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RELÂMPAGOS
Alimentos
JOÃO GILBERTO NOLL
Meu tio parou na porta, o
sol deixando o contorno dele
ondulante. Nunca se sabia
seu próximo passo, se de
aproximação ou afastamento, choque ou titubeio diante
do pão com manteiga que ele
vinha traçar na casa da irmã,
minha mãe. Não havia ninguém por perto dessa vez.
Nem mesmo eu, que pensava
ver alguma coisa, mas que de
fato não via nada, no escuro
do depósito -apenas o cheiro de querosene para o qual
me preparava todas as tardes,
como se fosse o sal que me
faltava sem que eu mesmo
percebesse, ali e em todos os
lugares, feito agora no metrô... Meu tio, ao lado, lembrou que eu não esquecesse
de comer a merenda na escola. Da mochila veio o miasma
de manteiga e, antes que pudesse me nausear, bati a cabeça no seu braço, a cochilar...
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