São Paulo, terça, 2 de junho de 1998

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Poeta Gonzalo Rojas acredita em afinidades


free-lance para a Folha

"O exílio faz parte, de alguma forma, da vida do escritor", afirma o poeta Gonzalo Rojas, autor de "Siete Visiones" e "Rio Turbio", entre outros. Leia a seguir a entrevista que o poeta concedeu por telefone à Folha de Santiago do Chile, onde mora.

Folha - O sr. acredita em uma identidade da literatura latino-americana?
Gonzalo Rojas -
Não, nunca acreditei que se possa falar em uma identidade de ordem literária na literatura ibero-americana. Existem, no entanto, afinidades. A poesia do Peru e do Chile, por exemplo, mantém fortes laços porque ambas registram o que chamo de trauma primário da natureza, o impacto dos elementos da terra. É uma poesia de caráter fortemente ligado à existência, "lo genital de lo terrestre", como diria Pablo Neruda. Em outra tradição se inserem poetas como Borges, Vicente Huidobro e Octavio Paz, que construíram uma poesia mais ligada ao pensamento, aos conceitos. Isso, levando em conta a óbvia relação entre as duas correntes.
Folha - Historicamente o sr. diria que existe um progresso literário comum entre a literatura brasileira e a literatura escrita em espanhol na América?
Rojas -
Não acredito. Por exemplo, o que nós chamamos de modernismo no Chile e em outros países ibero-americanos refere-se precisamente ao poeta nicaraguense Rubén Dario (1867-1916) e a sua obra mais famosa, "Azul", que foi a gênese da poesia simbolista para nós. Foi um movimento essencialmente literário. No Brasil houve, em 1922, algo mais abrangente, no sentido de que ocasionou mudanças em outras áreas, como a pintura, a música.
Folha - O senhor vê a experiência do exílio como um fato comum na literatura latino-americana?
Rojas -
O exílio, de alguma forma, faz parte da vida do escritor. Eu estive 15 anos exilado. Mas isso também pode ser vivido como uma experiência enriquecedora, no sentido de que estamos todos imersos em um "auto-exílio".
Folha - O sr. teria alguma coisa a dizer sobre o Brasil?
Rojas -
Quando tinha 17 anos estava decidido a ir ao Brasil, não como turista, mas para viver no país, diferentemente de muitos amigos que foram à Europa.
Na verdade, não estive por muito tempo no país e não sou profundo conhecedor da poesia brasileira. Gosto muito da obra de Drummond e lembro de Neruda se declarar um admirador da poesia de Manuel Bandeira. Reconheço o Brasil como um prodígio em termos de invenção na linguagem, que conta também com prosadores excepcionais, como Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Machado de Assis. (RVMR)



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