|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Ano começa com cinco filmes que mapeiam situação da produção nacional
Entre a comédia e o drama, Brasil é ilustrado nas telas
PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O ano começa com uma curiosa
seleção de filmes nacionais nas salas paulistanas, espelhando um
pouco o que houve de pertinente
em meio a longas de baixíssima
qualidade artística e que foram a
preponderância no ano que se
passou. Dois deles estréiam agora,
podendo esboçar também outra
temporada sofrível.
Há o novo Jorge Furtado, "Meu
Tio Matou um Cara", que estreou
nesta sexta. Assuntos comuns à sua
obra caíram por terra aqui, como
a questão do narrador e a verdade
da imagem.
Porque Furtado procurou, aqui,
fazer uma comédia juvenil, em
chave mais próxima do que vem
fazendo na TV. Até dirige bem a
história do adolescente cujo tio
supostamente matou o marido da
amante, mas abandona a sagacidade de suas obras anteriores.
O caso de Furtado ilustra o que
outros cineastas, não tão talentosos, erraram em 2004, em filmes
como "Viva Voz" e "Olga".
O público infanto-juvenil, surrado no ano passado, começa o
ano não mais feliz. Há "Xuxa e o
Tesouro da Cidade Perdida", longa audacioso de Moacyr Góes, vazado de referências a outros filmes de gênero, mas cujo resultado é dos piores da carreira cinematográfica da apresentadora.
"Tainá 2 - A Aventura Continua" é mais interessante no seu
making of. O diretor, Mauro Lima, rodou o filme sob encomenda na Amazônia, seguindo à risca
a pauta da produção. Um projeto
audacioso, filmado in loco sob as
mais inusitadas altercações selvagens, mas o resultado pode não
agradar a molecada acostumada à
fantasia importada.
Há um sucesso de público e crítica, mas daí vem a pergunta: será
que "Diários de Motocicleta" é
mesmo tão virtuoso? Não haja
dúvida que a condução da história siga firme na estrada bem pavimentada por Salles, mas falta
modernidade ao retrato que o cineasta arma sobre o mito de Che
Guevara. Ele parece aprisionado
não só neste mito, como também
na bandeira da identidade latino-americana, cuja complexidade
denuncia a retórica do discurso.
Por fim, o que houve de melhor
no ano pretérito foram os documentários, algo precioso para demolir a parede que separa ficção
de não-ficção. "Peões" é assinado
por Eduardo Coutinho, o que já
diz muito.
Mas é "Entreatos" o maior filme
nacional de 2004. Porque João
Moreira Salles não esconde a auteridade da imagem documental
poluída pela manipulação. Um
caso de metalinguagem que contribui para o assunto tratado: a
campanha presidencial de Lula, o
mais dramático e trágico personagem do cinema brasileiro dos
últimos anos.
Texto Anterior: As Espiãs - 1ª temporada Próximo Texto: Televisão: Atores "treinam" duro em "Alexandre" Índice
|