São Paulo, terça, 1 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISCO - LANÇAMENTOS
Velvet Goldmine

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

"Velvet Goldmine", de Todd Haynes, é filme romanceado que parodia a trajetória do ídolo pop inglês David Bowie, com ênfase em sua fase anos 70, quando abraçou e popularizou o gênero que viria a ser chamado glitter rock ou glam rock. É um filme sobre música, logo é natural que a trilha sonora seja item fundamental do pacote. E é.
Bem, nem o filme nem o CD têm até agora edição brasileira -a trilha, ao menos, pode ser importada.
O que se ouve em 19 faixas é um manual meio capenga de glitter rock -rock brega-chique movido a agressividade, plumas e paetês e muita ambiguidade sexual.
Para começar, exclui, por chilique do próprio, a obra de Bowie -que ainda assim faz pequena aparição na trilha, gemendo os vocais de fundo da grande "Satellite of Love", que Lou Reed gravou em 72 e enleva a cena mais romântica -e gay- de "Velvet Goldmine".
A ausência de Bowie é faca de dois gumes, pois leva à conclusão de que ele, um dos inventores do pastiche no pop, pode ser limado de um catálogo de canções glam sem grandes prejuízos.
Quem pula à frente, na ausência do outro, é a banda inglesa Roxy Music, que entre 72 e 74 em diante encheu o espaço de doces canções glitter elaboradas por seus dois líderes, Bryan Ferry e Brian Eno.
A clássica "Virginia Plain", "Bitter's End" (regravada lindamente por Paul Kimble e Andy Mackay, membro fundador do Roxy) e "Bitter-Sweet", "2HB" e "Ladytron" (em versões da banda "de mentira" Venus in Furs -artifício recorrente na trilha-, com vocal de Thom Yorke, do Radiohead) saltam como canções do gênero próximas à perfeição. Roxy Music foi quando, entende-se, glitter e arte se equivaleram sem máculas.
Na contrapartida, a coisa fica tão engraçada quanto. O achado da trilha é a inclusão da semicountry "Make Me Smile", de Steve Harley. Nem tão diretamente ligado ao "movimento", Harley dá o mote ideal para encerrar o filme, aproximando o glam de um tipo debochado e encantador de cafonália. Assim era, e era legal.
O resto vai e vem. Optando por várias regravações -entre elas, de "T.V. Eye", dos Stooges de Iggy Pop, cantada pelo ator Ewan McGregor, e de "Baby's on Fire", de Brian Eno, levada pelo outro ator Jonathan Rhys Meyers-, o disco sai do documental e cai no folclórico -Iggy e Eno não são pra qualquer um sair copiando.
Mesmo com cantores de fato, a receita desanda em certos momentos. O Placebo faz versão histérica de "20th Century Boy", do T. Rex -Brian Molko não tem muque para encarar Marc Bolan, talvez o mais importante de todos os cantores glam. É só conferir, adiante, em "Diamond Meadows", também do T. Rex, em versão original.
Outro é o Pulp, que na inédita "We Are the Boys" mostra que simplesmente não entrou no espírito. É pastiche abatido. Escapa o Teenage Fanclub, encarnando com determinação os New York Dolls em "Personality Crisis".
Seja como for. A trilha de "Velvet Goldmine" é descarga de adrenalina e informação sobre um período brilhante -e morto- do rock. Para saudosos, curiosos, não-iniciados e mal iniciados.
²
Trilha: Velvet Goldmine Lançamento: London (importado) Onde encontrar: Bizarre (tel. 011/220-7933), London Calling (tel. 011/223-5300)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.