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SURREALISMO
Objetos devem arrecadar até US$ 40 milhões
Memorabilia de André Breton será colocada à venda em leilão
ALAN RIDING
DO "NEW YORK TIMES"
Quando André Breton, fundador e líder inconteste do movimento surrealista, morreu em 28
de setembro de 1966, aos 70 anos,
seu apartamento no bairro parisiense de Pigalle era uma verdadeira caverna do tesouro. Ao longo dos anos, Breton reuniu, além
das obras de arte que comprou,
esculturas primitivas da Oceania,
centenas de pinturas, desenhos,
fotografias e livros que lhe foram
dados por amigos, seguidores e
artistas pouco conhecidos que estavam em busca de suas benções.
Breton vivia lá desde 1922. Seus
herdeiros -sua mulher, Elisa, e
Aube, uma filha de um relacionamento anterior- decidiram
manter tudo intocado. "Minha
madrasta vivia aqui, e era seu ambiente familiar", disse Aube Breton Elléouët, 67. "Por 35 anos,
procuramos por uma resposta
quanto ao que se deveria fazer
com a coleção. Meu pai jamais se
expressara sobre o assunto."
Agora, anos depois da morte de
Elisa Breton e dada a falta de disposição do governo francês quanto à aquisição da coleção, o maior
registro unificado do movimento
surrealista será vendido no primeiro semestre deste ano no hotel
Drouot-Richelieu, o local dos leilões em Paris.
Uma medida das dimensões da
coleção é que a casa de leilões CalmelsCohen planeja pelo menos
seis catálogos para cobrir os 5.300
lotes. O leilão, que vai de 1º a 18 de
abril, deve arrecadar entre US$ 30
milhões e US$ 40 milhões.
Os livros, que respondem por
3.500 dos lotes, incluem volumes
dedicados a Breton por Freud,
Trótski e Apollinaire, bem como
catálogos de arte e diários. Entre
os 500 lotes de manuscritos há
originais de Breton e alguns dos
"jogos" e experiências surrealistas. A arte moderna é representada por 450 pinturas, desenhos e
esculturas e por 500 lotes de fotografias. E há 200 exemplares de
arte popular e 150 exemplares de
arte primitiva, principalmente da
Oceania (uma descrição da coleção pode ser obtida online em
breton.calmelscohen.com).
Para compensar a inevitável
dispersão da coleção, todo o conteúdo do apartamento de Breton
foi gravado digitalmente e estará
disponível em CD-ROM. "Pinturas, objetos, fotos, manuscritos e
livros. Tudo, do menos ao mais
importante, do histórico ao cotidiano, do privado ao público", explica um comunicado à imprensa
de Jean-Michel Ollé e Jean-Pierre
Sakoun, que prepararam o banco
de dados.
O principal item excluído do leilão é a chamada "Parede de Breton", literalmente a parede lotada
por trás da escrivaninha do autor,
que foi mostrada em inúmeras fotografias e terminou considerada
uma obra de arte da coleção
-por direito próprio. A parede
foi doada por Breton Elléouët ao
Museu Nacional de Arte Moderna do Centro Georges Pompidou,
para pagar pelos impostos sobre o
espólio de Breton.
As estantes da parede estão lotadas com dezenas de esculturas da
Oceania, bem como objetos esquimós e figuras pré-hispânicas
do México. Na parede mesma há
quadros, gravuras e desenhos de
artistas como Francis Picabia, Alfred Jarry, Roberto Matta, Jean
Arp, Marcel Duchamp, Picasso,
Miró e Kandinsky. E, perdido em
meio a tanta arte, há um pequeno
detalhe pessoal, uma foto de Elisa
Breton.
Depois da morte de Elisa, no começo de 2000, e da transferência
da parede de Breton ao Pompidou, Breton Elléouët decidiu realizar um inventário da coleção.
"Foi assim que nos envolvemos
com o trabalho", disse Laurence
Calmels, sócio da CalmelsCohen.
"Chegamos ao apartamento, e
nada mudara, exceto a parede. A
escrivaninha de Breton estava como ele a deixara, seu cachimbo,
sua bolsa de fumo, seus livros.
Havia quadros nas paredes, mas
encontramos muitos cobertos de
poeira em um mezanino. Havia
caixotes de documentos. Ele
guardou tudo. Demoramos três
meses para fazer o inventário."
Foi só então, convencida de que
não tinha alternativa, que Breton
Elléouët decidiu relutantemente
vender a coleção.
"Umas poucas obras foram
vendidas ao Centro Georges
Pompidou e ao Museu de Artes
Primitivas", disse ela. "Quanto ao
resto da coleção, em 35 anos de
contato, não recebemos sequer
uma única proposta ou oferta de
ajuda."
Tradução de Paulo Migliacci
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