São Paulo, sábado, 02 de junho de 2001

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ARTE

A historiadora inglesa Dawn Ades escreverá sobre o estilista Alexandre Herchcovitch para livro da Cosac & Naify

Moda brasileira ganha olhar de peso

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

A moda brasileira ganha um olhar de peso sobre suas costuras e desdobramentos. É a visão da historiadora inglesa Dawn Ades, que escreverá um texto sobre o trabalho do estilista Alexandre Herchcovitch para um livro da editora Cosac & Naify.
Ades é professora catedrática do departamento de história e teoria da arte na Universidade de Essex, na Inglaterra, e uma das maiores especialistas do mundo em arte latino-americana. Nunca tinha escrito sobre moda e passou três dias em São Paulo conversando com o estilista e conhecendo o trabalho dele.
"Não sou uma escritora de moda. Sou especializada em arte do século 20 e muito interessada em arte brasileira, já há muito tempo, há 30 anos", explica a professora, que conheceu Alexandre pessoalmente somente na segunda-feira passada.

Arte moderna
O contato com Ades se deu por intermédio do editor Charles Cosac, que a conhece há dez anos e editou no Brasil seu famoso "Arte na América Latina" (1997). A professora se encontrou com Herchcovitch por três dias, quando ela o entrevistou, viu seus vídeos dos desfiles e suas roupas.
"Eu sempre me interessei pela relação da moda com a arte moderna. Falando de um modo bem geral, há muitos aspectos da arte do século 20 que se relacionam de um modo ou de outro com roupas, obviamente o corpo é uma questão central", disse Ades em entrevista à Folha no ateliê do estilista no bairro dos Jardins, em São Paulo, na última quarta-feira, antes de embarcar de volta para Londres.
"É muito importante para mim o modo como o corpo se tornou central para a arte, no século 20. Isso me faz pensar nas idéias de George Bataille, de que, num certo modo, o corpo está ligado às sensações mais extremas e emocionais -não à mente. Trata-se de algo que passa pela arte e como você estabelece sua relação com o real. De alguma maneira, essa linha é feita pela moda", comentou a historiadora sobre seu trabalho.
Tendo se debruçado especificamente sobre o dadaísmo, objeto da mostra "Dada and Surrealism Reviewed", que assinou a curadoria em 1978, e em "Salvador Dalí -°The Early Years", em 1994, Ades conta que o contato com o trabalho de Herchcovitch a instigou em relação às suas concepções pessoais sobre arte, partindo dos fundamentos dadaístas, e da figura do corpo, fato que ela achou muito curioso. Esses aspectos tangem inclusive, segundo ela, à estética de Man Ray e seu uso do corpo fragmentado.
Outro foco de estudo de Ades é o fetichismo, que ela abordou numa mostra homônima em 94, bem como em "Art and Power", de 95.
Ao ver coleções anteriores de Herchcovitch em que o universo do fetiche (corselets, vinil, atracadores, botas) se mostra mais marcante, ela teve um clique.
"Sem dúvida isso aparece muito em suas primeiras roupas para Marcia Pantera", comenta a historiadora, já com ares de "connaisseur", sobre os looks criados por Herchcovitch para sua primeira modelo, a drag queen que vestia para shows nos clubes underground, no início dos 90.
O trabalho de Herchcovitch chamou a atenção de Ades já no ano passado, quando ela viu algumas fotos nos jornais ingleses do desfile do estilista na temporada londrina.
"São realmente impressionantes as imagens que ele consegue criar."



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