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Heavy metal torna-se alternativa em 2002
HUMBERTO FINATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Barulhento, sujo, odiado pelos
pais e ignorado pela grande mídia, o heavy metal segue com público fiel no Brasil.
Surgido no final dos anos 60, o
estilo -que une distorção de guitarras, volume altíssimo nas gravações e vocais berrados- estimula a criação de selos, revistas e
programas de rádio, altera a programação de uma das maiores casas de shows de São Paulo e vende
mais CDs do que Caetano Veloso.
Está, em suma, acima das crises
do mercado de shows paulistano.
Depois de receber um público
de mais de 10 mil metaleiros em
um final de semana de 2001, durante shows do quinteto alemão
Helloween, a casa de espetáculos
Via Funchal, em São Paulo, não
teve mais dúvidas: adotou o gênero como o prato principal de sua
programação para 2002.
"É um nicho que vai muito bem
por aqui. Pretendemos trazer pelo
menos uma atração internacional
por mês em 2002", diz Silvia Frederichi, 37, diretora artística da
casa, que anuncia a vinda de grupos como Tristania, Slayer, Blind
Guardian, Children of Bodom,
Gamma Ray, Nightwish, Pantera,
Runnynwild e Rob Hallford.
Sensação do metal gótico, o septeto norueguês Tristania também
se apresenta na casa, no próximo
dia 19. Com três discos lançados, a
banda vem ao Brasil trazida pela
sua gravadora local, a Hellion Records, que já lançou mais de 80
bandas estrangeiras no país.
Quem também promete shows
para 2002 é a Century Media, a
principal gravadora da Alemanha
dedicada ao rock pesado, que
abriu filial em São Paulo há dois
anos. Tempo suficiente para, segundo seu diretor local, o holandês Eric De Hass, 39, lançar quase
cem títulos do gênero no Brasil.
Todos eles venderam pelo menos 5.000 cópias. Impulsionado
pelas vendas, o primeiro nome da
gravadora a se apresentar em São
Paulo é o grupo americano Iced
Heart, dos dias 17 a 19 de abril.
O público brasileiro também é
reconhecido no exterior. A banda
inglesa Iron Maiden, uma das
mais importantes do gênero, decidiu gravar um DVD com seu
show na terceira edição do Rock
in Rio, realizada em janeiro de
2001, com 200 mil fãs na platéia.
Atualmente, o Brasil tem, ao lado dos mercados europeus, norte-americano e japonês, um dos
quatro maiores público consumidores de heavy metal do mundo.
Mas por que o estilo tem tantos
adeptos por aqui? "É um som que
passa de geração para geração,
sem influência da mídia", diz Andreas Kisser, 33, guitarrista do Sepultura, principal banda brasileira do gênero, vendedora de mais
de 8 milhões de discos.
Em São Paulo se reúnem as
principais gravadoras de metal do
país. Selos como Hellion Records,
Rock Brigade e Century Media
distribuem catálogos gigantescos
de gravadoras estrangeiras. "É
um gênero que agrada àqueles
que ainda acreditam em revoluções", filosofa Eric de Haas.
Só a Rock Brigade lançou mais
de 300 títulos desde 86. Uma revista homônima existe há 20 anos
com tiragem mensal de 55 mil
exemplares. "O metal vai bem no
Brasil. Hoje ele é mais bem divulgado", afirma Antonio Pirani, 46,
proprietário do selo.
O mercado brasileiro tem sido
lucrativo para as bandas estrangeiras. Os últimos álbuns do Limp
Bizkit ou do Metallica venderam
quase 200 mil cópias, contra 150
mil de "Noites do Norte", de Caetano Veloso. São números expressivos numa competição que engloba gêneros com forte apelo comercial, como o axé e o pagode.
E não é só. Na zona oeste paulistana funciona o bar Manifesto. A
casa comemorou sete anos este
mês com quatro apresentações
lotadas de Paul Dianno, o primeiro vocalista do Iron Maiden. "O
público é fiel, mesmo sem divulgação", diz um dos proprietários
da casa, Silvano Brancati, 32.
Rádio
O metal não frequenta a programação normal das emissoras
mais populares, mas, nas paulistanas Brasil 2000 e 89 FM, o som
pesado há muito tem lugar cativo.
A 89 leva ao ar, todos os domingos à noite, o "Oitenta & Noise",
apresentado pelo cineasta Zé do
Caixão. Na Brasil 2000, o "Backstage" é apresentado há 13 anos
por Vitão Bonesso. "Não é uma
moda, isso explica a longevidade
do estilo", diz o apresentador, 40.
A adoração pelo metal parece
não escolher idade. E, se depender
dos brasileiros, vai continuar.
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