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Bicampeão em Foz não é "fantasma"
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos cinco anos, alguns
dos principais salões de humor do
mundo têm trazido em sua lista
de vencedores o nome de Yuri
Ochakovsky. Nascido na ex-URSS e radicado em Israel desde
1995, o cartunista de 52 anos também não passou despercebido no
Brasil: só neste ano, foi primeiro
lugar em Piracicaba, bicampeão
em Foz do Iguaçu, que já havia ganhado em 2003, e menção honrosa no festival de Pernambuco.
A dupla premiação em Cataratas, no entanto, trouxe dor de cabeça aos organizadores do festival. "Fomos acusados de ter falsificado o vencedor. Teve gente dizendo que ele não existe e que era
uma desculpa para ficarmos com
o prêmio", afirmou Daniela Rangel Baptista, 34, diretora do Instituto Museu de Artes Gráficas e
uma das organizadoras do salão
de humor de Foz do Iguaçu.
Segundo Baptista, a acusação
partiu de moradores da cidade-sede do evento, que se mostraram
insatisfeitos com o resultado da
premiação e o conseqüente pagamento de (outros) US$ 10 mil ao
artista russo. Um dos fatores que
contribuíram para a polêmica foi
o fato de Ochakovsky, embora
convidado, não tenha comparecido ao evento no ano passado.
O mistério não é de todo infundado: durante os anos 80 um alemão oriental venceu diversos salões internacionais imitando o
traço e copiando os cartuns do argentino Quino.
A Folha apurou que, mesmo
entre os membros do júri de premiação, que incluía, entre outros,
a argentina Ana von Reuber, o paraguaio Casartelli e os brasileiros
Santiago, Dante, Albert Piauí,
Paulo e Chico Caruso e Angeli, a
vitória do estrangeiro não foi unânime. "Se o brasileiro pode ser
pentacampeão de futebol, por
que um russo não pode ser bi?",
argumentou um dos jurados.
Em breve entrevista por e-mail,
de Israel, Ochakovsky tentou esclarecer o mal-entendido: "Eu fui
convidado para ir ao Brasil neste
ano. Infelizmente, não consegui ir
por razões domésticas".
Arquiteto por formação, Ochakovsky conta que nunca teve propriamente o cartunismo como
profissão. "Quando vivia na
União Soviética, trabalhava como
arquiteto. Naquele tempo, fazer
cartum era só o meu hobby", contou ele, cuja primeira e isolada
participação em um evento de humor havia acontecido em 1975, na
Bienal de Gabrovo, na Bulgária.
Profissão: segurança
Só a partir de 1999, já em Israel, é
que tomou contato com o circuito
internacional de salões. Ainda assim, mesmo após ganhar algumas
dezenas de prêmios, o artista conta que não pode abandonar o trabalho como segurança, que garante sua sobrevivência na cidade
de Rishon Le-Zion.
"Eu quase não publico na imprensa. Talvez por isso nunca tenha tido problemas com a censura", revela Ochakovsky, cujo humor vai do lúdico ao político com
delicadeza e um traço inconfundível, que, goste ou não, o tem colocado no páreo em qualquer disputa internacional.
(DA)
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