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DISCO - LANÇAMENTOS
Velvet Goldmine
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
"Velvet Goldmine", de Todd
Haynes, é filme romanceado que
parodia a trajetória do ídolo pop
inglês David Bowie, com ênfase em
sua fase anos 70, quando abraçou e
popularizou o gênero que viria a
ser chamado glitter rock ou glam
rock. É um filme sobre música, logo é natural que a trilha sonora seja
item fundamental do pacote. E é.
Bem, nem o filme nem o CD têm
até agora edição brasileira -a trilha, ao menos, pode ser importada.
O que se ouve em 19 faixas é um
manual meio capenga de glitter
rock -rock brega-chique movido
a agressividade, plumas e paetês e
muita ambiguidade sexual.
Para começar, exclui, por chilique do próprio, a obra de Bowie
-que ainda assim faz pequena
aparição na trilha, gemendo os vocais de fundo da grande "Satellite
of Love", que Lou Reed gravou em
72 e enleva a cena mais romântica
-e gay- de "Velvet Goldmine".
A ausência de Bowie é faca de
dois gumes, pois leva à conclusão
de que ele, um dos inventores do
pastiche no pop, pode ser limado
de um catálogo de canções glam
sem grandes prejuízos.
Quem pula à frente, na ausência
do outro, é a banda inglesa Roxy
Music, que entre 72 e 74 em diante
encheu o espaço de doces canções
glitter elaboradas por seus dois líderes, Bryan Ferry e Brian Eno.
A clássica "Virginia Plain", "Bitter's End" (regravada lindamente
por Paul Kimble e Andy Mackay,
membro fundador do Roxy) e
"Bitter-Sweet", "2HB" e "Ladytron" (em versões da banda "de
mentira" Venus in Furs -artifício
recorrente na trilha-, com vocal
de Thom Yorke, do Radiohead)
saltam como canções do gênero
próximas à perfeição. Roxy Music
foi quando, entende-se, glitter e arte se equivaleram sem máculas.
Na contrapartida, a coisa fica tão
engraçada quanto. O achado da
trilha é a inclusão da semicountry
"Make Me Smile", de Steve Harley.
Nem tão diretamente ligado ao
"movimento", Harley dá o mote
ideal para encerrar o filme, aproximando o glam de um tipo debochado e encantador de cafonália.
Assim era, e era legal.
O resto vai e vem. Optando por
várias regravações -entre elas, de
"T.V. Eye", dos Stooges de Iggy
Pop, cantada pelo ator Ewan
McGregor, e de "Baby's on Fire",
de Brian Eno, levada pelo outro
ator Jonathan Rhys Meyers-, o
disco sai do documental e cai no
folclórico -Iggy e Eno não são pra
qualquer um sair copiando.
Mesmo com cantores de fato, a
receita desanda em certos momentos. O Placebo faz versão histérica
de "20th Century Boy", do T. Rex
-Brian Molko não tem muque
para encarar Marc Bolan, talvez o
mais importante de todos os cantores glam. É só conferir, adiante,
em "Diamond Meadows", também do T. Rex, em versão original.
Outro é o Pulp, que na inédita
"We Are the Boys" mostra que
simplesmente não entrou no espírito. É pastiche abatido. Escapa o
Teenage Fanclub, encarnando
com determinação os New York
Dolls em "Personality Crisis".
Seja como for. A trilha de "Velvet
Goldmine" é descarga de adrenalina e informação sobre um período
brilhante -e morto- do rock.
Para saudosos, curiosos, não-iniciados e mal iniciados.
²
Trilha: Velvet Goldmine
Lançamento: London (importado)
Onde encontrar: Bizarre (tel. 011/220-7933), London Calling (tel. 011/223-5300)
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