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MÚSICA
Vocal está presente em três discos de eletrônica nas versões em vinil, formato que ainda é lançado no exterior
Mark Farina apresenta seu cogumelo viajante
LEANDRO FORTINO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Foram 15 anos de espera para
que o DJ e produtor norte-americano Mark Farina estreasse
em um álbum de produções próprias, com o título de "Air Farina". Até então, ele havia lançado
apenas compilações de músicas
de outros artistas mixadas umas
nas outras.
Natural de Chicago, berço da
house music, o DJ começou sua
carreira em 1988, após conhecer
Derrick May e, no ano seguinte,
Kevin Saunderson, ninguém menos que os dois criadores do tecno
que é tocado em clubes ainda hoje
em dia.
Mas a paixão de Farina sempre
foi hip hop suave, animado e
cheio de jazz e groove, de grupos
como De La Soul e A Tribe Called
Quest, e os beats criados pelo
Soul2Soul embalados por vocais
black, no final dos anos 80.
Ao juntar essa influência ao
jazz, Farina inaugurou o estilo
que o tornou conhecido e respeitado mundialmente, o mushroom jazz (jazz cogumelo), uma
das vertentes da house, no qual se
baseiam algumas das faixas desse
primeiro disco de composições
originais.
Mas além disso, em "Air Farina", ele reúne toda a influência
que teve em suas dezenas de viagens pelo mundo, incluindo o
Brasil, por onde passou em abril
deste ano, no festival Skol Beats, e
para onde deve retornar ainda no
primeiro semestre de 2004, para
se apresentar no clube D-Edge,
em São Paulo.
"Fusbol", faixa que abre o lado
A do vinil, é uma comédia para
quem é brasileiro; o produtor
usou uma série de colagens em
português, como uma entrevista
em que Pelé (sim, ele) responde
perguntas em inglês macarrônico
a um locutor esportivo que pergunta, repetidamente: "Quem é
que agarrou o cachorro?" (fazendo uma referência a uma partida
da Copa do Mundo de 1962 em
que um cão ficou solto no gramado e foi apanhado por Mané Garrincha), seguido do grito "Urra,
Brasil!".
Sob essas falas, Farina impõe
uma batida quase tribal, com
tambores, baixo funqueado e a
pegada característica da house.
Sensacional.
Em "Radio (Lost Baggage
Mix)", o vocal jamaicano de reggae conduz a loucura que o produtor cria usando beats e ruídos e
sons de piano que invadem a música, um a um, como se fossem camadas sobrepostas. Ideal para começar uma pista.
Mushroom jazz
O lado B inicia-se com o tecno
de "Betcha Do", também lotado
de vozes e gritos masculinos, e segue com "Dropped into Water",
que faz lembrar muito o teclado
da clássica "Blue Monday", do
New Order.
"Leaving SF", homenagem à cidade que Farina tomou como lar,
San Francisco, levanta o lado C
com a levada house, colada em
"Gramma Si", breakbeat cheio de
grooves e atmosfera underground.
O último lado do álbum duplo é
aberto pelo estilo que Farina
criou, o mushroom jazz, com piano e sopro do jazz, vocal negro
masculino de soul music, colagens de diálogos, batida eletrônica e participação do produtor
Kaskade (leia nesta página). Encerra-se o disco com "Love Make's" e "Travel", rap cantado pelo
grupo People under the Stairs.
Que venham outras viagens de Mark Farina.
Air Farina
Artista: Mark Farina
Lançamento: OM Records
Quanto: R$ 120, em média (vinil
importado)
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