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ARTES GRÁFICAS
Campeões de festivais de humor nem sempre encontram espaço para publicar
Viver ou sobreviver de salão?
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao mesmo tempo em que rareia
o espaço para cartunistas, quadrinistas e ilustradores na imprensa
de todo o país, um número crescente de salões e festivais vêm
cumprindo a missão de divulgar
os trabalhos desses profissionais
do traço, acenando com premiações cada vez mais convidativas.
Fenômeno ou anomalia?
"Existem dois pontos de vista.
Mas acho que o lado positivo é
mais interessante. Os salões têm
contribuído para a sobrevivência
do ofício do chargista. Como dar
maior ênfase a eles dentro da imprensa brasileira são outros 500."
Quem afirma é Zélio Alves Pinto,
que pode ser considerado o pai
dos salões no Brasil.
Envolvido na organização dos
seminais Salão de Humor do
Mackenzie, em 1972, e Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 1974, Pinto milita até hoje na área e, além do Salão de Humor de Caratinga, que ajudou a
estabelecer em sua cidade natal,
participou da criação de mais um
importante evento nacional: o Salão Internacional de Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu, que
teve sua segunda edição realizada
em novembro passado.
Apesar do pouco tempo de vida,
o salão de Foz já ensaia passos na
direção de se tornar "um centro
nacional e internacional de humor", nas palavras de Pinto, que
compreenderá não só exposição
de cartuns mas mostras de teatro
e de cinema de humor.
Se, por um lado, há um claro interesse econômico da estância paranaense em explorar sua vocação turística por meio desses
eventos, por outro, há a fome dos
desenhistas nacionais e estrangeiros pelos prêmios oferecidos
-US$ 10 mil para o primeiro colocado, US$ 5.000 para o segundo,
e mais US$ 5.000 para terceiro,
quarto e quinto lugar.
"Hoje, o maior salão do país é o
das Cataratas. Tanto para o ego,
quanto para o bolso. Vencer em
Foz é como ganhar na loteria",
afirma o piauiense José Antonio
Costa, o Jota A., 36.
Presente nos principais salões
do país desde 94, quando venceu
em casa o Festival de Humor do
Piauí, Jota A. conquistou, só neste
ano, dois primeiros lugares (Piauí
e Ribeirão Preto), dois segundos
lugares (Piracicaba e Presidente
Prudente), além de duas menções
honrosas (Pernambuco e Volta
Redonda). "Para a gente, que é do
Nordeste, o salão é uma vitrine.
Uma coisa é dizer que sou o cartunista do jornal de Teresina. Outra
é dizer que sou o cartunista que
venceu o salão de Piracicaba."
Também em busca de maior visibilidade nacional, o artista pernambucano Luciano Félix, 29, foi
um dos grandes papa-salões deste
2004: arrematou os primeiros lugares na categoria HQ em Piracicaba, Piauí e Volta Redonda.
"Tudo tem acontecido muito
rápido. Desde o início do ano já
foram cinco prêmios", diz o quadrinista, que pegou ainda um
quinto lugar em Foz do Iguaçu e
teve um de seus trabalhos selecionados no Festival Internacional
de Humor DST & Aids, promovido pelo Ministério da Saúde.
A maior bolada do ano, no entanto, ficou com Dálcio Machado,
32. Chargista do "Diário Popular", de Campinas, Dálcio embolsou sozinho um cheque de 10
mil como o vencedor da Bienal
Internacional de Caricatura e Desenho Humorístico de Santa Cruz
de Tenerife, na Espanha.
"Apesar de ter ganhado um dinheiro legal com meus prêmios,
nunca vivi exclusivamente deles",
afirma o cartunista, que participa
de salões desde os 13 anos e traz
no currículo 68 prêmios, incluídos aí os principais salões do Brasil, além de Coréia do Sul, Irã e Japão, hoje o prêmio mais alto do
mundo (cerca de US$ 20 mil).
"Alguns móveis da minha casa
têm o nome do salão de onde veio
a grana para comprá-los. O sofá se
chama Líbero Badaró, o guarda-corpo da escada é Unacon. Provavelmente, Tenerife vai ser o nome
de um carro e de algumas contas."
Ainda em 2004, outros brasileiros venceram prêmios no exterior, como é o caso de Cau Gomez, primeiro colocado do Prêmio de Humor Gráfico Curuxa
2004, realizado em La Coruña, na
Espanha; Bira Dantas, que venceu
na Turquia; Airon e Orlandeli,
ambos terceiros colocados no 4º
Concurso Internacional de Humor Gráfico sobre Novas Tecnologias da cidade basca de Barakaldo, na Espanha; e Rico, no 12º Concurso de Banda Desenhada e
Cartoon de Moura, em Portugal.
Opa, já dá para fazer um pé de
meia? "A verdadeira vocação dos
desenhistas é publicar. Os salões
são uma alternativa em países que
não têm um mercado editorial
forte. Quando você examina os
catálogos, nota que os trabalhos
vêm do Leste Europeu, da Ásia e
da América Latina. Os ingleses e
americanos pouco participam.
Nem mesmo os desenhistas dos
Estados centrais do Brasil, como
os Caruso, o Laerte e o Angeli.
Eles já têm espaço para publicar",
disserta o veterano Santiago, 54,
que já levantou a taça dos principais salões do Brasil e do mundo,
mas que deve também aos japoneses pelo menos alguns tijolinhos da residência em que vive
hoje em Porto Alegre.
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