São Paulo, quarta-feira, 02 de janeiro de 2002

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Heavy metal torna-se alternativa em 2002

HUMBERTO FINATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Barulhento, sujo, odiado pelos pais e ignorado pela grande mídia, o heavy metal segue com público fiel no Brasil.
Surgido no final dos anos 60, o estilo -que une distorção de guitarras, volume altíssimo nas gravações e vocais berrados- estimula a criação de selos, revistas e programas de rádio, altera a programação de uma das maiores casas de shows de São Paulo e vende mais CDs do que Caetano Veloso.
Está, em suma, acima das crises do mercado de shows paulistano.
Depois de receber um público de mais de 10 mil metaleiros em um final de semana de 2001, durante shows do quinteto alemão Helloween, a casa de espetáculos Via Funchal, em São Paulo, não teve mais dúvidas: adotou o gênero como o prato principal de sua programação para 2002.
"É um nicho que vai muito bem por aqui. Pretendemos trazer pelo menos uma atração internacional por mês em 2002", diz Silvia Frederichi, 37, diretora artística da casa, que anuncia a vinda de grupos como Tristania, Slayer, Blind Guardian, Children of Bodom, Gamma Ray, Nightwish, Pantera, Runnynwild e Rob Hallford.
Sensação do metal gótico, o septeto norueguês Tristania também se apresenta na casa, no próximo dia 19. Com três discos lançados, a banda vem ao Brasil trazida pela sua gravadora local, a Hellion Records, que já lançou mais de 80 bandas estrangeiras no país.
Quem também promete shows para 2002 é a Century Media, a principal gravadora da Alemanha dedicada ao rock pesado, que abriu filial em São Paulo há dois anos. Tempo suficiente para, segundo seu diretor local, o holandês Eric De Hass, 39, lançar quase cem títulos do gênero no Brasil.
Todos eles venderam pelo menos 5.000 cópias. Impulsionado pelas vendas, o primeiro nome da gravadora a se apresentar em São Paulo é o grupo americano Iced Heart, dos dias 17 a 19 de abril.
O público brasileiro também é reconhecido no exterior. A banda inglesa Iron Maiden, uma das mais importantes do gênero, decidiu gravar um DVD com seu show na terceira edição do Rock in Rio, realizada em janeiro de 2001, com 200 mil fãs na platéia.
Atualmente, o Brasil tem, ao lado dos mercados europeus, norte-americano e japonês, um dos quatro maiores público consumidores de heavy metal do mundo.
Mas por que o estilo tem tantos adeptos por aqui? "É um som que passa de geração para geração, sem influência da mídia", diz Andreas Kisser, 33, guitarrista do Sepultura, principal banda brasileira do gênero, vendedora de mais de 8 milhões de discos.
Em São Paulo se reúnem as principais gravadoras de metal do país. Selos como Hellion Records, Rock Brigade e Century Media distribuem catálogos gigantescos de gravadoras estrangeiras. "É um gênero que agrada àqueles que ainda acreditam em revoluções", filosofa Eric de Haas.
Só a Rock Brigade lançou mais de 300 títulos desde 86. Uma revista homônima existe há 20 anos com tiragem mensal de 55 mil exemplares. "O metal vai bem no Brasil. Hoje ele é mais bem divulgado", afirma Antonio Pirani, 46, proprietário do selo.
O mercado brasileiro tem sido lucrativo para as bandas estrangeiras. Os últimos álbuns do Limp Bizkit ou do Metallica venderam quase 200 mil cópias, contra 150 mil de "Noites do Norte", de Caetano Veloso. São números expressivos numa competição que engloba gêneros com forte apelo comercial, como o axé e o pagode.
E não é só. Na zona oeste paulistana funciona o bar Manifesto. A casa comemorou sete anos este mês com quatro apresentações lotadas de Paul Dianno, o primeiro vocalista do Iron Maiden. "O público é fiel, mesmo sem divulgação", diz um dos proprietários da casa, Silvano Brancati, 32.

Rádio
O metal não frequenta a programação normal das emissoras mais populares, mas, nas paulistanas Brasil 2000 e 89 FM, o som pesado há muito tem lugar cativo.
A 89 leva ao ar, todos os domingos à noite, o "Oitenta & Noise", apresentado pelo cineasta Zé do Caixão. Na Brasil 2000, o "Backstage" é apresentado há 13 anos por Vitão Bonesso. "Não é uma moda, isso explica a longevidade do estilo", diz o apresentador, 40.
A adoração pelo metal parece não escolher idade. E, se depender dos brasileiros, vai continuar.


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