São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2001

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O rei do ritmo


Músico Jackson do Pandeiro ganha primeira biografia, 19 anos depois de sua morte



"Coroa de Couro" deve ser lançado em setembro, com correções de "impropriedades" sobre o artista


Folha Imagem
O músico paraibano Jackson do pandeiro com Almira Castilho, sua parceira e primeira mulher


FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA

Títulos não faltaram ao músico Jackson do Pandeiro: rei do ritmo, melhor sanfoneiro de boca do país, mestre da divisão rítmica. Apesar disso, somente 19 anos depois de sua morte surge a primeira biografia para corrigir "impropriedades" e dimensionar a importância histórica do artista.
O lançamento de "Coroa de Couro: Uma biografia de Jackson do Pandeiro", dos jornalistas paraibanos Fernando Moura e Antônio Vicente, está previsto para setembro, pela Editora 34.
"Posso dizer que 99% do que está no livro é novidade para todos nós, porque nunca havia sido feita uma pesquisa sobre Jackson", disse Moura.
De acordo com ele, a biografia corrigirá "impropriedades" divulgadas pela imprensa ao longo dos anos, como o local e a data de nascimento do músico. O jornalista atribuiu essas incorreções ao próprio Jackson que, por ser analfabeto até os 35 anos, fazia confusões principalmente com datas.
"Tivemos um trabalho imenso para desmenti-lo, no bom sentido, por meio de documentos."
Entre os cerca de 200 entrevistados para o livro estão Almira Castilho, ex-mulher e parceira de apresentações e composições, que mora hoje em Recife, e familiares estabelecidos no Rio de Janeiro. Foram reunidas 2.500 fotos, das quais 200 serão publicadas.
A idéia de fazer o livro surgiu em 1992, quando os dois jornalistas estavam fazendo um mapeamento da música produzida na Paraíba. "Vimos que Jackson era referência para quase todos os compositores, músicos e cantores. Como não havia material reunido sobre ele, mudamos o projeto", afirmou Moura.
"O que mais nos surpreendeu durante o trabalho foi a personalidade de Jackson, a maneira como conduziu sua vida, a ajuda que deu aos amigos, os caminhos que percorreu para chegar ao auge da carreira, o carisma pessoal, sua genialidade e simplicidade."
O livro resgata sua infância em Alagoa Grande (PB), cidade onde nasceu; as rodas de coco que frequentava com a mãe, a coquista Flora Mourão, influência determinante para sua carreira, e sua mudança para Campina Grande, aos 13 anos, após a morte do pai, que era oleiro e lavrador.
Até esse momento, Jackson ainda era José Gomes Filho. Primeiro veio o apelido Jack, devido à semelhança com o ator de faroeste norte-americano Jack Perry.
O primeiro emprego em Campina Grande -como aprendiz de padeiro- estava bem longe de qualquer tipo de sonoridade pretendida. Por isso, em pouco tempo, ele largou a padaria e começou a fazer shows em cabarés, clubes e bares da cidade.
Quando começou a se apresentar na rádio Tabajara, em João Pessoa, em 1942, adotou o nome artístico "mais sonoro" de Jackson do Pandeiro. Já fazendo sucesso na região, mudou-se para Recife e começou a trabalhar na rádio Jornal do Commercio, onde formou dupla com a rádio-atriz e futura mulher Almira Castilho.
Apesar da experiência adquirida na boemia de Campina Grande, só em 1953 ele lançou seus primeiros sucessos: "Forró em Limoeiro" e "Sebastiana".
De acordo com os autores do livro, foi o representante da Copacabana Discos em Recife, Genival Macedo, quem indicou o nome de Jackson para a gravadora. "Mas ninguém conseguia convencê-lo a ir ao Rio. Ele tinha medo de avião e da metrópole. Gravou, mas não foi. Depois foi convencido da necessidade de fazer uma turnê no sul, mas só aceitou porque foi de navio", disse Moura.
Mas Jackson e Almira mudaram-se para o Rio e foram trabalhar na rádio Nacional. Com o grupo Os Borboremas, criado em 1958, ele lançou sucessos como "Chiclete com Banana" e "O Canto da Ema". "Chegou a ser recordista de venda nas décadas de 50 e 60 e participou de vários filmes da Atlântida", disse Moura.
Com o sucesso da jovem guarda e do rock norte-americano, sua carreira entrou em declínio. "Passo até cinco meses sem fazer show. Que diabo é isso? Vai ver que o tal do iê-iê-iê derrubou minha arte. E eu sou Brasil: macumba, samba, coco, xaxado, maxixe, tudo é comigo", dizia Jackson.
"Quem tinha um nome, como Jackson, ainda conseguiu se segurar se apresentado em alguns forrós, embora já não tocasse nas rádios. A maioria dos músicos que tocavam samba e forró teve que vender os instrumentos", afirmou Neuza Flores, que viveu com o artista durante 15 anos após sua separação de Almira.
Segundo os autores da biografia, Gilberto Gil teve grande importância no resgate do pandeirista, ao gravar em 1972 o disco "Expresso 222", com regravações de sucessos de Jackson.
"Esse disco é todo influenciado por Jackson, que também foi referência para Alceu Valença, Elba Ramalho, João Bosco e muitos outros artistas", afirmou Moura.
Os projetos dos jornalistas em relação a Jackson não param no livro. Pretendem fazer um memorial do pandeirista em Alagoa Grande, reunindo o material colhido em oito anos de pesquisa.
Jackson morreu em 1982, de embolia pulmonar, depois de fazer um show em Brasília.


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