São Paulo, terça-feira, 02 de fevereiro de 2010

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Escritor argentino Eloy Martínez morre aos 75

Autor de "Santa Evita" e "O Romance de Perón" sofria de câncer no cérebro

Martínez, que também foi jornalista e professor nos EUA, expressou desejo de ser cremado, o que deve acontecer em Buenos Aires

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

O jornalista e escritor argentino Tomás Eloy Martínez morreu na noite do último domingo, aos 75 anos, em Buenos Aires. Eloy Martínez sofria de câncer, e nos últimos meses conviveu com o agravamento do tumor instalado no cérebro, mas não deixou de trabalhar.
Seu maior sucesso literário é "Santa Evita", editado em mais de 30 países. No Brasil, saiu pela Companhia das Letras, com tradução de Sergio Molina (R$ 59,90; 144 págs.).
No livro, Martínez tece a história do corpo embalsamado de Eva Duarte Perón (1919-1952) nos anos em que seu paradeiro era desconhecido -a partir de 1955, após a queda do governo de Perón, quando os autores da autodenominada "Revolução Libertadora" confiscaram o corpo da mulher do presidente deposto, até 1971.
Eloy Martínez enxertou na narrativa de "Santa Evita" uma parte das longas entrevistas que realizou com Perón nos anos 1960 e que eram um de seus orgulhos.
É famosa entre jornalistas -que o consideram um mestre- a história de seu début literário, aos 10 anos de idade, com um conto sobre um garoto que se esconde num selo postal para poder viajar pelo mundo. A ficção foi produto de um castigo dos pais, que o trancaram num quarto e o proibiram de ler, depois que ele saiu sem avisar de um espetáculo de circo.
No início da carreira jornalística, Eloy Martínez foi crítico de cinema do diário "La Nación", do qual atualmente era colunista -suas colunas eram publicadas também pelo "New York Times" e pelo espanhol "El País". É autor de dez roteiros para cinema -três deles em parceria com o paraguaio Augusto Roa Bastos.
Numa obra marcadamente política, destaca-se "A Paixão Segundo Trelew" (1974), um relato do massacre de 16 guerrilheiros, repudiado e censurado pela ditadura.
Com "O Voo da Rainha" (Objetiva, R$ 39,90), recebeu o Prêmio Alfaguara, uma das principais distinções a autores de língua espanhola. Entre as obras mais recentes estão "O Cantor de Tango" (Companhia das Letras, R$ 44,50) e "Purgatório" (Companhia das Letras, R$ 42), em que revisita o período da ditadura militar (1976-1983) com o reencontro de um casal 30 anos depois do golpe.
Durante o período em que ele se exilou da ditadura em Caracas, escreveu "Lugar Comun la Muerte". Viveu também nos Estados Unidos, onde lecionou na Universidade Rutgers, em Nova Jersey, e dirigiu o programa de estudos latino-americanos da universidade.
Como jornalista, fundou diários, foi correspondente internacional, dirigiu e colaborou com diversas publicações. É cofundador da Fundação para o Novo Jornalismo, iniciativa de Gabriel García Márquez. No ano passado, recebeu o Prêmio Ortega y Gasset, em reconhecimento à carreira jornalística.
Nascido em Tucumán, onde se formou em literatura, o escritor teve sete filhos, de três diferentes casamentos. Eloy Martínez expressou o desejo de que suas cinzas ficassem depositadas no cemitério de Buenos Aires, onde seu corpo era velado ontem e seria cremado.


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