São Paulo, sábado, 02 de abril de 2011

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CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

Músicos da Osesp imprimem sutileza a atuação enérgica


FORAM OS SOLISTAS DA OSESP QUE IMPRIMIRAM NECESSÁRIOS TOQUES DE DELICADEZA AO PROGRAMA


SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

O maestro Yan Pascal Tortelier -titular da Osesp até o final do ano- tem elevado bastante o nosso grau de exigência para com as sutilezas do repertório francês e, por isso mesmo, a energia da regente portuguesa Joana Carneiro talvez tenha sido excessiva para as obras de Maurice Ravel (1875-1937) e Olivier Messiaen (1908-1992) apresentadas pela orquestra nesta semana.
Um exemplo pode ser tomado das suítes "Daphnis et Chloé" (1912), que Ravel extraiu do balé encomendado por Diaghilev (1872-1929), coreografado por Fokine (1880-1942) e estreado em Paris, tendo Nijinski (1890-1950) como protagonista.
Mesmo nos momentos de maior intensidade dinâmica -como nas danças finais das duas suítes-, a música de Ravel parece resistir ao êxtase selvagem: tal como em Proust (1871-1922) ou Monet (1840-1926), planos de memória e luz interagem, agregam plasticidade sem perda de detalhes.
E talvez por terem experimentado esses sabores na temporada passada -em obras do próprio Ravel, como "Rapsódia Espanhola" e "Alborada del Gracioso"-, foram os solistas da Osesp (tendo como destaque a flautista Jessica Dalsant) que imprimiram necessários toques de delicadeza ao programa.

DEVOÇÃO
As nove canções que formam os "Poèmes pour Mi" (1936), de Messiaen, foram cantadas com devoção por Carmen Monarcha, soprano paraense mais conhecida por sua atuação na orquestra do violinista André Rieu.
Sua bela voz foi, entretanto, engolida pela orquestra na maior parte do tempo. É uma voz leve e homogênea -os graves surgiram bem em "Os Dois Guerreiros"-, e seria interessante ouvi-la cantar também outros repertórios.
O texto dos "Poèmes" celebra sinestesicamente a felicidade conjugal, e a música já utiliza as escalas simétricas que influenciariam fortemente as gerações seguintes. Para um brasileiro, o som de Messiaen -sua religiosidade, as cores orquestrais- remete invariavelmente a Almeida Prado (1943-2010), que estudou com ele em Paris nos anos 1970.
A execução mais interessante ocorreu em uma obra do século 21: "Helix" (2005), do regente-compositor finlandês Esa-Pekka Salonen.
Nesta, a velocidade crescente do pulso métrico recebe freios rítmicos rigorosos, o que gera aproximações e distanciamentos atípicos entre os materiais musicais.

OSESP COM JOANA CARNEIRO E CARMEN MONARCHA

QUANDO hoje, às 16h30
ONDE Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, 16; tel. 0/xx/11/3223-3966)
QUANTO de R$ 24 a R$ 135
CLASSIFICAÇÃO 7 anos
AVALIAÇÃO bom


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