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Crítica / "Olha como Eu te Amo"
Leante prende o leitor, mas seu romance não é um grande livro
Obra do escritor espanhol ganhou prêmio, mas está aquém da melhor literatura
NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Por que um romance escrito corretamente, que
prende a atenção, fala
sobre amor e sobre os hábitos
e a cultura de outro povo, com
respeito e minúcia, mesmo
assim não deveria ganhar um
prêmio importante?
Pois "Olha como Eu te Amo",
do escritor espanhol Luis Leante, ganhou o prêmio Alfaguara
de melhor romance de 2007.
Mas não deveria. Felizmente,
para a literatura, essas características estão realmente longe
de sustentar ou justificar um
grande livro.
A trama é interessante: uma
jovem estudante de medicina
de Barcelona se apaixona por
um mecânico de automóveis. O
medo da reação dos pais e a suspeita de traição a afastam do rapaz, que se torna legionário nas
tropas argelinas. Após mais de
20 anos de separação, a atual
médica decide partir atrás do
antigo amor, após ser abandonada pelo marido e ter perdido
sua filha num acidente.
Um argumento como esse,
certamente, pode servir de base para uma narrativa extremamente criativa ou extremamente pastosa; o argumento,
em si, não diz nada. O que importa mesmo é a construção inventiva que se faz com ele.
Entre clichês
No caso de "Olha como Eu te
Amo", Leante parece se satisfazer com as súbitas mudanças
temporais, que deslocam a
atenção do leitor de um acontecimento para o outro, buscando montar um quebra-cabeças
gradual ao longo do romance.
Mas essas passagens não são
suficientes para constituir a inventividade necessária. Afora
isso, os outros recursos narrativos parecem gratuitos e carregados de clichês: o narrador em
terceira pessoa estabelece um
distanciamento excessivo dos
personagens; a descrição do espaço do Saara soa mais exótica
do que autêntica. Uma médica
espanhola maravilhada com o
pôr-do-sol do deserto, com os
hábitos gentis dos saaráuis,
com sua inocência submissa.
Marquesas vespertinas
A linguagem, da mesma forma, tampouco acompanha o
uso criativo das mudanças temporais. Conta-se que Paul Valéry dizia que jamais seria romancista porque não se via capaz de pronunciar as palavras:
"A marquesa saiu às cinco da
tarde". Pois esse romance está
recheado de marquesas vespertinas: "A luz mortiça do inverno
ao azul intenso do céu do
Saara"; "ela comprovou aliviada que uma lágrima deslizava
por seu rosto e escorria entre
as comissuras dos lábios"; "o
olhar mais belo de todos os
olhares possíveis"; "Santiago
San Román continuava dando
voltas na cabecinha e no
coração de Montse".
E, ainda assim, a trama efetivamente prende a atenção.
Queremos saber o que acontece com a médica picada por um
escorpião, com seus perseguidores cruéis, com a guerra entre o Marrocos e a Espanha,
com os legionários fiéis e os insurretos. Mas prender a atenção não basta; é preciso prendê-la, cutucá-la e ultrapassar
seus limites, atingindo a perturbação, a surpresa, o impensado. "Olha como Eu te Amo"
só fica nas marquesas.
OLHA COMO EU TE AMO
Autor: Luis Leante
Tradução: Eliana Aguiar
Editora: Alfaguara
Quanto: R$ 49,90 (264 págs.)
Avaliação: regular
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