SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Eu já tinha ouvido falar, mas nunca recebi. Até a semana passada. Estava lá, na minha caixa de entrada, o e-mail vindo de um tal Baba Aminu (babmint@yahoo.com), com a linha de assunto "Introduction" (Introdução).
Escrito num inglês capenga, o sujeito se apresenta como advogado do Union Bank of Nigeria, em Lagos, e propõe sem meias palavras um esquema ilegal de transferência de dinheiro, "confidencial e top secret". É simples: eles querem desviar US$ 30 milhões para sua conta.
O dinheiro, diz Aminu, é uma herança de um milionário britânico que morreu na Nigéria e não tem parentes vivos. "Para evitar que o dinheiro caia nas mãos de administradores corruptos e alimentem mais guerras", você entra na jogada. Pelo "trabalho", fica com 20% do total, 10% serão gastos em despesas e 70% ficam com o advogado e sua turma.
Para justificar a escolha, diz que foi informado sobre sua "honestidade e capacidade de ação num caso como este". Simples, não? Claro que se trata de um golpe (já conhecido como o "golpe da Nigéria"), que nunca existiram os US$ 30 milhões e que só uma pessoa vai se dar mal: você.
Milhares de internautas no mundo inteiro recebem e-mails com esse teor todos os dias. E não é que dá certo (para os golpistas)? Os mais afoitos e ingênuos mandam mesmo todos os dados bancários, com direito a senha e códigos de acesso, que é a exigência principal da mensagem.
Da próxima vez que vão verificar a conta, têm uma surpresa: o dinheiro deles foi todo embora.
O esquema vem se sofisticando, segundo John Kane, do National White Collar Crime Center, ONG bancada pelo Congresso norte-americano que investiga e denuncia fraudes financeiras. O tal e-mail ganhou variantes até mais apelativas, que usam inclusive o ataque terrorista aos EUA de 11 de setembro.
Num deles, o dinheiro a ser transferido já não é mais de um milionário britânico, e sim de um sujeito que levava a quantia numa maleta que iria ser entregue a seus sócios naquela manhã no World Trade Center. Agora, todos pensam que ele está morto, e sua conta vem a calhar.
Outro diz que a quantia foi retirada de um grande traficante afegão por um comando de soldados norte-americanos que combatia o Taleban. "Assim que nós descobrimos um novo teor e denunciamos, eles partem para outro", diz Kane. Os autores? Até agora, a Scotland Yard prendeu dois nigerianos na África do Sul. Mas o esquema continua.