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Crítica/"Manual do Hedonista"
Manual é a favor de prazeres da vida
Americano Michael Flocker lança guia divertido que critica obsessão politicamente correta com preservação da saúde
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Cansado de pessoas que
só falam sobre colesterol, carboidratos, os
males do fumo e vitaminas que
podem prolongar a vida?
Se sim, o "Manual do Hedonista", do norte-americano Michael Flocker, é uma leitura divertida e até subversiva em
tempos tão cheios de regras politicamente corretas.
Em estilo bem-humorado de
manual, com várias listas engraçadas, o autor propõe o que
pode parecer óbvio: o que vale é
viver uma vida com prazer. E
preservar a vida achando que
nunca vai morrer pode ser o
contrário disso. Já no primeiro
parágrafo ele avisa: "Sim, sim,
eu sei, cigarro faz mal e sexo pode ser perigoso... Mas será possível mesmo encontrar felicidade numa corrida vertiginosa,
num ambiente onde é proibido
fumar, de Palm Pilot na mão,
atrás do ideal capitalista?"
Ele acredita que não. E por
isso propõe maneiras de gozar a
vida de verdade. Para isso, lista
excessos históricos, que vão
desde a Grécia Antiga até os
agitados anos 60, e lista os
maiores hedonistas da história.
A obra é cheia de estilo auto-ajuda, ou, no caso, do que se poderia chamar de autodestruição. Há, por exemplo, uma lista
sobre "os riscos de uma vida estruturada". A saber: "Você não
vai ser popular em festas e vai
ficar amargo".
Flocker chuta de vez a correção política ao falar sobre drogas e cigarro. Embriagar-se, segundo ele, pode ser divertido. E
há até uma lista de fazer corar
os "PCs" de carteirinha: a de
dez razões para os fumantes
continuarem fumando.
As dietas também caem nas
mãos destrutivas do autor. Ele
enumera os alimentos gostosos
que mais engordam e afirma
que "teor zero de gordura é
igual a teor zero de diversão".
"Um dos maiores estraga-prazeres da sociedade atual é a
constante obsessão com a saúde, a longevidade, as dietas e a
gordura corporal." E, para deixar mais claro ainda que dá para ser diferente, o autor enumera histórias de "hedonistas"
que viveram muito, como Picasso, descrito como "fumante
compulsivo, amante do corpo e
mulherengo incorrigível".
Se o livro é uma obra-prima
que vai mudar a sua vida? Não.
Mas vai fazer você se divertir, o
que parece ser, em todos os
sentidos, o seu objetivo.
MANUAL DO HEDONISTA
Autor: Michael Flocker
Tradução: Talita M. Rodrigues
Editora: Rocco
Quanto: R$ 34 (148 págs.)
Avaliação: bom
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