São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2005

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CINEMA

Ano começa com cinco filmes que mapeiam situação da produção nacional

Entre a comédia e o drama, Brasil é ilustrado nas telas

PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O ano começa com uma curiosa seleção de filmes nacionais nas salas paulistanas, espelhando um pouco o que houve de pertinente em meio a longas de baixíssima qualidade artística e que foram a preponderância no ano que se passou. Dois deles estréiam agora, podendo esboçar também outra temporada sofrível.
Há o novo Jorge Furtado, "Meu Tio Matou um Cara", que estreou nesta sexta. Assuntos comuns à sua obra caíram por terra aqui, como a questão do narrador e a verdade da imagem.
Porque Furtado procurou, aqui, fazer uma comédia juvenil, em chave mais próxima do que vem fazendo na TV. Até dirige bem a história do adolescente cujo tio supostamente matou o marido da amante, mas abandona a sagacidade de suas obras anteriores.
O caso de Furtado ilustra o que outros cineastas, não tão talentosos, erraram em 2004, em filmes como "Viva Voz" e "Olga".
O público infanto-juvenil, surrado no ano passado, começa o ano não mais feliz. Há "Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida", longa audacioso de Moacyr Góes, vazado de referências a outros filmes de gênero, mas cujo resultado é dos piores da carreira cinematográfica da apresentadora.
"Tainá 2 - A Aventura Continua" é mais interessante no seu making of. O diretor, Mauro Lima, rodou o filme sob encomenda na Amazônia, seguindo à risca a pauta da produção. Um projeto audacioso, filmado in loco sob as mais inusitadas altercações selvagens, mas o resultado pode não agradar a molecada acostumada à fantasia importada.
Há um sucesso de público e crítica, mas daí vem a pergunta: será que "Diários de Motocicleta" é mesmo tão virtuoso? Não haja dúvida que a condução da história siga firme na estrada bem pavimentada por Salles, mas falta modernidade ao retrato que o cineasta arma sobre o mito de Che Guevara. Ele parece aprisionado não só neste mito, como também na bandeira da identidade latino-americana, cuja complexidade denuncia a retórica do discurso.
Por fim, o que houve de melhor no ano pretérito foram os documentários, algo precioso para demolir a parede que separa ficção de não-ficção. "Peões" é assinado por Eduardo Coutinho, o que já diz muito.
Mas é "Entreatos" o maior filme nacional de 2004. Porque João Moreira Salles não esconde a auteridade da imagem documental poluída pela manipulação. Um caso de metalinguagem que contribui para o assunto tratado: a campanha presidencial de Lula, o mais dramático e trágico personagem do cinema brasileiro dos últimos anos.


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