São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2001

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RELÂMPAGOS
Alimentos

JOÃO GILBERTO NOLL

Meu tio parou na porta, o sol deixando o contorno dele ondulante. Nunca se sabia seu próximo passo, se de aproximação ou afastamento, choque ou titubeio diante do pão com manteiga que ele vinha traçar na casa da irmã, minha mãe. Não havia ninguém por perto dessa vez. Nem mesmo eu, que pensava ver alguma coisa, mas que de fato não via nada, no escuro do depósito -apenas o cheiro de querosene para o qual me preparava todas as tardes, como se fosse o sal que me faltava sem que eu mesmo percebesse, ali e em todos os lugares, feito agora no metrô... Meu tio, ao lado, lembrou que eu não esquecesse de comer a merenda na escola. Da mochila veio o miasma de manteiga e, antes que pudesse me nausear, bati a cabeça no seu braço, a cochilar...


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