São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

The Who se conecta ao passado com novo álbum

Guitarrista vê semelhanças entre o recém-lançado "Endless Wire" e disco de 1971

Da formação original, só Pete Townshend e o vocalista Roger Daltry permanecem; novo trabalho inclui coleção de canções e mini-ópera


MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o sujeito vive mais de 20 anos do rock, começa a conviver com a sombra do passado. Compete contra sua produção jovem e normalmente é dado como derrotado diante dela. Pete Townshend, guitarrista do Who, parece se importar pouco com isso.
Após informá-lo de que uma das bandas recentes mais populares do Brasil, o Cachorro Grande, segue fielmente sua receita do começo de carreira, a Folha pergunta a Townshend como vê o fato de continuar escrevendo música, mas sendo mais influente com o seu passado que com o presente.
"Gosto de saber dessas coisas. Nós estamos mais velhos, e e o velho som do rock requer muita energia física e paixão para funcionar. São essas bandas que trazem paixão e fogo ao velho rock'n'roll", afirma Townshend, 61.
Guitarrista ideal na juventude, com pernas abertas em pose de ataque e braço girando como um moinho a soprar as cordas da guitarra, também ele parece mais influenciado pelo que fora no começo do que pelo que o Who foi da última vez.
"Este álbum se conecta mais com "Who's Next" (1971) e com meu solo "Psychoderelict" (1993) que com nosso último disco, "It's Hard" (1982)", diz, sobre o CD que a banda lança agora, "Endless Wire".

Nova formação
O tempo foi inclemente com o Who. Depois de se transformar em ícone do rock das décadas de 60 e 70, um verdadeiro furacão em sua época, a banda só conta com ele e o vocalista Roger Daltrey como membros-fundadores vivos.
Sem o baixista John Entwistle, morto em 2002 por overdose, assim como o baterista Keith Moon, em 1978, "Endless Wire", é o primeiro disco da dupla, hoje acompanhada, entre outros, pelo filho de Ringo Starr, Zak Starkey. Essa é a formação que o Brasil não vai ver, pelo menos por enquanto, já que o show anunciado para 2007 foi cancelado.
"Endless Wire" é um trabalho em duas partes. A primeira parte é uma coleção de canções; a segunda, uma mini-ópera rock, "Wire and Glass".
A faixa de abertura, "Fragments", construída a partir de um software que traduz dados como um retrato em música, é realmente parecida com "Baba O'Riley", que abria o clássico "Who's Next" (1971).
"Toda música é eletrônica hoje, a maior parte dela existe como dados eletrônicos", afirma Townshend, que sempre se preocupou em ampliar as fronteiras da banda. Segundo ele, essa relação funciona no conceito do novo disco.
"Vejo a eletrônica como um meio, não como um fim. Enquanto podemos tocar ao vivo para gente viva, gosto também de entrar na internet -o cabo sem fim ["endless wire']- para me conectar com os fãs. Mas é melhor ter tanto o "cabo" quanto a frágil realidade das bandas ao vivo. Na história da mini-ópera, a banda se chama Glass ("vidro')", conclui.


Texto Anterior: Toni Platão canta as dores do amor
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.