|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Poeta Gonzalo Rojas acredita em afinidades
free-lance para a Folha
"O exílio faz parte, de alguma
forma, da vida do escritor", afirma o poeta Gonzalo Rojas, autor
de "Siete Visiones" e "Rio Turbio", entre outros. Leia a seguir a
entrevista que o poeta concedeu
por telefone à Folha de Santiago
do Chile, onde mora.
Folha - O sr. acredita em uma
identidade da literatura latino-americana?
Gonzalo Rojas - Não, nunca
acreditei que se possa falar em
uma identidade de ordem literária
na literatura ibero-americana.
Existem, no entanto, afinidades. A
poesia do Peru e do Chile, por
exemplo, mantém fortes laços
porque ambas registram o que
chamo de trauma primário da natureza, o impacto dos elementos
da terra. É uma poesia de caráter
fortemente ligado à existência, "lo
genital de lo terrestre", como diria
Pablo Neruda. Em outra tradição
se inserem poetas como Borges,
Vicente Huidobro e Octavio Paz,
que construíram uma poesia mais
ligada ao pensamento, aos conceitos. Isso, levando em conta a óbvia
relação entre as duas correntes.
Folha - Historicamente o sr. diria
que existe um progresso literário
comum entre a literatura brasileira
e a literatura escrita em espanhol
na América?
Rojas - Não acredito. Por exemplo, o que nós chamamos de modernismo no Chile e em outros
países ibero-americanos refere-se
precisamente ao poeta nicaraguense Rubén Dario (1867-1916) e
a sua obra mais famosa, "Azul",
que foi a gênese da poesia simbolista para nós. Foi um movimento
essencialmente literário. No Brasil
houve, em 1922, algo mais abrangente, no sentido de que ocasionou mudanças em outras áreas,
como a pintura, a música.
Folha - O senhor vê a experiência
do exílio como um fato comum na
literatura latino-americana?
Rojas - O exílio, de alguma forma, faz parte da vida do escritor.
Eu estive 15 anos exilado. Mas isso
também pode ser vivido como
uma experiência enriquecedora,
no sentido de que estamos todos
imersos em um "auto-exílio".
Folha - O sr. teria alguma coisa a
dizer sobre o Brasil?
Rojas - Quando tinha 17 anos
estava decidido a ir ao Brasil, não
como turista, mas para viver no
país, diferentemente de muitos
amigos que foram à Europa.
Na verdade, não estive por muito
tempo no país e não sou profundo
conhecedor da poesia brasileira.
Gosto muito da obra de Drummond e lembro de Neruda se declarar um admirador da poesia de
Manuel Bandeira. Reconheço o
Brasil como um prodígio em termos de invenção na linguagem,
que conta também com prosadores excepcionais, como Guimarães
Rosa, Clarice Lispector e Machado
de Assis.
(RVMR)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|