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Casa de Criadores tem boa safra masculina
A 22ª edição, encerrada anteontem em São Paulo, superou antigos problemas
Desfiles dos estilistas João Pimenta, Ash, Ivan Aguilar e da estreante Karen Valencio foram destaque no evento, que comemora uma década
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma boa safra de coleções
masculinas e estréias promissoras deram uma injeção de
ânimo à 22ª edição da Casa de
Criadores, que terminou anteontem em São Paulo.
O evento comemora neste
ano uma década de existência e
demonstrou que está superando os problemas que dominaram as últimas edições, tanto
do ponto de vista da organização quanto da criação. O saldo
final desta temporada foi bastante positivo.
A moda feita para os homens
saiu na frente desta vez, sobretudo com os trabalhos de João
Pimenta, da Ash, de Ivan Aguilar e da estreante Karen Valencio, da marca Valencio Lemes.
O estilista João Pimenta
mostrou uma coleção cheia de
boas idéias e de testosterona,
transitando do étnico rústico a
imagens de dândis góticos. Ele
explorou muito bem os tecidos,
as formas e as modelagens e
acertou nas cores, particularmente nos tons terrosos. O
styling caprichado do desfile,
por fim, assegurou que ele exibisse uma das melhores coleções -senão a melhor- da Casa de Criadores.
A Ash se saiu bem na parte feminina, mas foi ainda melhor
no masculino. Mostrou um mix
criativo de seus já conhecidos
moletons megaestampados à
mão com uma linha jeanswear
bem resolvida.
Ivan Aguilar apresentou uma
boa alfaiataria, com destaque
para as jaquetas e os casacos
longos, de construção segura e
cortes caprichados. A novata
Karen Valencio criou looks
com interessantes exercícios
de desconstrução e uma boa
cartela de cores. É bom ficar de
olho nela.
Feminino
Entre as coleções femininas,
Walério Araújo foi o destaque,
com uma coleção mais madura,
mas não menos divertida. A
imagem é inspirada nas odaliscas do Carnaval de rua e das antigas chanchadas, bem como
nas rainhas da bateria.
Pretinhos nada básicos com
cristais aplicados no formato
de biquínis, vestidos estruturados e metalizados e até uma
baiana gótica, com vestido rodado e anágua volumosa de tule
apareceram na passarela. Araújo conseguiu dosar seu humor
abusado com bons trabalhos de
modelagem e acabamento.
Outros bons looks femininos
passaram meio escondidos. Os
vestidos curtinhos e as belas
pantalonas de Gustavo Silvestre, com trabalhos de aplicações e relevos metalizados nos
tecidos, ficaram escondidos
numa exibição sem graça, à
qual faltaram luz adequada e
espaço para o público circular
entre os modelos. A passarela
ainda é o melhor lugar para ver
e valorizar as roupas, caso não
se tenha uma idéia muito criativa para aboli-la.
Já no caso da grife novata Diva, o styling equivocado e o make grotesco e pesado quase apagaram o cuidado na seleção dos
tecidos e a qualidade do acabamento dos minivestidos cheios
de rendinhas e com frufrus para lá de safados, tipo santinha
do pau oco.
Com exceção de Rober Dognani, que soube explorar a moda festa em vestidos extravagantes e chiques, os estilistas
que se aventuraram pelo imaginário do glamour tiveram muitos problemas. O último dia do
evento, em especial, foi uma
verdadeira apoteose do kitsch,
com uma seqüência de imagens
femininas caricatas e velhas.
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