São Paulo, sábado, 02 de junho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ades vê conexão entre roupa e arte

DA REDAÇÃO

Mesmo sem ser uma pesquisadora relacionada à moda, a professora de arte Dawn Ades gosta de observar trabalhos que transitam entre os dois universos. "Arte e moda são mundos conectados já há muito tempo", explica, levantando as sobrancelhas e revelando mais seus excepcionais olhos azuis.
Há, de fato, estilistas que fazem da roupa objetos de arte. Menciono o cipriota Hussein Chalayan; ela cita o inglês Alexander McQueen, lembrando-se especificamente de um vestido em recortes e plumas que viu numa foto do jornal "The Guardian" (usado por Erin O'Connor no desfile de primavera-verão 2001, uma coleção inspirada no fotógrafo Joel-Peter Witkin, o rei do bizarro).
Lembro-me da norte-americana Cindy Sherman, que trabalha com a moda ao criar os figurinos de suas mulheres, mas Ades acha que ela apenas faz uso das roupas para criar diferentes personas e surpreende ao citar o trabalho de Sophie Calle, a fotógrafa francesa que ficou mais famosa por seguir seus (desconhecidos) personagens por anos e anos.
Apaixonada pela arte brasileira dos últimos 50 anos, Ades se empolga ao falar de Helio Oiticica como o responsável por estabelecer por aqui a ligação de arte com moda -com seus parangolés e seus penetráveis-, bem como Lygia Clark -com seu divisor, por exemplo, um grande tecido de 30 m x 30 m "vestido" pelas pessoas no Rio de Janeiro em uma performance feita em 1968.
Dos 60, Ades cita também Andy Warhol -"ele começou como desenhista de sapatos, que logo percebeu o potencial de moda e arte, com o movimento pop".
E como a historiadora vê a atual busca pelo passado movida pela moda? Crise de idéias? Ades acha que não, que se trata apenas de uma nostalgia por décadas anteriores do século 20, o que, no fundo, nada mais é do que o pensamento pós-moderno. Se ainda é possível, então, inovar e transgredir -na arte e na moda-, a pesquisadora pondera: "Existe um problema no conceito de vanguarda. Essa idéia só pode ser aplicada nos anos 20, com os movimentos culturais e sociais de então. O que existem agora são centelhas, aqui e ali. Mas sabe que, olhando o desfile de formatura de Herchcovitch, pensei: isso é realmente avant-garde. E você ainda vê esse elemento no trabalho dele, agora visto dentro de uma leitura mais comercial, mas com uma crítica, o que me interessou muito...". (EP)



Texto Anterior: Arte: Moda brasileira ganha olhar de peso
Próximo Texto: Livros/lançamentos: Hospedagem abriga desgraças e desolo da condição humana
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.