São Paulo, quarta-feira, 02 de maio de 2007

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Lançamentos retomam a psicodelia de Ronnie Von

"Príncipe" nos anos 60, cantor é descoberto por nova geração, que lhe dedica tributo

Interesse do público leva gravadora a lançar, pela primeira vez em CD, disco de estréia, clássico psicodélico e álbum dos anos 70

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ronnie Von, 62, não entende mais nada da juventude. Fica de cabelos em pé com a decisão do filho Leonardo de seguir a carreira musical, logo este, a quem pretendia deixar os negócios da família no futuro. Há quase dez anos, Ronnie é publicitário com agência própria.
Mas Ronnie também é um ex-astro da juventude, o maior galã de sua geração, cantor inventivo que ameaçou a soberania do reinado de Roberto Carlos. Nos anos 60, foi o pai de Ronnie quem não dormiu quando soube que o filho decidira abandonar a empresa da família para virar cantor.
Com a carreira musical encerrada desde 1996, o hoje publicitário e apresentador de TV vê uma nova geração de músicos descobrir justamente seus discos mais ousados, fracassos à época, esquecidos durante quase 30 anos. E foram 30 bandas de garagem de todo o Brasil que prestam tributo ao cantor na compilação on-line disponível no site www.ronnievon.com, organizada pela jornalista Flávia Durante. Graças a fãs como esses, a gravadora Universal lança, pela primeira vez em CD, três álbuns do cantor (veja quadro). Leia a entrevista de Ronnie à Folha.  

FOLHA - Você esperava, a essa altura do campeonato, ser de novo um ídolo da juventude?
RONNIE VON
- Eu tô nas nuvens, você não imagina como, com a juventude devolvida. As pessoas agora falam: "Ele sabia das coisas, olha como era louco, psicodélico". Que coisa inusitada, estranha. Estou vivendo um momento de dicotomia, convivendo com um produto que sou eu mesmo. Estava quieto no meu canto. Agora experimento uma coisa que não chega a ser igual o começo da minha carreira, mas hoje a emissora [Gazeta] não me deixa sair de casa sozinho -tenho que sair com segurança e carro blindado.

FOLHA - Você foi um dos maiores astros dos anos 60, mas não conseguiu manter o sucesso. Por quê?
RONNIE
- A minha ignorância é tão monumental que nunca tive um assessor de imprensa e continuo não tendo. Nunca tive um manager, nunca ninguém me disse que atitude comportamental eu deveria ter ou como conduzir minha carreira. Tive só corretores. Imagine em que níveis eu chegava naquele tempo, de completa desinformação. Eu achava que era assim mesmo, gravar o que era determinado pelo departamento de vendas da gravadora. Eu me sentia como um refrigerante, pronto pra ser consumido e não conseguia me olhar no espelho.

FOLHA - Como era sua relação com a turma do iê-iê-iê?
RONNIE
- Eu nunca fiz parte da jovem guarda até porque eu era proibido de pisar no palco do programa "Jovem Guarda" [segundo Ronnie, ele era visto como um concorrente forte de Roberto Carlos, e a TV queria boicotar seu sucesso]. Assinei com a Record na época para apresentar o "Pequeno Mundo de Ronnie Von". Em 1999 fiquei sabendo que fui contratado para ser anulado, como quando colocam um ator na geladeira. Tanto que eu não tinha casting. Quem aparecesse no meu programa jamais iria ao "Jovem Guarda". Era uma coisa brutal, queria muito falar com o Roberto, mas nunca consegui, até que minha mulher ficou amiga da Nice [então mulher de Roberto].

FOLHA - Você se considerava mais próximo dos tropicalistas?
RONNIE
- Me identificava profundamente com eles. Minha idéia era fazer essa mistura, esse amálgama da coisa acústica do samba com a modernidade da época, guitarras elétricas etc. Gil e Caetano fizeram aquilo que eu acreditava. Eu tava nesse rolo. Só não participei do "Tropicália" porque não tive um mentor. Algum interesse econômico deve ter sido contrariado e fui induzido pelo meu corretor a cair fora. Sofro com isso até hoje. Agora é que descobriram que eu fiz parte da tropicália. Mas perdi o contato com eles. Nunca mais Rita [Lee] me procurou.

FOLHA - Você tem planos de retomar a carreira musical?
RONNIE
- O João [Marcello Bôscoli, da Trama] queria pegar o meu quarto disco, tirar a voz da época, remasterizar e colocar a minha voz hoje. Esse é um sonho, a única coisa que me seduziu a entrar em estúdio hoje. Mas acabou não saindo.
Semanalmente recebo um convite. O último me encheu de orgulho: Leny Andrade me chamou pra fazer um disco com ela e o Johnny Alf. A própria casa onde eu trabalho hoje quer fazer um projeto com as músicas que eu gosto, de standards de Ella Fitzgerald, Ray Charles. Fico balançado.


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