São Paulo, terça, 2 de junho de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Soo-Ja Kim revela seus lençóis na Bienal

Reprodução
Obra de Soo-Ja Kim, que representa a Coréia do Sul na Bienal; artista transforma lençóis em arquétipos da condição humana


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Os trabalhos da artista plástica Soo-Ja Kim, a representante da Coréia do Sul na 24ª edição da Bienal, não trazem sangue, não mostram corpos fragmentados, não causam repulsa.
Ao contrário, são uma agradável festa de sentidos e conceitos, embora tratem do corpo, de sua dor e de seu prazer, sensações íntimas e, ao mesmo tempo, antagônicas. Tratam ainda de um desejo de conciliação e harmonia.
Desde 1983, os multicoloridos lençóis de seda são a matéria-prima da artista. Estendidos em varais, distensos no chão, cortados e costurados como em uma colcha de retalhos, envolvendo objetos como bandagens ou usados como trouxas de viagem, os lençóis de Soo-Ja intermedeiam as relações entre os homens e entre o homem e a natureza.
"A nossa vida é uma eterna performance com tecidos. Desde o nascimento, somos envolvidos por roupas, e os lençóis são outra maneira de nos vestir. Eles são metáforas para o amor e para os dramas humanos. Eles envolvem as camas, lugar onde se nasce e se morre, se dorme e se ama", disse.
Em seus primeiros trabalhos com tecidos, Soo-Ja costurava pedaços coloridos de tecidos e os fixava em suportes de madeira, criando líricos e formais planos de abstração cromática. O ato de costurar remete ao universo feminino, mas também aos procedimentos de sutura.
No início dos anos 90, a artista começou a costurar esses mesmos tecidos de maneira desorganizada, criando um tipo de estandarte, e a enfiá-los em fendas, como representações de sangramentos e cicatrizes. Também envolveu objetos com tecidos, algo que remetia às bandagens hospitalares.
A partir de 1994, passou a criar instalações e performances com trouxas, em que colocava tecidos e roupas comprados em lojas de segunda mão. Criava assim novos corpos, repletos de memórias alheias. O passo seguinte seria transportá-las pelo país amarradas em um caminhão, na performance itinerante chamada "Bottari Truck".
Soo-Ja Kim estabelece uma verdadeira confusão lírica de linguagens e suportes. Seus trabalhos podem ser vistos como pinturas expressionistas, colagens, esculturas, objetos, bordados, patchworks, instalações, performances.
São também bricolages, varais, ambientes, parangolés, estandartes, definidos assim com uma nomenclatura intimamente relacionada à arte contemporânea brasileira, fato que a levará a estabelecer diálogos com a participação brasileira no evento.
Para a Bienal, que acontece entre 2 de outubro e 13 de dezembro, Soo-Ja pretende trazer seu "Bottari Truck", um caminhão carregado de trouxas com o qual fará, antes da Bienal, uma viagem pelo país, da qual fará um filme.
Também pretende fazer uma instalação em que cobrirá com bandagens parte das colunas do prédio da Bienal. "Não as cobrirei todas para não interferir no trabalho dos outros artistas", disse Soo-Ja Kim, demonstrando um respeito para lá de oriental.



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