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Crítica/rock
Falta de força causa frustração, mas não enterra Townshend prematuramente
DA REPORTAGEM LOCAL
A discografia do Who se
alicerçou em como
quatro elétricos músicos equacionavam o talento e a
ambição das canções de Pete
Townshend. Não bastava ser
rock, tinha que haver conteúdo
e formas originais. E tinha que
ser adolescente.
Townshend sempre buscou
nas canções um porto seguro.
"Endless Wire" prossegue essa
busca. Abre com "Fragments",
que pergunta: "Somos as partes?/Somos o todo? [...] Essas
partes de mim/ pertencem a
você". Ingênuo? Sincero. E essa
candura se reflete nas cordas de
bandolins, banjos e violões
(calma: há guitarras também) e
nas interpretações de sua própria voz, muito suave, como em
"God Speaks of Marty Robins",
uma canção de ninar ao contrário. "Endless Wire" é sobre conexão, mas nem sempre com
garantia de satisfação.
Mesmo que cante às vezes,
Townshend permite que Roger
Daltrey tenha a primazia ao microfone. Se falta a força do começo, agora Daltrey é um intérprete, sem dúvida, e o melhor
da obra do guitarrista. Menos
potência, mais sutilezas, eis a
vantagem de envelhecer.
Se, em termos de conceito,
nem sempre é fácil delinear a
ambição de Townshend, existem, sim, grande canções.
"Fragments", parecida com
"Baba O'Riley", de "Who's
Next", "It's Not Enough", a breve "We Got a Hit" (que remete
ao Who dos anos 60).
Talvez o maior problema para o fã primal seja a introspecção do disco. São freqüentes as
baladas, algumas com bateria
eletrônica (hoje bem tolerada
nos meios roqueiros, mas ainda
um sacrilégio para quem dividiu o palco com Keith Moon).
Essa falta de força pode frustrar, mas não arrasta o CD; ao
contrário, ele até soa curto nos
seus pouco mais de 50 minutos.
"Endless Wire", se não é brilhante, é suficiente para não
enterrar Townshend e Daltrey
prematuramente. Enquanto
Daltrey tiver voz, e Townshend, adolescência, a busca
ainda merecerá ouvidos.
(MDA)
ENDLESS WIRE
Intérprete: The Who
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 36, em média
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