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Falta "base científica" a cifra de público da Virada
Espectadores estimados pela organização correspondem a 37% da população de SP
Secretaria da Cultura de SP, que avaliou em 4 milhões os freqüentadores do evento no fim de semana, diz não ter "metodologia" para o cálculo
SILVANA ARANTES
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
A estimativa de que 4 milhões de pessoas freqüentaram
a 4ª Virada Cultural em São
Paulo, no último fim de semana, estabelecendo o recorde de
público das edições, foi feita pela Secretaria Municipal de Cultura, promotora do evento, sem
"base científica", segundo diz
sua assessoria de imprensa.
A secretaria "não tem ferramentas nem uma metodologia
de contagem de pessoas. Quem
faz esse tipo de aferição geralmente é a Polícia Militar, que
conta com uma metodologia
para chegar a números mais
próximos da realidade", afirma
a assessoria do órgão.
A Polícia Militar não realizou
estimativas sobre o público da
Virada Cultural. A Secretaria
de Cultura recorreu ao prognóstico de Marco Antonio Lopes, diretor de operações da Securitta Segurança, empresa
privada que reforçou o contingente da segurança, na qual
atuaram também a PM e a
Guarda Civil Metropolitana.
"Acomodação da massa"
"A gente tira esse público por
números do Metrô, da
SPTrans, das câmeras da CET
[Companhia de Engenharia de
Tráfego] e faz o estudo da movimentação da cidade, para perceber a movimentação do povo,
a acomodação da massa", diz
Lopes.
Além de estudar a movimentação, diz Lopes, ele percorre a
multidão para medir o número
de pessoas por metro quadrado. O "pico de concentração",
segundo ele, ocorreu em torno
do palco da av. São João, por
volta das 23h de sábado, quando "não se conseguia andar".
Lopes afirma ter tido acesso
aos números de circulação do
Metrô "no final do dia [de domingo]". A estimativa de 4 milhões foi divulgada às 12h30 de
domingo pela Secretaria de
Cultura, que tampouco tivera
acesso aos dados do Metrô, segundo diz em nota.
A Folha solicitou os dados ao
Metrô na segunda passada e
obteve-os anteontem. A companhia diz que a entrada de
passageiros, nas três linhas do
metrô, aumentou 35,5% na faixa das 18h à 1h de sábado (foram 328.008), em relação aos
fins de semana sem grandes
eventos na cidade; e cresceu
33,8% (total de 250.222) entre
4h40 e 18h de domingo.
Entre 1h e 4h40 de domingo,
quando o metrô funcionou excepcionalmente por causa da
Virada Cultural, houve 71.860
passagens pelas catracas.
População flutuante
O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, afirma não conhecer "nenhum método que consiga fazer medição de uma população flutuante, numa área
tão grande".
Apenas no centro da cidade, a
4ª Virada teve 26 palcos espalhados, com atrações ininterruptas durante 24 horas.
Paulino diz que "sempre que
o Datafolha faz medições em
concentrações populacionais,
as concentrações são num determinado local e horário".
A Secretaria de Cultura afirma que ficou evidente para os
profissionais envolvidos na organização da Virada o aumento
de público deste ano em relação a 2007. "Ao andar pelas
ruas, notamos um aumento de
pessoas circulando por todos os
lados. Tínhamos contato com
produtores de todos os palcos e
sempre nos falávamos, para saber sobre a receptividade do
público que estava lá. Além disso, como dobramos o número
de palcos no centro, a tendência era que, além de se distribuírem, também viessem mais
pessoas", diz a assessoria.
O público da edição 2007 da
Virada Cultural foi estimado
em 3,5 milhões de pessoas. A
Secretaria da Cultura afirma
que a cifra foi calculada pela
PM. A PM diz que a estimativa
é dos organizadores do evento.
37%
A cidade de São Paulo possui
10,8 milhões de habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os supostos 4 milhões na
Virada deste ano correspondem a 37% da população do
município. Carlos Eduardo Nola, que atuou na produção do
palco da av. São João, disse que
a estimativa da Secretaria de
Cultura levou em conta "a
quantidade de ônibus que vieram do interior e as convenções
que ocorriam na cidade".
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