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ARTE URBANA
Quatro mulheres planejam passar uma semana sem pisar no chão; grupo faz "teste" em goiabeiras, figueiras e ficus de SP
Árvores viram palco para performances
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Passar sete dias em cima de uma
árvore. Comer, dormir, realizar
todas as atividades -e necessidades- da vida cotidiana sem colocar os pés no chão.
Um grupo de quatro performers (moças com idades entre 24
e 33 anos) pretende levar a cabo
essa experiência em agosto próximo. Por enquanto, elas realizam
ensaios aos sábados e domingos
em goiabeiras, figueiras, ficus e tipuanas plantadas em diferentes
regiões da capital. Hoje, elas devem passar cinco horas (a partir
das 10h) numa árvore no canteiro
central da avenida Pacaembu, entre as ruas Veiga Filho e Goitacás,
na zona oeste de São Paulo.
"Enquanto a Árvore Espera na
Semente" é um projeto de Carolina Pinzan, 24, diretora e uma das
protagonistas da performance.
Formanda em direção na ECA-USP (Escola de Comunicações e
Arte da Universidade de São Paulo), Pinzan está acostumada a lidar com a adversidade no "palco". Atualmente, ela trabalha como diretora de cena de "BR3", espetáculo do Teatro da Vertigem
encenado no rio Tietê. A peça estreou na quarta retrasada depois
de alguns adiamentos por conta
das dificuldades do local.
Nas árvores, lugar também
pouco usual para espetáculos, há
o perigo constante de quedas. "Lidamos com o risco o tempo todo,
não podemos desviar a atenção
nenhum minuto", afirma. Nenhum acidente grave aconteceu
nos ensaios, que começaram há
cinco meses.
Mas por que fazer uma performance em cima de uma árvore?
"Por que não fazer?", devolve a diretora. "A árvore acessa outro
tempo. Ficamos três horas em cima de uma árvore e internamente
parece que foram 50 minutos.
Queremos abrir essa pausa para
as outras pessoas", explica.
Na chuvosa manhã do último
domingo, o grupo, acompanhado
de dois músicos e de um preparador físico, estava pendurado numa espaçosa tipuana na praça
Waldir Azevedo, no Alto da Lapa.
De longe, o segurança Manuel
Ramos Bispo, 52, observava o
grupo. "Estou olhando meu tempo, quando também fazia isso."
Estranhamento e saudosismo
são reações bastante comuns nos
ensaios, realizados no Anhangabaú e nas avenidas Francisco Matarazzo e Doutor Arnaldo.
"As pessoas estão muito anestesiadas. Acho que ações como essa
podem trazer de forma lúdica
uma reflexão e uma consciência
ambiental", opinou o psicoterapeuta Francisco Coelho Filho, 53,
que caminhava pela praça.
A diretora afirma que um dos
objetivos da performance é dar
um "novo significado" às árvores
da metrópole. "Quando era criança, minha brincadeira favorita era
de aventura, no meio do mato,
num lugar conhecido como Horto do Ipê, no Campo Belo [zona
sul]. Hoje, mais da metade das árvores foram cortadas", conta.
Árvore urbana
Segundo a diretora, o grupo já
pediu autorização da prefeitura
para realizar a performance, que
necessita de uma estrutura paralela à árvore e equipamentos de
segurança. Apesar de os ensaios
acontecerem pela cidade, a idéia é
que a experiência seja feita no
centro. "Cogitamos a praça Dom
Pedro e a da Luz, onde há uma figueira centenária. Mas não queremos ficar dentro de um parque.
Preferimos uma árvore urbana."
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