São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2005

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Bicampeão em Foz não é "fantasma"

DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos cinco anos, alguns dos principais salões de humor do mundo têm trazido em sua lista de vencedores o nome de Yuri Ochakovsky. Nascido na ex-URSS e radicado em Israel desde 1995, o cartunista de 52 anos também não passou despercebido no Brasil: só neste ano, foi primeiro lugar em Piracicaba, bicampeão em Foz do Iguaçu, que já havia ganhado em 2003, e menção honrosa no festival de Pernambuco.
A dupla premiação em Cataratas, no entanto, trouxe dor de cabeça aos organizadores do festival. "Fomos acusados de ter falsificado o vencedor. Teve gente dizendo que ele não existe e que era uma desculpa para ficarmos com o prêmio", afirmou Daniela Rangel Baptista, 34, diretora do Instituto Museu de Artes Gráficas e uma das organizadoras do salão de humor de Foz do Iguaçu.
Segundo Baptista, a acusação partiu de moradores da cidade-sede do evento, que se mostraram insatisfeitos com o resultado da premiação e o conseqüente pagamento de (outros) US$ 10 mil ao artista russo. Um dos fatores que contribuíram para a polêmica foi o fato de Ochakovsky, embora convidado, não tenha comparecido ao evento no ano passado.
O mistério não é de todo infundado: durante os anos 80 um alemão oriental venceu diversos salões internacionais imitando o traço e copiando os cartuns do argentino Quino.
A Folha apurou que, mesmo entre os membros do júri de premiação, que incluía, entre outros, a argentina Ana von Reuber, o paraguaio Casartelli e os brasileiros Santiago, Dante, Albert Piauí, Paulo e Chico Caruso e Angeli, a vitória do estrangeiro não foi unânime. "Se o brasileiro pode ser pentacampeão de futebol, por que um russo não pode ser bi?", argumentou um dos jurados.
Em breve entrevista por e-mail, de Israel, Ochakovsky tentou esclarecer o mal-entendido: "Eu fui convidado para ir ao Brasil neste ano. Infelizmente, não consegui ir por razões domésticas".
Arquiteto por formação, Ochakovsky conta que nunca teve propriamente o cartunismo como profissão. "Quando vivia na União Soviética, trabalhava como arquiteto. Naquele tempo, fazer cartum era só o meu hobby", contou ele, cuja primeira e isolada participação em um evento de humor havia acontecido em 1975, na Bienal de Gabrovo, na Bulgária.

Profissão: segurança
Só a partir de 1999, já em Israel, é que tomou contato com o circuito internacional de salões. Ainda assim, mesmo após ganhar algumas dezenas de prêmios, o artista conta que não pode abandonar o trabalho como segurança, que garante sua sobrevivência na cidade de Rishon Le-Zion.
"Eu quase não publico na imprensa. Talvez por isso nunca tenha tido problemas com a censura", revela Ochakovsky, cujo humor vai do lúdico ao político com delicadeza e um traço inconfundível, que, goste ou não, o tem colocado no páreo em qualquer disputa internacional. (DA)


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