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Soy latinoamericano?
Escritores debatem no Rio a identidade da literatura produzida no Brasil e em países da América Latina
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RAFAEL VOGT MAIA ROSA
free-lance para a Folha
Oito escritores e críticos da
América Latina debatem a partir
de hoje, no Rio de Janeiro, as relações literárias no continente -tema tão intrincado quanto o das relações econômicas entre esses países.
A questão da identidade literária
abrange de uma vez o conceito de
identidade nacional, diversidade
linguística, dificuldades editoriais
e tradição histórica.
Por isso, o Encontro com a Literatura Latino-Americana Contemporânea, que ocorre no Centro Cultural Banco do Brasil até
sexta-feira, dia 5 (leia programação nesta página), é uma oportunidade incomum para que brasileiros e latino-americanos tentem
superar o atraso do meio literário
em relação, por exemplo, aos
acordos econômicos já iniciados
entre esses países.
Estarão reunidos, entre os estrangeiros, os romancistas Ricardo Piglia (Argentina), Francisco
Rebolledo (México), Zoé Valdés
(Cuba) e o poeta chileno Gonzalo
Rojas. Os brasileiros convidados
são o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar, o escritor e tradutor Eric
Nepomuceno, a professora de literatura hispano-americana da
UFRJ Bella Jozef e o escritor
Moacyr Scliar, colunista da Folha.
Da Argentina à Cuba
O debate de hoje reunirá a professora Bella Jozef, autora de
"História da Literatura Hispano-Americana", e o escritor Ricardo Piglia, principal autor argentino da atualidade.
Quase todos os seus livros estão
traduzidos no Brasil, entre eles,
"Respiração Artificial" e "A Cidade Ausente", além de "Plata
Quemada" -a ser publicado- ,
vencedor no ano passado do Prêmio Planeta.
Amanhã, o encontro será entre
os escritores Moacyr Scliar e a cubana Zoé Valdés, autora de "O
Nada Cotidiano", seu primeiro livro lançado no Brasil (ed. Record), em que cria uma visão bastante pessoal da revolução cubana
de 1959, ano de seu nascimento.
Scliar recebeu recentemente o
Prêmio José Lins do Rego, da Academia Brasileira de Letras, pelo
seu último livro, "A Majestade do
Xingu" (ed. Companhia das Letras). É autor, entre outros, de "A
Orelha de Van Gogh" e "Sonhos
Tropicais".
Na quinta-feira, reúnem-se os
poetas Ferreira Gullar e Gonzalo
Rojas. O brasileiro Gullar foi um
dos fundadores da poesia concreta
nos anos 50, com a qual rompeu
para inaugurar o movimento neoconcretista.
São dele importantes obras da
poesia brasileira contemporânea,
como "Luta Corporal" e "Dentro da Noite Veloz". Lançou recentemente "Etapas da Arte Contemporânea" (ed. Revan) -reunião de sua crítica de arte- e prepara a publicação de um livro autobiográfico relacionado ao período do regime militar no Brasil.
O chileno Rojas é um dos maiores nomes da poesia de seu país.
Ganhou, nos últimos três anos, os
maiores prêmios de língua espanhola: o Cervantes (espanhol, em
96), o José Hernandes (argentino,
em 97) e Octavio Paz (mexicano,
em 96). No Brasil, no entanto, teve
seus poemas editados esparsamente, em antologias. Nenhum livro seu foi traduzido no país.
No último dia do encontro, o escritor e crítico brasileiro Eric Nepomuceno, autor de "Coisas do
Mundo", debaterá com o mexicano Francisco Rebolledo, autor do
best seller "Rasero", lançado no
Brasil pela Nova Fronteira.
Diferenças e identidade
O caráter da literatura latino-americana é uma questão que pode
esbarrar em noções tão incompreendidas quanto, por exemplo,
o processo de aquisição da língua
materna.
A literatura é um referencial relativamente estável e ao mesmo
tempo um elemento de construção do conceito de identidade nacional. Talvez uma de suas principais funções seja a de simultaneamente gerar dúvidas e possibilidades de entendimento gradual da
própria identidade. No nível mais
prático, no entanto, muita coisa
separa os brasileiros dos demais
povos da América, mas a maior
fronteira entre Brasil e Argentina,
por exemplo, continua sendo o
português e o espanhol.
Por fim, não é gratuito perguntar se um "encontro com a literatura latino-americana" contará
com, além da perícia de escritores
e intelectuais, algum tipo de tradução para que o público participe
do livre debate proposto pelos organizadores do evento.
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