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São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2003

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ANÁLISE

"O Jogo" tem modelo de gincana colegial

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Amanhã vai ao ar o segundo episódio de "O Jogo" -um "reality show" evoluído, com autor (Ronaldo Santos) e dramaturgia. "O Jogo" poderia ser o "thriller" do momento. Em vez de apostar na pura intriga temperada por amassos, à la "Big Brother", o programa propõe um desafio comum aos concorrentes: o de desvendar um crime.
A cada semana cai um suspeito, o que poderia emprestar à trama um clima meio Agatha Christie de "O Caso dos Dez Negrinhos". O cenário de pequena cidade catarinense legitima sobrenomes alemães e reforça a alusão ao gênero policial. Valeu a intenção. Mas nem os movimentos seguros de câmera, a edição ágil, a trilha sonora de suspense e a liderança de Zeca Camargo foram capazes, até o momento, de gerar clima.
A interação dos concorrentes com atores pouco experientes, contratados para o papel dos suspeitos, não convence. A seleção de participantes obedece a critérios semelhantes aos adotados em formatos anteriores. A estrutura amarrada demais de tarefas e pistas não gera a tensão que se espera de uma história de mistério.
Participantes são destacados para missões previsíveis, em que encontram pistas usuais. As alternativas de rumo a tomar são poucas e anunciadas de antemão. Sabemos que determinado caminho pode levar a uma pista ou à morte.
"O Jogo" não consegue produzir a sensação de estar conectado em rede, que é o que dá a força do "reality show". Para isso, além de articular participantes em espaços diversos, seria preciso que os jogadores desfrutassem de alguma autonomia, que algo inesperado ocorresse. Mas o modelo é o da gincana colegial tutelada. Não há espaço para o desenvolvimento de talentos investigativos. Tão pouco para a energia aterrorizadora de um "serial killer".
A estréia do novo programa introduz mais uma mudança em uma grade de programação cada vez mais instável. Previsto como série de dez episódios, "O Jogo" entra no lugar do remake de "Carga Pesada", que pode ou não retornar no segundo semestre.
As mudanças constantes transmitem sensação de falta de projeto e dificultam o envolvimento.


Esther Hamburguer é antropóloga e professora da ECA-USP

O JOGO - ter., às 22h30, na TV Globo.


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