São Paulo, segunda, 2 de março de 1998

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Métailié lança Suassuna e antologia de contos

de Paris

As edições Métailié podem não ser especializadas em literatura brasileira, mas, de 300 títulos publicados em 18 anos, 40 são brasileiros.
As mais novas obras são "A Pedra do Reino", de Ariano Suassuna, que reescreveu uma versão especialmente para a tradução francesa, e "Des Nouvelles du Brésil" (Contos do Brasil), uma antologia de contos de autores clássicos e novos talentos brasileiros.
A editora, Anne-Marie Métailié, estudou sobre o Brasil ainda na faculdade, quando foi aluna de Antonio Candido na Sorbonne, e se interessou de primeira: "Quando você tem 20 anos e descobre Carlos Drummond de Andrade, não esquece...", disse à Folha.
(MC)

Folha - Como é o mercado literário brasileiro na França?
Anne-Marie Métailié
- Estamos contando muito com o Salão do Livro para mostrar a literatura brasileira. Para os franceses, o Brasil é apenas música. No campo da literatura, os brasileiros vendem menos que os hispano-americanos.
O salão vai mostrar que há um grupo de autores muito diferente. Os leitores poderão se relacionar com a sensibilidade dos indivíduos que estarão ali.
Os leitores são muito ávidos de contatos físicos. No salão, o mais importante são os encontros com os autores, escutá-los e ler trechos de suas obras.
Folha - Como foi feita a escolha dos autores de "Nouvelles du Brésil", que traz textos de Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Raduan Nassar e Rubem Fonseca?
Anne-Marie
- O projeto foi de Clélia Pisa. A gente queria mostrar coisas novas e sair um pouco dos clichês que os franceses têm do Brasil.
Queremos que seja um tira-gosto da literatura brasileira, por isso escolhemos autores clássicos e recentes, para mostrar tendências e tons novos. Muitos textos, como "O Velho", de Raduan Nassar, foram traduzidos só para essa antologia.
Folha - Os livros são acessíveis a todos?
Anne-Marie
- Hoje em dia, os leitores não querem desembolsar mais de US$ 17 por um livro.
Meu objetivo é pôr à disposição do público literatura de qualidade e barata. É verdade que há exceções, como "A Pedra do Reino", de Ariano Suassuna, mas não tinha como fazer uma edição barata de um livro de 324 páginas.
O original brasileiro é enorme. Eu não tinha condições de publicar uma tradução tão comprida, o livro tem quase 700 páginas.
A tradutora, Idelette Muzart, convenceu Suassuna a cortar o livro, e ele acabou reescrevendo completamente a obra, que intitulou "A Pedra do Reino - Versão para Europeus e Brasileiros Sensatos".
Fizemos uma edição ilustrada, com lindas vinhetas para cada capítulo que Suassuna desenhou. Vai ter até uma xilogravura.
Folha - Como escolhe as obras?
Anne-Marie
- Fora essa coletânea, é tudo totalmente subjetivo.
Adoro Dalton Trevisan. Alguns escritores que não pude publicar são para mim como uma desilusão amorosa.
Acho o texto "Os Bêbados e os Sonâmbulos", de Bernardo Carvalho, uma pequena maravilha. Fiquei tão triste quando soube que outra editora francesa já havia comprado os direitos.
Carlos Heitor Cony também. "Quase Memória" é magnífico. Entendo que ele tenha preferido a editora Gallimard, mas fiquei triste.
Em literatura, como não sabemos nunca o que vai ser vendido, a melhor coisa é ter prazer em publicar obras que nós gostamos.
Folha - E o caso de Paulo Coelho?
Anne-Marie
- Era imprevisível. Mas, para mim, Paulo Coelho não é literatura. Me foi proposto, mas não me interessei, porque não gosto do que ele conta, não é o meu estilo. Não gosto de espiritualidade "light".
Folha - Alguns títulos de livros mudam completamente...
Anne-Marie
- É verdade, mas às vezes alguns títulos não funcionam.
Se eu tivesse posto à venda o livro do José Saramago como "Memorial do Convento", no país laico que é a França, eu não teria vendido um só.
Liguei para Saramago e perguntei se ele não tinha pensado em um outro título que ele tinha abandonado depois. E ele disse que sim. O título anterior era "O Deus Manco". E foi esse que adotamos em francês.



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