São Paulo, sexta, 2 de maio de 1997.

Texto Anterior | Índice

JORGE LUIS BORGES sobre o escritor

``Como aquele espanhol que pela virtude de uns livros chegou a ser `Dom Quixote', Schwob, antes de exercer e enriquecer a literatura, foi um maravilhado leitor. Tocou-lhe como sorte a França, o mais literário dos países. Tocou-lhe como sorte o século 19, que não desmerecia o anterior. De estirpe de rabinos, herdou uma tradição oriental que agregou às ocidentais. Sempre foi seu o âmbito das profundas bibliotecas. Estudou o grego e traduziu Luciano de Samosata. Como tantos franceses, professou o amor pela literatura da Inglaterra. Traduziu Stevenson e Meredith, obra delicada e difícil. Admirou imparcialmente Whitman e Poe. Interessou-lhe o `argot' medieval, que François Villon tinha manejado. Descobriu e traduziu `Moll Flanders', que pode ter-lhe ensinado bem a arte da invenção circunstancial.
Suas `Vidas Imaginárias' datam de 1896. Para sua escritura inventou um método curioso. Os protagonistas são reais; os feitos podem ser fabulosos e não poucas vezes fantásticos. O sabor peculiar deste volume está neste vaivém.
Em todas as partes do mundo há devotos de Marcel Schwob que constituem pequenas sociedades secretas. Não buscou fama; escreveu deliberadamente para os `happy few', para poucos. Frequentou os cenáculos simbolistas; foi amigo de Remy de Gourmont e de Paul Claudel.
Por volta de 1935 escrevi um livro cândido que se chamava `História Universal da Infâmia'. Uma de suas muitas fontes, ainda não assinalada pela crítica, foi este livro de Schwob.
As datas de 1867 e de 1905 abarcam sua vida.''

Texto Anterior | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã