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Retrospectiva de César ocupa instalações do MuBE
FRANCESCA ANGIOLILLO
free-lance para a Folha
Abrindo a "Semana Santa das
Artes" em São Paulo, na próxima
segunda, às 20h30, vem aí César.
Para trazer a retrospectiva ao
MuBE, foram precisos meses de
negociações entre a presidente da
instituição, Marilisa Rathsam, e o
diretor do museu francês Jeu de
Paume, Daniel Abadie, curador da
mostra que tem viajado pelo mundo desde 97.
César, o artista francês morto em
dezembro passado, aos 77 anos,
não era um erudito. Ao contrário,
como o próprio Abadie o classificou, em entrevista à Folha, César
era um intuitivo.
Sua grande referência era o cotidiano, as conversas com as pessoas, a observação das ruas.
"Isso não quer dizer que César
não fosse reflexivo, mas que sua reflexão partia da vida cotidiana. E
da natureza do trabalho: era um
"homo faber", tinha necessidade de
fazer, de intervir sobre as coisas, tinha uma relação com a textura,
com os materiais", diz Abadie.
A obra de César não segue uma
evolução -do figurativo ao abstrato, por exemplo. Seus primeiros
trabalhos eram esculturas de ferro
soldado, figurativas, como animais e mulheres, mas o artista notabilizou-se por suas compressões
e expansões, realizadas em diferentes momentos de sua carreira.
Processo de execução
Se há algo que une toda a obra de
César, figurativa ou não, é a clareza
com que o processo de execução
das peças aparece no resultado.
Diferentemente de uma pintura,
na qual o leigo pode não distinguir
como foram aplicadas as pinceladas, na obra de César fica claro
perceber desde os pequenos pedaços de sucata soldados -dando
forma a seus nus- até as formas
dos automóveis transformados
pelas compressões.
Abadie lembra que a transparência do processo no resultado final é
uma característica de outras artes
nos anos 50, período em que César
começou a se destacar. Ele cita como exemplo os escritores que buscavam uma linguagem que explicitasse a estrutura do texto.
Ou a nouvelle vague, movimento
cinematográfico iniciado em 1959,
com "Acossado", de Jean-Luc Godard, no qual a relação obra-espectador é sempre evidenciada pelo
modo de filmagem e construção da
narrativa.
A retrospectiva no MuBE não está organizada de modo cronológico. Em vez disso, Abadie optou por
reunir as obras por "gênero".
Assim, a visita começa pelas esculturas em ferro soldado. A seguir, podendo ser vistas do alto, estão as expansões, realizadas em resina, e os "polegares", criações
também muito conhecidas do escultor. Por fim, as compressões e
os últimos trabalhos de César.
Mostra: César
Onde: MuBE (r. Alemanha, 221, Jd. Europa,
São Paulo, tel. 011/881-8611)
Quando: segunda-feira, dia 5/4, às 20h30;
de ter. a dom., das 10h às 19h. Até 30/5
Quanto: R$ 5 e R$ 3 (estudantes); entrada
franca às quintas e para menores de 10 anos
ou maiores de 65 anos
Patrocinador: Volkswagen do Brasil
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