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CINEMA/ESTRÉIAS
"BEATLES - OS REIS DO IÊ-IÊ-IÊ"
O mundo de uma "boys band" que usa playback
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quer ver uma "boys band"
fazendo playback e ainda assim achar o máximo? Então
acompanhe a multidão e saia correndo e gritando atrás de John,
Paul, George e Ringo, que voltam
ao cinema hoje na cópia restaurada e remasterizada no espetacular
"Beatles - Os Reis do Iê-Iê-Iê", que
estréia em São Paulo e no Rio.
Documental sem ser documentário e se valendo do fato de a banda de Liverpool ser para sempre
acima do bem e do mal, o filme
vai muito além de seu título brasileiro datado e do introdutório
"Beatles" de seu começo.
Realizado em 1964, quando o
grupo era "apenas" mundialmente famoso, mas ainda não havia
alcançado a divindade, esse novo
"Os Reis do Iê-Iê-Iê" que atravessa o século não chega embrulhado
em cenas inéditas ou músicas adicionais ou efeitos computadorizados. Seria desnecessário.
O filme mostra um duro dia na
vida dos quatro fabulosos integrantes da banda, quando duro
no caso deles era fugir de fãs malucas, responder cartas, gravar
programas de TV, dar entrevistas,
fazer shows.
Na primeira incursão no cinema dos Beatles, seus rapazes resolvem, em clima de improviso e
pastelão, dar um bico na fama e
exercitar a rebeldia juvenil. John,
Paul, George e Ringo caçoam de
tudo (à inglesa), aprontam com
jornalistas, brincam de enganar
os fãs, enlouquecem seus agentes,
dão trabalho nas gravações. Eram
os anos 60 e os músicos estavam
nos 20 e poucos anos.
Toda essa inocência rock'n'roll
foi comandada com maestria pelo
então novato cineasta americano
Richard Lester, convocado, veja
você, para levar o fenômeno Beatles ao cinema antes que a moda
passasse.
Lester então armou um enredo
bobinho e cheio de sequências
fraturadas para o quarteto de
não-atores, deixou o grupo bem à
vontade e fez esse histórico retrato de época que ainda hoje apresenta um delicioso frescor. Era o
princípio da beatlemania transformado em uma espécie de cinema-verdade dirigido pelos irmãos
Marx.
Não foi difícil fazer funcionar.
Afinal, em meio a todo esse clima
anárquico, apareciam os Beatles
para cantar "A Hard Day's
Night", "Can't Buy Me Love", "I
Should've Known Better" e "If I
Fell", entre outras.
Com Lester no comando e os
Beatles em ação, "Os Reis do Iê-Iê-Iê" foi a primeira grande transposição do rock para as telas.
Com seus cortes de cenas inovadores, seus diálogos e ação misturados com números musicais, é
considerado a pré-história do videoclipe.
Não é bobagem dizer, dificilmente a MTV existiria ou ao menos seria como ela é se não fosse
esse "Os Reis do Iê-Iê-Iê".
Bastidor
Como se não bastasse, o filme
tem várias ótimas histórias de
bastidor.
Uma delas é a presença de um
adolescente Phil Collins (ex-Genesis e hoje consagrado cantor solo) na platéia do programa de TV,
gritando histérico junto com as
meninas enquanto os Beatles tocavam.
Outra se passou no primeiro dia
das filmagens, no trem que é visto
no começo do filme. No final dos
trabalhos iniciais, os Beatles, estrategicamente, foram deixados
fora de Londres. Quando o trem
chegou à capital inglesa, uma
multidão apareceu do nada gritando pelos rapazes, que não estavam. Um garoto que tinha uns 20
anos e imitava o corte tigela dos
Beatles no cabelo, desceu do trem
carregando negativos do filme. As
fãs, pensando que o carregador
era um beatle, voou atrás do jovem e o agarrou na corrida, deixando cair as latas de filme e estragando metade do material gravado no dia.
Então fica assim. Os 200 mil jovens que compareceram à noite
teen do Rock in Rio 3 estão intimados a ver "Os Reis do Iê-Iê-Iê".
E os milhões que não estiveram
na Cidade do Rock também.
Beatles - Os Reis do Iê-Iê-Iê
A Hard Day's Night
Direção: Richard Lester
Produção: Inglaterra, 1964
Com: Ringo Starr, George Harrison, Paul
McCartney, John Lennon
Quando: a partir de hoje nos cines Unibanco, Iguatemi, Jardim Sul,
Cinemark Market Place, Pátio
Higienópolis e Paulista
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