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SHOW CRÍTICA
São Paulo viu Byrne dar tudo de si
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
O show que David Byrne deu anteontem, no Palace, foi uma repetição precisa -talvez sem efeitos
de distorção de voz- do que ele
vem fazendo desde que estreou
"Feelings" no verão europeu passado.
Com um tecladista munido de
milhares de bases pré-gravadas,
um baterista com um set quase todo eletrônico, um baixista e uma
backing vocal, empunhando ele
eventualmente a guitarra e trajando um costume de pelúcia rosa,
Byrne começou com "Fuzzy
Freaky", a faixa que também abre
seu último disco solo, "Feelings".
O que se viu daí por diante foi
uma combinação de "Feelings"
com algumas releituras de antigas
dos Talking Heads, a banda que liderou e onde hoje (sob nome The
Heads) só encontra desafetos.
Mas, para ficar em três exemplos, se "Once in Lifetime",
"Psycho Killer" e a sensacional "I
Zimbra", clássicos dos TH, foram
bastante modificadas, tendo batidas aceleradas, algumas citações e
ritmos incluídos, Byrne não conseguiu se desprender das velhas
melodias, restaurando-as com sua
voz bastante razoável para cantor
de rock.
Nesse sentido, Byrne, mesmo
sincronizado com tendências musicais, melhor dizendo, sonoras,
contemporâneas -mal conheceu
os ingleses do Morcheeba, súbito
os chamou para produzir "Feelings"-, não opera a revolução
em seu próprio repertório.
Não o faz como um dinossauro
como Bob Dylan, capaz de embaralhar quase mortalmente sua
própria música sem qualquer recurso eletrônico. A antiga melodia
dos TH sempre volta, e o casamento dela ao microfone com a
massa sonora eletrônica circunstante carece de intersecção.
Mas um show, notadamente de
alguém que ficou quase estigmatizado como um ídolo new-wave,
não se faz de conceitos musicais
avançados nem de poesia concreta. Assim, seria difícil imaginar alguém mais "amigável" do que
Byrne sobre aquele palco na terça.
Os beats convidavam para a dança, ele trocava algumas vezes de figurino, invadia o recinto do público, mostrava a roupa íntima sob
sua saia escocesa. Se descontentou
os órfãos de 81, surpreendeu com
os latinos -justamente o ponto
mais vulnerável de sua carreira-solo-, ao desfilar uma rumba
com forte acento Miami Sound
Machine e misturar "Wild Thing"
a um tema do cancioneiro de Celia
Cruz.
Permitiu um solo "cabeça" de
sua backing -ela se redimiria
com uma intervenção dance "Jovem Pan" em "I Zimbra" - e não
parou de conceder bis. Não chamou, e acho que ganhamos todos
com isso, Tom Zé para o palco. O
Rio de Janeiro já fique sabendo
que pode esperar de Byrne tudo de
si.
Show: David Byrne
Onde: Metropolitan (av. Ayrton Senna,
3.000, tel. 021/385-0518)
Quando: amanhã, às 21h30
Quanto: R$ 30 (platéia e lateral); R$ 40
(especial e lateral especial); R$ 60 (palco);
R$ 40 a R$ 60 (camarote)
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