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Métailié lança Suassuna e antologia de contos
de Paris
As edições Métailié podem não
ser especializadas em literatura
brasileira, mas, de 300 títulos publicados em 18 anos, 40 são brasileiros.
As mais novas obras são "A Pedra do Reino", de Ariano Suassuna, que reescreveu uma versão especialmente para a tradução francesa, e "Des Nouvelles du Brésil"
(Contos do Brasil), uma antologia
de contos de autores clássicos e
novos talentos brasileiros.
A editora, Anne-Marie Métailié,
estudou sobre o Brasil ainda na faculdade, quando foi aluna de Antonio Candido na Sorbonne, e se
interessou de primeira: "Quando
você tem 20 anos e descobre Carlos Drummond de Andrade, não
esquece...", disse à Folha.
(MC)
Folha - Como é o mercado literário brasileiro na França?
Anne-Marie Métailié - Estamos
contando muito com o Salão do
Livro para mostrar a literatura
brasileira. Para os franceses, o Brasil é apenas música. No campo da
literatura, os brasileiros vendem
menos que os hispano-americanos.
O salão vai mostrar que há um
grupo de autores muito diferente.
Os leitores poderão se relacionar
com a sensibilidade dos indivíduos que estarão ali.
Os leitores são muito ávidos de
contatos físicos. No salão, o mais
importante são os encontros com
os autores, escutá-los e ler trechos
de suas obras.
Folha - Como foi feita a escolha
dos autores de "Nouvelles du Brésil", que traz textos de Guimarães
Rosa, Clarice Lispector, Raduan
Nassar e Rubem Fonseca?
Anne-Marie - O projeto foi de
Clélia Pisa. A gente queria mostrar
coisas novas e sair um pouco dos
clichês que os franceses têm do
Brasil.
Queremos que seja um tira-gosto da literatura brasileira, por isso
escolhemos autores clássicos e recentes, para mostrar tendências e
tons novos. Muitos textos, como
"O Velho", de Raduan Nassar, foram traduzidos só para essa antologia.
Folha - Os livros são acessíveis a
todos?
Anne-Marie - Hoje em dia, os
leitores não querem desembolsar
mais de US$ 17 por um livro.
Meu objetivo é pôr à disposição
do público literatura de qualidade
e barata. É verdade que há exceções, como "A Pedra do Reino",
de Ariano Suassuna, mas não tinha como fazer uma edição barata
de um livro de 324 páginas.
O original brasileiro é enorme.
Eu não tinha condições de publicar uma tradução tão comprida, o
livro tem quase 700 páginas.
A tradutora, Idelette Muzart,
convenceu Suassuna a cortar o livro, e ele acabou reescrevendo
completamente a obra, que intitulou "A Pedra do Reino - Versão
para Europeus e Brasileiros Sensatos".
Fizemos uma edição ilustrada,
com lindas vinhetas para cada capítulo que Suassuna desenhou.
Vai ter até uma xilogravura.
Folha - Como escolhe as obras?
Anne-Marie - Fora essa coletânea, é tudo totalmente subjetivo.
Adoro Dalton Trevisan. Alguns
escritores que não pude publicar
são para mim como uma desilusão
amorosa.
Acho o texto "Os Bêbados e os
Sonâmbulos", de Bernardo Carvalho, uma pequena maravilha. Fiquei tão triste quando soube que
outra editora francesa já havia
comprado os direitos.
Carlos Heitor Cony também.
"Quase Memória" é magnífico.
Entendo que ele tenha preferido a
editora Gallimard, mas fiquei triste.
Em literatura, como não sabemos nunca o que vai ser vendido, a
melhor coisa é ter prazer em publicar obras que nós gostamos.
Folha - E o caso de Paulo Coelho?
Anne-Marie - Era imprevisível.
Mas, para mim, Paulo Coelho não
é literatura. Me foi proposto, mas
não me interessei, porque não
gosto do que ele conta, não é o
meu estilo. Não gosto de espiritualidade "light".
Folha - Alguns títulos de livros
mudam completamente...
Anne-Marie - É verdade, mas às
vezes alguns títulos não funcionam.
Se eu tivesse posto à venda o livro do José Saramago como "Memorial do Convento", no país laico que é a França, eu não teria vendido um só.
Liguei para Saramago e perguntei se ele não tinha pensado em um
outro título que ele tinha abandonado depois. E ele disse que sim. O
título anterior era "O Deus Manco". E foi esse que adotamos em
francês.
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