São Paulo, sexta-feira, 02 de fevereiro de 2001

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TEMPORADA DE OUTONO-INVERNO

Herchcovitch vira country pós-moderno


LOOK É INSPIRADO NA CANTORA SIOUXSIE


Influenciado por um alfaiate de Nashville, o estilista faz patchwork de referências


Associated Press
Aline Takashima com vestido de couro stretch, amazona da M.Officer, com Carlinhos Brown


ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA



Começou anteontem a São Paulo Fashion Week, o evento que lança 24 coleções para o outono-inverno 2001 na cidade, até o dia 5 de fevereiro, no parque Ibirapuera (zona sudoeste de São Paulo). M.Officer e Alexandre Herchcovitch fizeram os desfiles mais expressivos. Herchcovitch investiu novamente no caminho dos materiais tecnológicos, remixando um espírito country de maneira pós-moderna, criativamente desdobrando seus elementos. A referência é o trabalho do alfaiate norte-americano Nudie Cohen, que, na Nashville dos anos 40, assinava o figurino de todos os cantores country. Dele pegou a estrutura da alfaiataria e os bordados.
Assim, sapatos, botas, camisas, estampas e padrões fizeram de suas modelos vaqueiras punks, com franjas gigantes sobre os olhos -tapar o rosto das meninas é marca registrada do estilista.
O pink e o fúchsia serviam de cama para o exercício criativo de Herchcovitch, em diferentes camadas de tecidos e texturas, de décadas e referências. Anos 40 nos ombros; 50 nos vestidos cinturados com saia botijão; 60 nos botões; 70 no lurex; 80 no make Siouxsie Sioux apareceram na coleção de Herchcovitch como perfume borrifado. A meia soquete, por exemplo, veio com legging de látex grafite, um novo uso para o material com que já trabalha há anos, aqui com meia soquete fluo. É o estilo overdressed.
O legging também veio em vinil preto ou vermelho sangue, sob mantôs de lã com grandes botões, que podiam também ganhar franjas de plástico refletivo verde, desenhando as camisas do estilo cowboy característico.
A atitude, entretanto, é rock, reforçada pela trilha. As botas de cowboy, com salto quadrado, ganharam leituras variadas, em verde no início, bicolores depois, até acompanhar finalmente a explosão de cores (marrom, preto, bege, rosa) do final.
Os paetês refletivos voltaram, em laranja, no vestido de manga raglan com polaina de franja e no tank de paetê verde.
O refletivo foi cortado em pontas e virou um vestido furta-cor, em Katia Regina, e depois no top de Caroline Ribeiro.
Sem dúvida, o caminho da tecnologia vale a pena, ainda mais agora que Herchcovitch foi apontado pela nata da imprensa internacional como um dos criadores que trabalha melhor com materiais diferenciados (a revista "Vogue" América o colocou ao lado do japonês Junya Watanabe).
Outro caminho foi o dos vestidos, apresentados pela blusa desconstruída que parecia estar ao contrário, com falsa pala. Depois, um patchwork de recorte das camisas de rodeio com foulard falso, em rosa, lilás, cinza e bege. Estampas em rosa e marrom esquentam o inverno de Herchcovitch, em malha de lã, e a saia reta ganha volume e franjas, enquanto o acordeão da trilha aumenta.
Entram os macacões em lã rosa-choque, meio motoqueiro, meio 80, até os listrados em preto-e-branco, em saias e calças. A sensação é caleidoscópica, e a vertigem se completa pela calça de plástico refletivo verde picotada, em corte vaqueiro e suéter vovó em pink e preto. Tecnologia e manufatura conjugam até a alfaiataria requintada do costume de lã rosa com dourado, com microcasaca. Sandra Steuer encerra o desfile com um vestido que mistura cristais, tela, vinil e musseline drapeada, confundindo o olhar, numa opulência de cores.
A Ellus encerrou a noite com um desfile confuso, bem diferente da prévia de inverno da inauguração de sua loja nova. Foi pena. Perdeu-se num excesso de looks a tendência preppy (escolar) tão bem mostrada no jeanswear, em que também ficaram de fora os rasgados, a cintura baixa e as saias, restando somente o excelente trench-coat e os casacos transpassados, em lavagem correta e moderna.
Bem que a mistura das cores "cafonas" (roxo, vermelho, verde) e o polêmico scarpin prata até ensaiou uma inovação, que se perdeu depois em formas disparatadas e materiais pouco nobres. O styling também não ajudou, a maquiagem tombou, e o cabelo pin-up também não segurou até o fim. A iluminação, que privilegiava um vídeo ao fundo, tornou a passarela irregular (essa também poderia ser mais caprichada).
Por fim, impossível não mencionar o drama em que se transformou um problema de acabamento: os sapatos caíam dos pés das modelos e, por alguns instantes, todo o público deixou de ver as roupas para ver as meninas perdendo o scarpin e chutando outros pela passarela.


Alexandre Herchcovitch:      Ellus:   

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