da Redação

"O Sensualista" renova e revigora o prazer de ler. Uma história razoável, interessante, vem em uma embalagem primorosa, gostosa de ver, de tocar.
O livro é de capa dura. As páginas são em papel pintado de amarelo, com textura mais densa que a do papel comum. E as gravuras são uma história à parte, com informações que não só ilustram a trama.
O cuidado com o aspecto iconográfico faz parte da criação literária de Barbara Hodgson. Já foi assim em seu primeiro livro, "The Tattooed Map", e é neste "O Sensualista". A história é simples, pode ser resumida em uma frase: são as aventuras de uma mulher em busca do marido desaparecido.
Martin Evans, jornalista, desapareceu enquanto investigava fraudes no mundo artístico. Sua mulher, Helen Martin, estudiosa de arte anatômica antiga, já não aguenta mais as ausências. A acadêmica resolve ir atrás do repórter, para dizer que o casamento acabou. Decide ir a Viena, onde Martin estava na última vez que ouvira falar nele. É quando coisas estranhas começam a acontecer.
Ela dá de cara com "uma mulher gigantesca, velha, bigoduda, de peruca e óculos". É Rosa Kovslovsky, uma médica que não pratica a profissão há anos. É a primeira de uma série de personagens estranhas com quem Helen vai se encontrar durante sua busca pelo marido.
No centro da trama, ilustrações anatômicas antigas, raras, que são o mote dos estudos da historiadora da arte e também presentes que ela recebe. A anatomia, claro, é o tema das gravuras que ilustram o livro. Algumas têm o verniz da artesania antiga, outras têm a crueza de livros didáticos. E todas contam uma outra história, gráfica, que o leitor pode apreciar independentemente da história escrita. Mas é o texto que sustenta a trama. O palavreado é dos bons, com achados como "seu corpo era uma orquestra inflamada de ferroadas, coceiras e espasmos". O leitor é atraído a se embrenhar na história, mescla de descrições concretas e realismo fantástico, mistério e investigação.
O mistério não pega o leitor pelos cabelos, como alguns policiais. O estilo da obra e o estranhamento dos personagens convidam ao distanciamento, a saborear palavras, maluquices e gravuras. O fim é anticlimático. As coisas se resolvem de forma simples em comparação com o desenrolar intrigante. Mas aí, você já está terminando o livro, mesmo, e tudo bem. (RL) ˛