São Paulo, domingo, 02 de abril de 2006

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ARTE URBANA

Quatro mulheres planejam passar uma semana sem pisar no chão; grupo faz "teste" em goiabeiras, figueiras e ficus de SP

Árvores viram palco para performances

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Passar sete dias em cima de uma árvore. Comer, dormir, realizar todas as atividades -e necessidades- da vida cotidiana sem colocar os pés no chão.
Um grupo de quatro performers (moças com idades entre 24 e 33 anos) pretende levar a cabo essa experiência em agosto próximo. Por enquanto, elas realizam ensaios aos sábados e domingos em goiabeiras, figueiras, ficus e tipuanas plantadas em diferentes regiões da capital. Hoje, elas devem passar cinco horas (a partir das 10h) numa árvore no canteiro central da avenida Pacaembu, entre as ruas Veiga Filho e Goitacás, na zona oeste de São Paulo.
"Enquanto a Árvore Espera na Semente" é um projeto de Carolina Pinzan, 24, diretora e uma das protagonistas da performance. Formanda em direção na ECA-USP (Escola de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo), Pinzan está acostumada a lidar com a adversidade no "palco". Atualmente, ela trabalha como diretora de cena de "BR3", espetáculo do Teatro da Vertigem encenado no rio Tietê. A peça estreou na quarta retrasada depois de alguns adiamentos por conta das dificuldades do local.
Nas árvores, lugar também pouco usual para espetáculos, há o perigo constante de quedas. "Lidamos com o risco o tempo todo, não podemos desviar a atenção nenhum minuto", afirma. Nenhum acidente grave aconteceu nos ensaios, que começaram há cinco meses.
Mas por que fazer uma performance em cima de uma árvore? "Por que não fazer?", devolve a diretora. "A árvore acessa outro tempo. Ficamos três horas em cima de uma árvore e internamente parece que foram 50 minutos. Queremos abrir essa pausa para as outras pessoas", explica.
Na chuvosa manhã do último domingo, o grupo, acompanhado de dois músicos e de um preparador físico, estava pendurado numa espaçosa tipuana na praça Waldir Azevedo, no Alto da Lapa.
De longe, o segurança Manuel Ramos Bispo, 52, observava o grupo. "Estou olhando meu tempo, quando também fazia isso."
Estranhamento e saudosismo são reações bastante comuns nos ensaios, realizados no Anhangabaú e nas avenidas Francisco Matarazzo e Doutor Arnaldo.
"As pessoas estão muito anestesiadas. Acho que ações como essa podem trazer de forma lúdica uma reflexão e uma consciência ambiental", opinou o psicoterapeuta Francisco Coelho Filho, 53, que caminhava pela praça.
A diretora afirma que um dos objetivos da performance é dar um "novo significado" às árvores da metrópole. "Quando era criança, minha brincadeira favorita era de aventura, no meio do mato, num lugar conhecido como Horto do Ipê, no Campo Belo [zona sul]. Hoje, mais da metade das árvores foram cortadas", conta.

Árvore urbana
Segundo a diretora, o grupo já pediu autorização da prefeitura para realizar a performance, que necessita de uma estrutura paralela à árvore e equipamentos de segurança. Apesar de os ensaios acontecerem pela cidade, a idéia é que a experiência seja feita no centro. "Cogitamos a praça Dom Pedro e a da Luz, onde há uma figueira centenária. Mas não queremos ficar dentro de um parque. Preferimos uma árvore urbana."


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