São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

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Festival de Sundance escala brasileiros

Inéditos nos cinemas do país, o documentário "Acidente" e a ficção "O Cheiro do Ralo" competem na mostra norte-americana

Títulos foram selecionados entre 1.435 candidatos de diversos países; voltado ao cinema independente, Sundance é vitrine mundial


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Templo do cinema independente idealizado pelo ator norte-americano Robert Redford, o Festival de Sundance, que ocorre sempre em janeiro, no rigoroso inverno de Utah, selecionou dois filmes brasileiros à edição 2007 (18/1 a 28/1).
A ficção "O Cheiro do Ralo", de Heitor Dhalia, diretor pernambucano radicado em São Paulo, e o documentário "Acidente", dos mineiros Cao Guimarães e Pablo Lobato, ultrapassaram 1.435 candidatos de todo o mundo, interessados na vitrine mundial que significa a participação em Sundance.
As seções competitivas de "O Cheiro do Ralo" (cinema mundial de ficção) e de "Acidente" (cinema mundial documental) têm 16 filmes cada uma.
O convite a Dhalia surgiu depois da bem-sucedida participação de seu filme nas edições deste ano do Festival do Rio, onde obteve o Prêmio Especial do Júri, o da crítica e o de melhor ator (Selton Mello), e da Mostra de SP, que venceu.
"Os gringos amam o filme", diz Dhalia, referindo-se a profissionais estrangeiros do mercado de cinema que vieram às mostras do Rio e de São Paulo e "começaram a indicar voluntariamente o filme" para festivais internacionais. "Agora está chovendo convite", completa.
Segundo longa de Dhalia, que estreou com "Nina", "O Cheiro do Ralo" é baseado em livro homônimo do quadrinista Lourenço Mutarelli e conta a história de um personagem abjeto.
Dono de uma loja de objetos usados, Lourenço (Selton Mello) humilha todas as pessoas com quem se relaciona profissional ou afetivamente.
Declaradamente inspirado no cinema independente americano, "O Cheiro do Ralo" foi realizado com apenas R$ 300 mil. Quase toda a equipe do longa trabalhou gratuitamente, já que o diretor teve todos os pedidos de patrocínio negados.
"Estou muito feliz de ir a Sundance ao lado dos meninos da Teia. Sou fã deles", diz Dhalia. Os "meninos" são Guimarães, Lobato e quatro outros realizadores mineiros, abrigados no selo de produção Teia.
Com "Trecho", dirigido por Helvécio Marins Jr. e Clarrissa Campolina e fotografado por Lobato, eles ganharam na última terça, no 39º Festival de Brasília, os troféus de melhor filme, fotografia e montagem (Campolina e Karen Harley) na categoria curta-metragem.
"Acidente" surgiu como um projeto do DocTV, programa do Ministério da Cultura, e acaba de ser lançado em DVD. A partir de um poema composto pelos nomes de 20 cidades mineiras, os diretores registraram o pacato cotidiano desses municípios, cuja maioria tem em torno de 5.000 habitantes.
Convidado também para o próximo festival de Roterdã (Holanda), "Acidente" deverá ser exibido no ano que vem nas 20 cidades em que foi gravado, com a presença dos diretores.
Guimarães e Lobato querem estrear o filme também nos cinemas de pelo menos sete capitas brasileiras. A participação em Sundance pode servir para "potencializar" o projeto de distribuição no país.
"Acho que o filme pode contaminar as salas de cinema no Brasil com um novo modo de olhar a realidade, já que ele não se encaixa na forma clássica de documentar nem no espaço que a ficção atualmente ocupa", afirma Lobato.


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