando um ensaio chegou a ser interrompido por protestos de músicos pelo atraso de pagamentos por parte da prefeitura.
"Nos chegou a informação de que o pagamento ia atrasar, aquilo foi a gota d'água", diz Ksenhuk, que no entanto aponta que as datas de pagamentos vêm sendo honradas pela administração petista. Para ele, a troca de governo provoca tensão na orquestra, pois "vir uma nova administração é zerar tudo, ter que mostrar trabalho para os novos chefes".
"O pessoal está muito preocupado com a possibilidade de acontecerem atrasos de pagamento nos próximos meses", continua. Responde a atual diretora artística do Teatro Municipal, Lucia Camargo: "Não há motivo para os músicos se preocuparem, uma vez que todos os compromissos assumidos com eles têm sido cumpridos. Mas, como quando assumi, em janeiro de 2001, os salários estavam atrasados havia meses, é compreensível que sintam um certo trauma".
Outra das queixas centrais dos músicos da OSM diz respeito ao fato de a maioria ter contratos de prestação de serviço, sem qualquer estabilidade. "A orquestra apostou muito nessa administração, todo mundo achou que o PT iria resolver a questão trabalhista do teatro. Mas não foi o que aconteceu", critica Ksenhuk. Ele cita, por outro lado, o reconhecido avanço artístico da OSM no mesmo período. "Mas isso foi uma somatória do maestro com a orquestra, não é ganho político."
Lucia Camargo defende o trabalho cumprido na gestão de Marta Suplicy. "Tivemos três grandes desafios: restituir a importância do Teatro no cenário artístico, melhorar os serviços e revigorar seus corpos estáveis e escolas."
Pelo lado do não conseguido, ela faz sua autocrítica: "Quanto ao que não pudemos avançar como gostaríamos, está a impossibilidade de formalizar o vínculo profissional de nossos artistas".
"Neste ponto, a prefeitura avançou até os limites de suas possibilidades, saneando e revigorando o teatro para nos próximos passos encontrar uma solução definitiva, como a transformação em autarquia, cujo estudo de implantação já foi realizado", contrapõe.
Ksenhuk diz o que a classe espera da gestão de José Serra: "Se o novo governo tiver um projeto e um planejamento, tudo mais virá junto". A Folha procurou o governo de transição para comentar, mas obteve da assessoria a resposta de que "não há como avançar sobre esse assunto neste momento" e que a nova gestão se pronunciará mais adiante.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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