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CRÍTICA
"C.S.I" ordena o caos da violência
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
"C.S.I" vem se firmando como uma espécie de fenômeno das séries de TV. O original
-que trata de uma equipe da
polícia científica de Las Vegas-
já gerou duas outras "sucursais"
-em Miami e Nova York-, e os
três costumam disputar os primeiros lugares de audiência nos
Estados Unidos.
No Brasil, desde o início da
temporada 2004/2005 em novembro, ocupa quase toda a faixa
"nobre" do canal Sony.
O ovo de Colombo de "C.S.I" é
extrair o máximo de sordidez escatológica de cada assassinato e,
ao mesmo tempo, circunscrever
a violência no território da manipulação científica.
Os detalhes materiais são explorados com hiper-realismo
-imagens digitalmente manipuladas mostram balas perfurando epidermes e destroçando
músculos, jatos de sangue tingindo paredes, o impacto de uma
serra elétrica em um osso e coisas
assim- e passam a constituir
um quebra-cabeças que, apesar
da dificuldade, terá uma solução.
Há sempre uma boa explicação
para as coisas serem como são
-e por boa entenda-se mensurável, fotografável, captável por
alguma espécie de equipamento.
Isso torna os crimes decifráveis,
não pela investigação psicológica
nem pelas circunstâncias sociais,
mas simplesmente pelo calibre
da arma utilizada pelo criminoso, pelo formato do fiapo, pelas
marcas de pneu, pela presença
ou ausência de substâncias. Ah, e
também pela dedicação canina
do chefe da equipe, um sujeito
carrancudo que não tem vida
pessoal etc.
Essa é a fórmula iniciada pelo
primeiro "C.S.I" (sigla para "crime scene investigation") e seguida à risca pelos outros dois. Não
poderia haver seriado policial
mais adequado para a era de
George Bush: repugnante (as reconstituições imaginárias dos
efeitos das armas sobre o corpo
são, em boa parte, responsáveis
pela atração da série) e arrogante
(tudo se resolve pela superioridade técnica, tecnológica e moral
da polícia sobre os bandidos) em
medidas iguais.
Sombrio, escuro, de um tom
azulado, "C.S.I" iniciou sua carreira quatro temporadas atrás
apostando suas fichas quase exclusivamente em seu roteiro. Ao
contrário de outras séries bem-sucedidas, o apelo pop era zero;
os atores, obscuros.
Os "novos" -"C.S.I Miami" e
"C.S.I Nova York"- já ostentam
pelo menos atores bem conhecidos da TV (David Caruso, do primeiro) ou do cinema (Gary Sinise, no segundo).
O sucesso de "C.S.I" fez reviver
os seriados policiais -depois,
vieram "Without a Trace" e
"Cold Case" -que desbancaram
os dramas e comédias da lista dos
mais vistos nos Estados Unidos.
Em todos, a atuação racional e
impessoal da polícia ordena o
caos da violência em culpados e
inocentes, sem ambigüidades e
sem dramas.
É como se os americanos projetassem aquilo que eles acreditam
ser seu papel no mundo -uma
polícia fria, que estabelece a verdade e pune quem quer punir.
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