São Paulo, quinta, 2 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SHOW CRÍTICA
São Paulo viu Byrne dar tudo de si

PAULO VIEIRA
especial para a Folha

O show que David Byrne deu anteontem, no Palace, foi uma repetição precisa -talvez sem efeitos de distorção de voz- do que ele vem fazendo desde que estreou "Feelings" no verão europeu passado.
Com um tecladista munido de milhares de bases pré-gravadas, um baterista com um set quase todo eletrônico, um baixista e uma backing vocal, empunhando ele eventualmente a guitarra e trajando um costume de pelúcia rosa, Byrne começou com "Fuzzy Freaky", a faixa que também abre seu último disco solo, "Feelings".
O que se viu daí por diante foi uma combinação de "Feelings" com algumas releituras de antigas dos Talking Heads, a banda que liderou e onde hoje (sob nome The Heads) só encontra desafetos.
Mas, para ficar em três exemplos, se "Once in Lifetime", "Psycho Killer" e a sensacional "I Zimbra", clássicos dos TH, foram bastante modificadas, tendo batidas aceleradas, algumas citações e ritmos incluídos, Byrne não conseguiu se desprender das velhas melodias, restaurando-as com sua voz bastante razoável para cantor de rock.
Nesse sentido, Byrne, mesmo sincronizado com tendências musicais, melhor dizendo, sonoras, contemporâneas -mal conheceu os ingleses do Morcheeba, súbito os chamou para produzir "Feelings"-, não opera a revolução em seu próprio repertório.
Não o faz como um dinossauro como Bob Dylan, capaz de embaralhar quase mortalmente sua própria música sem qualquer recurso eletrônico. A antiga melodia dos TH sempre volta, e o casamento dela ao microfone com a massa sonora eletrônica circunstante carece de intersecção.
Mas um show, notadamente de alguém que ficou quase estigmatizado como um ídolo new-wave, não se faz de conceitos musicais avançados nem de poesia concreta. Assim, seria difícil imaginar alguém mais "amigável" do que Byrne sobre aquele palco na terça.
Os beats convidavam para a dança, ele trocava algumas vezes de figurino, invadia o recinto do público, mostrava a roupa íntima sob sua saia escocesa. Se descontentou os órfãos de 81, surpreendeu com os latinos -justamente o ponto mais vulnerável de sua carreira-solo-, ao desfilar uma rumba com forte acento Miami Sound Machine e misturar "Wild Thing" a um tema do cancioneiro de Celia Cruz.
Permitiu um solo "cabeça" de sua backing -ela se redimiria com uma intervenção dance "Jovem Pan" em "I Zimbra" - e não parou de conceder bis. Não chamou, e acho que ganhamos todos com isso, Tom Zé para o palco. O Rio de Janeiro já fique sabendo que pode esperar de Byrne tudo de si.

Show: David Byrne Onde: Metropolitan (av. Ayrton Senna, 3.000, tel. 021/385-0518) Quando: amanhã, às 21h30 Quanto: R$ 30 (platéia e lateral); R$ 40 (especial e lateral especial); R$ 60 (palco); R$ 40 a R$ 60 (camarote)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.