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Lançamentos retomam a psicodelia de Ronnie Von
"Príncipe" nos anos 60, cantor é descoberto por nova geração, que lhe dedica tributo
Interesse do público leva gravadora a lançar, pela primeira vez em CD, disco de estréia, clássico psicodélico e álbum dos anos 70
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ronnie Von, 62, não entende
mais nada da juventude. Fica
de cabelos em pé com a decisão
do filho Leonardo de seguir a
carreira musical, logo este, a
quem pretendia deixar os negócios da família no futuro. Há
quase dez anos, Ronnie é publicitário com agência própria.
Mas Ronnie também é um
ex-astro da juventude, o maior
galã de sua geração, cantor inventivo que ameaçou a soberania do reinado de Roberto Carlos. Nos anos 60, foi o pai de
Ronnie quem não dormiu
quando soube que o filho decidira abandonar a empresa da
família para virar cantor.
Com a carreira musical encerrada desde 1996, o hoje publicitário e apresentador de TV
vê uma nova geração de músicos descobrir justamente seus
discos mais ousados, fracassos
à época, esquecidos durante
quase 30 anos. E foram 30 bandas de garagem de todo o Brasil
que prestam tributo ao cantor
na compilação on-line disponível no site www.ronnievon.com, organizada pela jornalista
Flávia Durante. Graças a fãs como esses, a gravadora Universal lança, pela primeira vez em
CD, três álbuns do cantor (veja
quadro). Leia a entrevista de
Ronnie à Folha.
FOLHA - Você esperava, a essa altura do campeonato, ser de novo um
ídolo da juventude?
RONNIE VON - Eu tô nas nuvens,
você não imagina como, com a
juventude devolvida. As pessoas agora falam: "Ele sabia das
coisas, olha como era louco,
psicodélico". Que coisa inusitada, estranha. Estou vivendo um
momento de dicotomia, convivendo com um produto que sou
eu mesmo. Estava quieto no
meu canto. Agora experimento
uma coisa que não chega a ser
igual o começo da minha carreira, mas hoje a emissora [Gazeta] não me deixa sair de casa
sozinho -tenho que sair com
segurança e carro blindado.
FOLHA - Você foi um dos maiores
astros dos anos 60, mas não conseguiu manter o sucesso. Por quê?
RONNIE - A minha ignorância é
tão monumental que nunca tive um assessor de imprensa e
continuo não tendo. Nunca tive
um manager, nunca ninguém
me disse que atitude comportamental eu deveria ter ou como
conduzir minha carreira. Tive
só corretores. Imagine em que
níveis eu chegava naquele tempo, de completa desinformação. Eu achava que era assim
mesmo, gravar o que era determinado pelo departamento de
vendas da gravadora. Eu me
sentia como um refrigerante,
pronto pra ser consumido e não
conseguia me olhar no espelho.
FOLHA - Como era sua relação com
a turma do iê-iê-iê?
RONNIE - Eu nunca fiz parte da
jovem guarda até porque eu era
proibido de pisar no palco do
programa "Jovem Guarda" [segundo Ronnie, ele era visto como um concorrente forte de
Roberto Carlos, e a TV queria
boicotar seu sucesso]. Assinei
com a Record na época para
apresentar o "Pequeno Mundo
de Ronnie Von". Em 1999 fiquei sabendo que fui contratado para ser anulado, como
quando colocam um ator na geladeira. Tanto que eu não tinha
casting. Quem aparecesse no
meu programa jamais iria ao
"Jovem Guarda". Era uma coisa brutal, queria muito falar
com o Roberto, mas nunca consegui, até que minha mulher ficou amiga da Nice [então mulher de Roberto].
FOLHA - Você se considerava mais
próximo dos tropicalistas?
RONNIE - Me identificava profundamente com eles. Minha
idéia era fazer essa mistura, esse amálgama da coisa acústica
do samba com a modernidade
da época, guitarras elétricas
etc. Gil e Caetano fizeram aquilo que eu acreditava. Eu tava
nesse rolo. Só não participei do
"Tropicália" porque não tive
um mentor. Algum interesse
econômico deve ter sido contrariado e fui induzido pelo
meu corretor a cair fora. Sofro
com isso até hoje. Agora é que
descobriram que eu fiz parte da
tropicália. Mas perdi o contato
com eles. Nunca mais Rita
[Lee] me procurou.
FOLHA - Você tem planos de retomar a carreira musical?
RONNIE - O João [Marcello
Bôscoli, da Trama] queria pegar o meu quarto disco, tirar a
voz da época, remasterizar e
colocar a minha voz hoje. Esse
é um sonho, a única coisa que
me seduziu a entrar em estúdio
hoje. Mas acabou não saindo.
Semanalmente recebo um convite. O último me encheu de orgulho: Leny Andrade me chamou pra fazer um disco com ela e o Johnny Alf. A própria
casa onde eu trabalho hoje
quer fazer um projeto com as
músicas que eu gosto, de standards de Ella Fitzgerald, Ray
Charles. Fico balançado.
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