São Paulo, Sexta-feira, 02 de Abril de 1999
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Retrospectiva de César ocupa instalações do MuBE

FRANCESCA ANGIOLILLO
free-lance para a Folha

Abrindo a "Semana Santa das Artes" em São Paulo, na próxima segunda, às 20h30, vem aí César.
Para trazer a retrospectiva ao MuBE, foram precisos meses de negociações entre a presidente da instituição, Marilisa Rathsam, e o diretor do museu francês Jeu de Paume, Daniel Abadie, curador da mostra que tem viajado pelo mundo desde 97.
César, o artista francês morto em dezembro passado, aos 77 anos, não era um erudito. Ao contrário, como o próprio Abadie o classificou, em entrevista à Folha, César era um intuitivo.
Sua grande referência era o cotidiano, as conversas com as pessoas, a observação das ruas.
"Isso não quer dizer que César não fosse reflexivo, mas que sua reflexão partia da vida cotidiana. E da natureza do trabalho: era um "homo faber", tinha necessidade de fazer, de intervir sobre as coisas, tinha uma relação com a textura, com os materiais", diz Abadie.
A obra de César não segue uma evolução -do figurativo ao abstrato, por exemplo. Seus primeiros trabalhos eram esculturas de ferro soldado, figurativas, como animais e mulheres, mas o artista notabilizou-se por suas compressões e expansões, realizadas em diferentes momentos de sua carreira.

Processo de execução
Se há algo que une toda a obra de César, figurativa ou não, é a clareza com que o processo de execução das peças aparece no resultado.
Diferentemente de uma pintura, na qual o leigo pode não distinguir como foram aplicadas as pinceladas, na obra de César fica claro perceber desde os pequenos pedaços de sucata soldados -dando forma a seus nus- até as formas dos automóveis transformados pelas compressões.
Abadie lembra que a transparência do processo no resultado final é uma característica de outras artes nos anos 50, período em que César começou a se destacar. Ele cita como exemplo os escritores que buscavam uma linguagem que explicitasse a estrutura do texto.
Ou a nouvelle vague, movimento cinematográfico iniciado em 1959, com "Acossado", de Jean-Luc Godard, no qual a relação obra-espectador é sempre evidenciada pelo modo de filmagem e construção da narrativa.
A retrospectiva no MuBE não está organizada de modo cronológico. Em vez disso, Abadie optou por reunir as obras por "gênero".
Assim, a visita começa pelas esculturas em ferro soldado. A seguir, podendo ser vistas do alto, estão as expansões, realizadas em resina, e os "polegares", criações também muito conhecidas do escultor. Por fim, as compressões e os últimos trabalhos de César.

Mostra: César Onde: MuBE (r. Alemanha, 221, Jd. Europa, São Paulo, tel. 011/881-8611) Quando: segunda-feira, dia 5/4, às 20h30; de ter. a dom., das 10h às 19h. Até 30/5 Quanto: R$ 5 e R$ 3 (estudantes); entrada franca às quintas e para menores de 10 anos ou maiores de 65 anos Patrocinador: Volkswagen do Brasil

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