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LIVROS/LANÇAMENTOS
"TODA PROSA"
Narrativas abordam temáticas urbanas e problemas existenciais
Márcia Denser desenvolve
sua maturidade literária
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Antes ela gostava de provocar
com um "venham me pegar".
Mulher emancipada, entrou para
as antologias como Diana Marini,
a levada, a safada, mas ingênua
personagem dos anos 80.
Hoje reaparece em "Toda Prosa" como Júlia Zemmel, uma mulher mais comedida, séria, que
pensa antes de agir e sabe rir de si
mesma. Esta é a personagem criada pela escritora paulista Márcia
Denser, 45, para esses anos 90 e
início de século.
Aos 25 anos de carreira, após viver sua fase "amadora, quando
nos apaixonávamos pela causa literária", a maturidade chega: "Está na hora de eu saber me nomear.
Escritor não tem impunidade",
explica a autora sobre o motivo de
incluir na reunião de textos inéditos e dispersos uma apresentação
em que se analisa criticamente.
"Atingida a maturidade literária, me confesso uma escritora
cult de linhagem clariceana, cortazariana, faulkneriana e por aí
vai", escreve.
A racionalidade crítica acompanha a criação de Denser já faz bastante tempo. "É importante para
o escritor olhar o outro lado da
criação. Gosto de saber o que fiz,
por que fiz. Sem surpresa depois.
Esse negócio de não saber é para
quando somos jovens. Com a maturidade intelectual e cultural adquire-se uma visão crítica. Crítica
que sempre vem a posteriori."
Embora a passagem de Diana
para Júlia caracterize a profundidade reflexiva deste "Toda Prosa", primeiro livro solo desde 92, a
personagem principal é mesmo a
"prosa poética". "Retorno a minhas manias, como quem retorna
a locais para rezar", explica Denser, lembrando da característica
repetitiva da poesia.
Traduzida em diversos idiomas,
suas narrativas giram ao redor de
temáticas urbanas e problemas
existenciais contemporâneos.
"São minhas obsessões", diz, citando o escritor argentino Jorge
Luis Borges.
Em "Toda Prosa", o duplo "desejo e pó", tomado longinquamente ao latino Horácio, como
que costura muitos dos contos e
novelas do volume. A raiz poética
se instala pela recorrência dessa
idéia, que vai sendo vista de ângulos diferentes.
Ao todo são sete contos e duas
novelas. Entre os contos, há os
inéditos "Cometa Austin", "Trade
Lights", "Memorial de Álvaro
Gardel" e "O Último Tango em
Jacobina" (publicado em alemão
e inglês). Entre as novelas, "Exercícios para o Pecado", narrativa
do final dos anos 80 perdida com
a morte do editor Ênio da Silveira.
"Um bom conto se escreve em
quatro meses", diz a meticulosa
escritora. Mas tanta técnica não
condiz com seus arroubos poéticos confessados.
"Preciso ficar tomada. O "Memorial de Álvaro Gardel" escrevi
durante a agonia de meu pai, antes de ele morrer. Fechei o caderno escrito a mão e não consegui
lê-lo durante dois anos. Quando
fui olhar, o conto já estava pronto.
Foi só dar a forma final."
O mesmo aconteceu com "Relatório Final", que está em "Diana
Caçadora" (86): "Escrevi em seis
horas, nunca mudei uma vírgula.
Escrevo sob emoção intensa, para
salvar minha vida, como se exorcizando um demônio, um íncubo,
um súcubo. Isso num primeiro
momento e para a maioria dos
textos, não para todos".
Agora a escritora prepara uma
coletânea das crônicas publicadas
na "Folha da Tarde" entre 1985 e
1987 e vai burilando uma novela,
"Sagrados Laços Frouxos". "Mas
os trabalhos não estão maduros e
não tenho pressa", completa.
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