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MÚSICA ERUDITA
Músicos se mobilizam contra possíveis atrasos salariais e fazem carta de apoio ao maestro Ira Levin
Sinfônica Municipal vive indefinição com a troca de governo
DA REPORTAGEM LOCAL
A troca de comando na Prefeitura de São Paulo mobiliza os ânimos no Teatro Municipal de São
Paulo, cujos músicos temem atrasos de salários e mudanças de rumo entre o final da gestão petista e
o início do novo governo.
Em assembléia extraordinária
realizada na semana passada, os
músicos da Orquestra Sinfônica
Municipal (que encerra a temporada de 2004 com récitas hoje e
amanhã) decidiram pela produção de uma carta de apoio a ser
entregue ao atual maestro, o norte-americano Ira Levin. O pedido
de permanência deverá ser encaminhado ao novo secretário da
Cultura, assim que seja nomeado.
Segundo o músico Hugo Ksenhuk, 27, que preside a Associação dos Músicos da OSM, a assembléia resultou no apoio de
44% dos votantes à permanência
de Levin.
O maestro Luiz Fernando Malheiro foi o nome mais citado pelos músicos, como alternativa caso Levin saia da OSM, com 15%;
Isaac Karabtchevsky foi votado
por 13%. Os demais votos foram
brancos ou nulos.
"Todo mundo entendeu o desligamento do [regente associado]
Roberto Minczuk da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de
São Paulo, dirigida pelo maestro
John Neschling e ligada à gestão
estadual tucana) como uma estratégia. Isso incomoda muito nosso
maestro", diz, citando outro nome das listas de especulações.
Levin dirige a orquestra desde
2001, mas não recebe pela prefeitura -é patrocinado pelo Banco
Santos, que atualmente está sob
intervenção do Banco Central.
O Teatro Municipal viveu princípio de crise na semana retrasada, quando um ensaio chegou a
ser interrompido por protestos de
músicos pelo atraso de pagamentos por parte da prefeitura.
"Nos chegou a informação de
que o pagamento ia atrasar, aquilo foi a gota d'água", diz Ksenhuk,
que no entanto aponta que as datas de pagamentos vêm sendo
honradas pela administração petista. Para ele, a troca de governo
provoca tensão na orquestra, pois
"vir uma nova administração é
zerar tudo, ter que mostrar trabalho para os novos chefes".
"O pessoal está muito preocupado com a possibilidade de
acontecerem atrasos de pagamento nos próximos meses",
continua. Responde a atual diretora artística do Teatro Municipal, Lucia Camargo: "Não há motivo para os músicos se preocuparem, uma vez que todos os compromissos assumidos com eles
têm sido cumpridos. Mas, como
quando assumi, em janeiro de
2001, os salários estavam atrasados havia meses, é compreensível
que sintam um certo trauma".
Outra das queixas centrais dos
músicos da OSM diz respeito ao
fato de a maioria ter contratos de
prestação de serviço, sem qualquer estabilidade. "A orquestra
apostou muito nessa administração, todo mundo achou que o PT
iria resolver a questão trabalhista
do teatro. Mas não foi o que aconteceu", critica Ksenhuk. Ele cita,
por outro lado, o reconhecido
avanço artístico da OSM no mesmo período. "Mas isso foi uma somatória do maestro com a orquestra, não é ganho político."
Lucia Camargo defende o trabalho cumprido na gestão de Marta
Suplicy. "Tivemos três grandes
desafios: restituir a importância
do Teatro no cenário artístico,
melhorar os serviços e revigorar
seus corpos estáveis e escolas."
Pelo lado do não conseguido,
ela faz sua autocrítica: "Quanto ao
que não pudemos avançar como
gostaríamos, está a impossibilidade de formalizar o vínculo profissional de nossos artistas".
"Neste ponto, a prefeitura avançou até os limites de suas possibilidades, saneando e revigorando o
teatro para nos próximos passos
encontrar uma solução definitiva,
como a transformação em autarquia, cujo estudo de implantação
já foi realizado", contrapõe.
Ksenhuk diz o que a classe espera da gestão de José Serra: "Se o
novo governo tiver um projeto e
um planejamento, tudo mais virá
junto". A Folha procurou o governo de transição para comentar, mas obteve da assessoria a
resposta de que "não há como
avançar sobre esse assunto neste
momento" e que a nova gestão se
pronunciará mais adiante.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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