|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
"O Jogo" tem modelo de gincana colegial
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Amanhã vai ao ar o segundo
episódio de "O Jogo" -um
"reality show" evoluído, com autor (Ronaldo Santos) e dramaturgia. "O Jogo" poderia ser o "thriller" do momento. Em vez de
apostar na pura intriga temperada por amassos, à la "Big Brother", o programa propõe um desafio comum aos concorrentes: o
de desvendar um crime.
A cada semana cai um suspeito,
o que poderia emprestar à trama
um clima meio Agatha Christie de
"O Caso dos Dez Negrinhos". O
cenário de pequena cidade catarinense legitima sobrenomes alemães e reforça a alusão ao gênero
policial. Valeu a intenção. Mas
nem os movimentos seguros de
câmera, a edição ágil, a trilha sonora de suspense e a liderança de
Zeca Camargo foram capazes, até
o momento, de gerar clima.
A interação dos concorrentes
com atores pouco experientes,
contratados para o papel dos suspeitos, não convence. A seleção de
participantes obedece a critérios
semelhantes aos adotados em formatos anteriores. A estrutura
amarrada demais de tarefas e pistas não gera a tensão que se espera
de uma história de mistério.
Participantes são destacados
para missões previsíveis, em que
encontram pistas usuais. As alternativas de rumo a tomar são poucas e anunciadas de antemão. Sabemos que determinado caminho
pode levar a uma pista ou à morte.
"O Jogo" não consegue produzir a sensação de estar conectado
em rede, que é o que dá a força do
"reality show". Para isso, além de
articular participantes em espaços diversos, seria preciso que os
jogadores desfrutassem de alguma autonomia, que algo inesperado ocorresse. Mas o modelo é o da
gincana colegial tutelada. Não há
espaço para o desenvolvimento
de talentos investigativos. Tão
pouco para a energia aterrorizadora de um "serial killer".
A estréia do novo programa introduz mais uma mudança em
uma grade de programação cada
vez mais instável. Previsto como
série de dez episódios, "O Jogo"
entra no lugar do remake de "Carga Pesada", que pode ou não retornar no segundo semestre.
As mudanças constantes transmitem sensação de falta de projeto e dificultam o envolvimento.
Esther Hamburguer é antropóloga e
professora da ECA-USP
O JOGO - ter., às 22h30, na TV Globo.
Texto Anterior: Artes plásticas: Trinca de revistas muda perspectiva de debate Próximo Texto: Nelson Ascher: A revolta dos anti-Édipos Índice
|