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Ades vê conexão entre roupa e arte
DA REDAÇÃO
Mesmo sem ser uma pesquisadora relacionada à moda, a professora de arte Dawn Ades gosta
de observar trabalhos que transitam entre os dois universos. "Arte
e moda são mundos conectados
já há muito tempo", explica, levantando as sobrancelhas e revelando mais seus excepcionais
olhos azuis.
Há, de fato, estilistas que fazem
da roupa objetos de arte. Menciono o cipriota Hussein Chalayan;
ela cita o inglês Alexander
McQueen, lembrando-se especificamente de um vestido em recortes e plumas que viu numa foto do
jornal "The Guardian" (usado por
Erin O'Connor no desfile de primavera-verão 2001, uma coleção
inspirada no fotógrafo Joel-Peter
Witkin, o rei do bizarro).
Lembro-me da norte-americana Cindy Sherman, que trabalha
com a moda ao criar os figurinos
de suas mulheres, mas Ades acha
que ela apenas faz uso das roupas
para criar diferentes personas e
surpreende ao citar o trabalho de
Sophie Calle, a fotógrafa francesa
que ficou mais famosa por seguir
seus (desconhecidos) personagens por anos e anos.
Apaixonada pela arte brasileira
dos últimos 50 anos, Ades se empolga ao falar de Helio Oiticica como o responsável por estabelecer
por aqui a ligação de arte com
moda -com seus parangolés e
seus penetráveis-, bem como
Lygia Clark -com seu divisor,
por exemplo, um grande tecido
de 30 m x 30 m "vestido" pelas
pessoas no Rio de Janeiro em uma
performance feita em 1968.
Dos 60, Ades cita também Andy
Warhol -"ele começou como
desenhista de sapatos, que logo
percebeu o potencial de moda e
arte, com o movimento pop".
E como a historiadora vê a atual
busca pelo passado movida pela
moda? Crise de idéias? Ades acha
que não, que se trata apenas de
uma nostalgia por décadas anteriores do século 20, o que, no fundo, nada mais é do que o pensamento pós-moderno. Se ainda é
possível, então, inovar e transgredir -na arte e na moda-, a pesquisadora pondera: "Existe um
problema no conceito de vanguarda. Essa idéia só pode ser
aplicada nos anos 20, com os movimentos culturais e sociais de então. O que existem agora são centelhas, aqui e ali. Mas sabe que,
olhando o desfile de formatura de
Herchcovitch, pensei: isso é realmente avant-garde. E você ainda
vê esse elemento no trabalho dele,
agora visto dentro de uma leitura
mais comercial, mas com uma
crítica, o que me interessou muito...".
(EP)
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