São Paulo, Sexta-feira, 02 de Abril de 1999
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Escritor Marcos Rey morre aos 74 em SP

ALESSANDRA KORMANN
do Banco de Dados

O escritor Marcos Rey morreu ontem à tarde em São Paulo, aos 74 anos, vítima de câncer generalizado. Seu corpo foi velado ontem à noite na Academia Paulista de Letras e deve ser cremado hoje. Ele era casado e não tinha filhos.
Rey, que há duas semanas se queixava de fortes dores na coluna, estava internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Paulistano desde a última terça-feira com um quadro de abdome agudo, processo inflamatório que produz risco de vida e gera sofrimento intenso ao paciente.
Edmundo Donato -nome de batismo do escritor-, nascido em São Paulo, em 17 de fevereiro de 1925, vendeu mais de 5 milhões de livros. Sua obra é reconhecida principalmente por romances urbanos e livros juvenis. Foi traduzido para países como EUA, Espanha, Itália, Alemanha e Rússia.
Publicou seu primeiro conto aos 16 anos, em 1942, na "Folha da Manhã", jornal então editado pelo Grupo Folha, já assinando com o pseudônimo. "Uma ficção a começar do próprio nome. Para o baile das artes, já estava a caráter", disse.
Seu conto de estréia, "Ninguém Entende Wiu-Li", teve ilustração do cartunista Belmonte, criador do personagem Juca Pato. Em 1962, quando foi apresentada a idéia de um prêmio para o "Intelectual do Ano", resolveu, ao lado do irmão Mário Donato, que foi um dos fundadores da UBE (União Brasileira dos Escritores), homenagear Belmonte, criando o Troféu Juca Pato.
Marcos Rey começou a escrever ainda criança, influenciado pelas histórias em quadrinhos e pela "Bíblia", que lia muito devido à formação protestante de seus pais.
O pai dele, um dos pioneiros da encadernação, também foi uma grande influência. Na infância, Rey conheceu e passou a admirar alguns escritores famosos que eram amigos e clientes de seu pai, como Monteiro Lobato, Menotti del Picchia e Orígenes Lessa.
Nos passeios com seu pai por São Paulo, tirou idéia para muitos personagens, como os protagonistas de "Café na Cama" (1960) e "Memórias de um Gigolô" (1968). "Não precisava imaginar histórias. Bastava ouvir pessoas, entendê-las e descobrir para onde elas iam", disse Rey.
A capital paulista era, segundo ele, seu personagem principal. "São Paulo é um palco giratório, sempre múltipla e diversificada."
Seu primeiro romance, "Um Gato no Triângulo" foi publicado em 1953, época em que trabalhava como roteirista de rádio. Em 1955, escreveu a primeira minissérie brasileira para a TV, "Os Tigres", que foi ao ar pela extinta TV Excelsior. Em 1960, casou-se com Palma.
Para a TV, escreveu "Vila Sésamo" e adaptou "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo, e a obra "Sítio do Picapau Amarelo", de Monteiro Lobato.
Adaptou com Walter George Durst seu romance "Memórias de um Gigolô" para minissérie da Rede Globo, de 1986, dirigida por Walter Avancini.
Sua obra também foi adaptada para o cinema. Viraram filmes "Memórias de um Gigolô", "O Enterro da Cafetina" e "Café na Cama". Nos últimos anos, escrevia crônicas para a revista "Veja São Paulo".
Em 1986, Rey foi eleito para a Academia Paulista de Letras. Em 1994, ganhou o Prêmio Jabuti, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, por seu conto "O Último Mamífero do Martinelli". Em 1996, conquistou o Troféu Juca Pato, que ele ajudara a criar, com o romance "Os Crimes do Olho-de-Boi".


Colaborou Cynara Menezes, da Reportagem Local


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