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ARTE
A historiadora inglesa Dawn Ades escreverá sobre o estilista Alexandre Herchcovitch para livro da Cosac & Naify
Moda brasileira ganha olhar de peso
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
A moda brasileira ganha um
olhar de peso sobre suas costuras
e desdobramentos. É a visão da
historiadora inglesa Dawn Ades,
que escreverá um texto sobre o
trabalho do estilista Alexandre
Herchcovitch para um livro da
editora Cosac & Naify.
Ades é professora catedrática do
departamento de história e teoria
da arte na Universidade de Essex,
na Inglaterra, e uma das maiores
especialistas do mundo em arte
latino-americana. Nunca tinha
escrito sobre moda e passou três
dias em São Paulo conversando
com o estilista e conhecendo o
trabalho dele.
"Não sou uma escritora de moda. Sou especializada em arte do
século 20 e muito interessada em
arte brasileira, já há muito tempo,
há 30 anos", explica a professora,
que conheceu Alexandre pessoalmente somente na segunda-feira
passada.
Arte moderna
O contato com Ades se deu por
intermédio do editor Charles Cosac, que a conhece há dez anos e
editou no Brasil seu famoso "Arte
na América Latina" (1997). A professora se encontrou com Herchcovitch por três dias, quando ela o
entrevistou, viu seus vídeos dos
desfiles e suas roupas.
"Eu sempre me interessei pela
relação da moda com a arte moderna. Falando de um modo bem
geral, há muitos aspectos da arte
do século 20 que se relacionam de
um modo ou de outro com roupas, obviamente o corpo é uma
questão central", disse Ades em
entrevista à Folha no ateliê do estilista no bairro dos Jardins, em
São Paulo, na última quarta-feira,
antes de embarcar de volta para
Londres.
"É muito importante para mim
o modo como o corpo se tornou
central para a arte, no século 20.
Isso me faz pensar nas idéias de
George Bataille, de que, num certo modo, o corpo está ligado às
sensações mais extremas e emocionais -não à mente. Trata-se
de algo que passa pela arte e como
você estabelece sua relação com o
real. De alguma maneira, essa linha é feita pela moda", comentou
a historiadora sobre seu trabalho.
Tendo se debruçado especificamente sobre o dadaísmo, objeto
da mostra "Dada and Surrealism
Reviewed", que assinou a curadoria em 1978, e em "Salvador Dalí
-°The Early Years", em 1994, Ades
conta que o contato com o trabalho de Herchcovitch a instigou em
relação às suas concepções pessoais sobre arte, partindo dos fundamentos dadaístas, e da figura
do corpo, fato que ela achou muito curioso. Esses aspectos tangem
inclusive, segundo ela, à estética
de Man Ray e seu uso do corpo
fragmentado.
Outro foco de estudo de Ades é
o fetichismo, que ela abordou numa mostra homônima em 94,
bem como em "Art and Power",
de 95.
Ao ver coleções anteriores de
Herchcovitch em que o universo
do fetiche (corselets, vinil, atracadores, botas) se mostra mais marcante, ela teve um clique.
"Sem dúvida isso aparece muito
em suas primeiras roupas para
Marcia Pantera", comenta a historiadora, já com ares de "connaisseur", sobre os looks criados
por Herchcovitch para sua primeira modelo, a drag queen que
vestia para shows nos clubes underground, no início dos 90.
O trabalho de Herchcovitch
chamou a atenção de Ades já no
ano passado, quando ela viu algumas fotos nos jornais ingleses do
desfile do estilista na temporada
londrina.
"São realmente impressionantes as imagens que ele consegue
criar."
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