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TEATRO/CRÍTICA
"Os Sete Gatinhos" apresenta montagem reverente
KIL ABREU
ESPECIAL PARA A FOLHA
Por via do melodrama suburbano que se seguiu às peças da chamada "fase mítica",
Nelson Rodrigues leva à cena as
rachaduras na consciência da
classe média carioca a partir do final dos anos 50. São textos que recuperam as interdições da moral
coletiva (representadas pelo desejo sublimado também ao ponto
da mitificação) para, em seguida,
seviciá-las por meio de personagens levados a assumir diferentes
desregramentos.
O mote em "Os Sete Gatinhos" é
a virgindade de Silene, exaltada
religiosamente pelo pai, Noronha,
e em torno da qual a vida das outras mulheres da família se projeta
e organiza. Em certa altura, os valores instituídos vêm abaixo, ao
tempo em que se ergue, por meio
de uma sórdida liturgia, o espaço
de revelação onde se manifestam
os instintos mais elementares.
A montagem dirigida por Vadim Nikitin é anunciada em tom
existencialista (por Cazuza grunhindo saborosamente frases de
Clarice Lispector) e encerrada como trocadilho extraído de uma
cantiga de roda.
É pena que o traçado central do
espetáculo não tenha a mesma
marca firme de seu contorno, ainda que as opções sejam discutíveis. A intenção do diretor em estabelecer um jogo cênico autoral e
em ampliar o alcance do texto fica
suspensa diante da hesitação entre acompanhar fielmente a dramaturgia ou avançar sobre ela, estabelecendo uma fala própria.
Essa dúvida sobre o código com
o qual o espetáculo comunica é
mais evidente na condução dos
atores. O elenco ora vive os personagens com inteireza realista e
sem nenhuma distância crítica (é
o caso das ótimas Déborah Lobo/
Aurora e Tatiana Thomé/Silene),
ora o faz com desempenho de
igual qualidade, mas em registro
diferente, pontuado pela auto-ironia (Luis Miranda/seu Noronha e Mila Ribeiro/d. Aracy).
Embora o espetáculo não se decida pela amplificação do jogo
teatral, o saldo artístico é positivo
e conquista a platéia, o que não
encobre as ditas incertezas na
concepção cênica. Só pela confirmação dos meios teatrais apenas
esboçados saberíamos como a
companhia de fato quer intervir e
interpretar sua matéria de base.
Afora isso, sobra uma boa, mas
reverente montagem, que investe
pouco no seu apenas insinuado
salto poético.
Os Sete Gatinhos
Texto: Nelson Rodrigues
Direção: Vadim Nikitin
Com: Luis Miranda, Mila Ribeiro, Tatiana
Thomé, Déborah Lobo, Cibele Forjaz,
José Germano Melo, Edgar Castro e
outros
Onde: TBC (r. Major Diogo, 315, Bela
Vista, tel. 3115-4622)
Quando: hoje e amanhã, às 19h; dom.,
às 18h
Quanto: R$ 15
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