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MÔNICA BERGAMO
Ser jeca é...
A mocinha toda malhada
pega sua bolsa francesa e
parte em viagem com o namorado para Trancoso (BA).
Eles pousam em Salvador e pegam o helicóptero para chegar
ao lugar. Vão jantar. Ele escolhe
um vinho. Chacoalha a taça.
Cheira a bebida. E devolve a garrafa, pois o gosto não está lá essas coisas. Acende o charuto e
começa a papear. Casal descolado esse. Não?
Depende. Eles fizeram tudo de
forma aparentemente "correta"
e etiquetada. Mas receberiam o
troféu de "Jecas do Ano" pelo
colegiado que a coluna consultou para eleger as dez coisas que
estão na moda, parecem chiques e descoladas -mas são de
um cafonismo monumental para quem, há muitos anos, convive com o que há de melhor.
Bolsa de marca - Com a palavra, Danuza Leão, colunista da
Folha e autora do best-seller
"Na Sala com Danuza": "O que
é brega? Bolsa Louis Vuitton. Só
dá para usar quando não tem
aquela marquinha na bolsa toda, sabe? A qualidade é excelente. Mas as coisas no Brasil se tornam bregas: todo mundo TEM
que ter uma Louis Vuitton. Virou coisa de emergente, de mulher de jogador de futebol", diz
ela. "E isso vale para todas as
marcas. Chique é aquilo que o
dinheiro não compra. É saber
do endereço da lojinha em
Saint-Germain, Paris, que vende os xales mais lindos do mundo e que os cafonas de SP e do
Rio não têm".
"Chique é tirar a etiqueta da
camiseta Chanel antes de usá-la", diz Cosette Alves. "É gostar
da qualidade, e não do que ela
comunica aos outros." Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho, usa Ungaro e Chanel, mas
acha "horrível, horrível, horrível" ostentar grifes.
Alugar limusine em NY ou
Paris - Precisa explicação?
Devolver vinho - E a (nem tão
nova) mania de brasileiro de entender de vinho? E, pior, mostrar conhecimento devolvendo
o vinho porque ele está "bouchonné" [com aroma de rolha]?
Manoel Beato, sommelier do
Fasano, diz que nove em cada
dez vinhos devolvidos no restaurante estão na mais perfeita
ordem. "Bebo todos, com o
maior prazer", brinca Rogério
Fasano, sócio do grupo. "Só pode devolver vinho quem entende muito, o que é muito pouca
gente", diz Danuza Leão.
Danuza confia mais "na sabedoria de um motorista de táxi
da França do que de qualquer
outra pessoa no Brasil". Isso vale até para seu ex-marido Renato Machado, jornalista da TV
Globo e autor do livro "Em Volta do Vinho". "Quando eu o conheci, ele não sabia a diferença
entre guaraná Antarctica e
Brahma. Era muito mais interessante. Depois que começou a
conhecer vinhos, ficou um pouco insuportável, sabe?", brinca
Danuza. Os dois são grandes
amigos. "Eu adoro ver o Renato,
com uma condição: que ele não
fale de vinhos."
A coisa é tão grave que já se
começa a formar uma "resistência" aos "enobobos". O assunto
foi parar até na novela "Senhora
do Destino", da TV Globo. "Eu
uso o maître Viriato (Marcello
Antony) para dar os meus recados", diz o autor Aguinaldo Silva, apreciador de vinho -toma
meia garrafa por dia, no jantar.
"Coisa horrorosa é essa mania
de brasileiro de, acabada a refeição, pedir outra garrafa, outra
garrafa e outra garrafa. Vinho
não é chope", diz Aguinaldo. "O
Viriato já disse: não quer receber gente assim no restaurante."
Fumar charuto - "É totalmente pseudochique, o maior símbolo de status à toa", diz Rogério Fasano. "Fumar um charuto no Gero [restaurante da rede]
no fim da tarde, tudo bem. Agora, acender um charuto às 21h
com o restaurante lotado não
dá", completa. Outro membro
do colegiado consultado pela
coluna definiu o uso do charuto
de forma ostensiva como "defumador de pobreza", que a pessoa fuma não por prazer -mas
para mostrar que subiu degraus
na escala social. "Não existe nada mais cafona que acender
charuto em restaurante. É irritante", diz o ator Raul Cortez.
Férias em Trancoso (BA) - O
paraíso descolado está virando
cafona, de acordo com os consultores da coluna. E por quê?
Justamente porque está deixando de ser um paraíso. "Na temporada fica lotado. Falta água,
falta gelo, é um mico que não
tem tamanho", diz Fasano, que
conheceu a primeira mulher,
Kiki Romero, no Quadrado,
praça do vilarejo. No fim de ano
desfilava por lá, entre paulistas e
mais paulistas, o empresário Ricardo Mansur, por exemplo.
"Paulista deve gostar do Quadrado porque é longe do mar e
está cheio de pizzaria", diz Fasano, referindo-se aos penhascos
que separam o lugar da praia.
Cabelo comprido - "Tem sentido, num país tropical, em que
faz calor dez meses por ano?",
diz o estilista Ocimar Versolato.
"Pior é que são cabelos maltratados, que elas jogam para lá e
para cá." Versolato, por sinal,
passou o Réveillon em...Trancoso! "Mas na casa da minha sócia
[Sandra Habib], onde não falta
gelo nem água e tem 40 empregados", ressalva, dando certa
razão às críticas de Fasano ao
lugar. "Fui ao Quadrado e era
um festival de perfumes que você não pode imaginar!"
Helicóptero - "Acho cafonérrima essa gente que chega a fazendas ou a ilhas de helicóptero.
É uma cafajestice ambulante. Se
for alugado, pior ainda", diz
Costanza Pascolato, papisa da
moda no Brasil. "Em casamentos, os helicópteros quase despenteiam todas as mulheres. É
in-su-por-tá-vel. E virou uma
febre." Já a atriz Marília Pêra
acha "cafonérrimo qualquer
carro com alto-falante".
Desfilar com mulher bonita
- O ator Raul Cortez acha que os
homens que desfilam com mulheres bonitas, e cada vez com
uma diferente, são "pseudomachões" que se comportam como
alguém que vai "comer um prato maravilhoso sem ter paladar
suficiente para isso. Tem coisa
mais cafona do que a mentira e
a mistificação?".
Desfilar com seguranças - O
que deveria ser sinal de cuidado
está virando símbolo de status,
na opinião de Rogério Fasano.
"Esse país é tão maluco que há
pessoas que gostam de mostrar
seus seguranças", constata. Como qualquer outro exibicionismo, esse também é jeca.
Malhar até secar - "Todas as
mulheres de classe média, bem
resolvidas financeiramente, resolveram entrar nessa malhação
total. É muito deselegante e brega", diz o dramaturgo Aguinaldo Silva. "Quando a mulher é
nova, mesmo malhando conserva as gordurinhas. Depois
dos 40, não. Como diria a minha
mãe, elas ficam parecendo um
bacalhau." As preguiçosas, e pelo visto chiques, agradecem.
A coluna consultou o seguinte
colegiado para esta reportagem:
Cosette Alves, Costanza Pascolato, Danuza Leão, Lily Marinho,
Marília Pêra, Aguinaldo Silva,
Guilherme Guimarães, Ocimar
Versolato, Raul Cortez e Rogério
Fasano.
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