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O britânico Tony Cragg está em cartaz com seis obras na galeria Thomas Cohn, em SP
O escultor
Divulgação
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"Clear Glass Stack", do escultor britânico Tony Cragg, em cartaz na Thomas Cohn (SP) |
"Escultura é celebração da matéria", diz o artista, que recebeu o Prêmio Turner, da Tate Gallery de Londres, em 1988
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FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A WUPPERTAL
Para o inglês Tony Cragg, a escultura é a celebração da matéria.
É nela que o homem percebe sua
humanidade e é por ela que ele se
comunica.
Um dos artistas contemporâneos mais celebrados, Cragg está
em cartaz em São Paulo na galeria
Thomas Cohn. Já é a sua terceira
mostra com o galerista. Na primeira, em 89, viajou para ficar
uma semana e acabou ficando
três meses no Brasil.
Agora, por problemas de saúde,
Cragg não pôde viajar e teve de ficar na cidade onde vive, Wuppertal, na Alemanha.
Foi lá que, há 20 dias, Cragg recebeu a Folha para uma entrevista. Em seus imenso ateliê, onde
tem a colaboração de 12 assistentes, ele contou sobre sua experiência como escultor. Leia a seguir os
principais trechos.
Folha - Suas esculturas, apesar de
não serem figurativas, possuem
uma forma orgânica que nos dá a
sensação de estarem vivas. Como o
sr. consegue esse resultado?
Tony Cragg - Parcialmente isso
tem a ver com o que orgânico significa para nós. Se você observa as
obras que tenho no estúdio agora,
elas possuem uma base bastante
geométrica: círculos, formas
ovais... Mas em sua aparência elas
nos dão um sentimento orgânico.
Acho bem interessante refletir
como esses dois mundos estéticos
se encontram. Círculos e formas
ovais são a base da figura humana
e também de seus órgãos.
Creio que expandimos hoje a
noção que Rubens [1577-1640" ou
Picasso [1881-1973", por exemplo,
tinham sobre o humano. Acredito
que dividimos o planeta com tudo
o que é vivo, o que é uma noção
muito mais generosa. E não acho
que haja nada mais interessante
do que seres humanos e suas relações, mas não creio que seja interessante copiá-los. O que tento fazer é entrar neles, olhar as partes e
tentar responder à questão: "Por
que somos assim?". Desse modo,
em vez de partir do exterior, tenho uma forma interna de pesquisa, emocional, e não física.
Folha - Suas obras são esteticamente muito sedutoras, especialmente com o uso de certos materiais banais como garrafas ou dados. É uma estratégia?
Cragg - Não é bem uma estratégia. Como se diria em música, é
um tema. É preciso escolher um
instrumento para fazer música, e
esses materiais são a minha forma
de comunicação. No último século, muitos materiais tornaram-se
disponíveis para o escultor. Especialmente após Duchamp, o vocabulário da escultura ampliou-se
muito.
Folha - O que o sr. acha da "Young
British Art"?
Cragg - Como vivo na Alemanha, não os conheço pessoalmente. É muito fácil começar uma carreira quando se é jovem, especialmente porque o mundo tem fome
de novos artistas, o que é importante para a cultura.
É fantástico que a arte inglesa
passe por este momento agora,
mas é só daqui a 20 ou 40 anos que
poderemos ver o que esses artistas significam de fato.
Folha - O sr. também fez sucesso
muito jovem e passou por crises
após esse primeiro momento. Como conseguiu superá-las?
Cragg - Eu não estive apenas em
crises nos anos 80, mas também
nos 90 e agora [risos". Após um
início empolgante, fiquei física e
mentalmente cansado de vernissages e mostras. Percebi que a situação me obrigava a atuar de
uma maneira específica e eu não
queria mais fazer aquilo.
Em 1983, consegui um grande
estúdio e voltei a experimentar.
Fiz alguns trabalhos a partir de
desenhos que pedia para outras
pessoas realizarem, mas eles me
deixaram muito infeliz, pois eu
não tinha identidade com eles.
Foi quando percebi que eu não
era Deus, nem tinha de ser um. A
matéria é o que me excita, é a única coisa que tenho. Nós somos
matéria, nosso espírito é matéria,
o amor é matéria. Nós nos estendemos em outras matérias e, numa bela e misteriosa forma, percebi que a escultura é a celebração
disso.
Folha - Uma de suas séries é feita
com milhares de dados. Como o senhor chegou a esse material?
Cragg - Muito simples. Fiz uma
série de esculturas desenhadas, na
qual eu buscava dar energia para
os materiais. Queria dar à superfície das obras um certo valor. Há
certas esculturas que têm uma superfície cega, que faz com que você pare de observá-las. Quero que
a superfície seja uma porta, um
convite às suas formas, para que
se possa senti-las.
Um dia, vi um saco de dados
numa loja de brinquedos e achei
que seria um tema fantástico, que
tinha a ver até com as teorias de
Einstein sobre a relatividade. E
gosto de fazer várias relações em
minhas obras.
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